Cubismo: o que é, contexto histórico, características e fases

O cubismo foi um movimento artístico de vanguarda, que teve origem no início do século 20, na França, especialmente em Paris. Confira os detalhes.

Estudar movimentos artísticos é sempre uma maneira interessante de compreender melhor a história da humanidade, inclusive dentro dos recortes sociais e científicos que cada tipo de movimento proporciona. Agora, conheceremos o cubismo.

Esse movimento teve sua origem no começo do século 20 e se manifestou nas obras de grandes artistas, como Pablo Picasso, Georges Braque e Juan Gris.

O que é cubismo

O cubismo foi um movimento artístico de vanguarda, que teve origem no início do século 20, na França, especialmente em Paris. Sua característica mais marcante são as pinturas feitas a partir de representações geométricas, como cubos, cilindros e esferas. Isso proporciona perspectivas diferentes e fora do comum tanto na representação de pessoas quanto de objetos.

O movimento cubista pode ser dividido em três fases (ou em duas, dependendo do enfoque), sobre as quais falaremos mais detalhadamente ao longo deste texto, e que têm a ver tanto com seus artistas quanto com a natureza dos traços e cores utilizados em cada obra.

Arte cubista

Surgido como uma contraposição ao fauvismo, movimento artístico também do início do século 20, mas que trazia uma grande exploração de cores e traços realistas, o cubismo se propôs a mostrar a realidade de uma forma inovadora. Ele trabalhou com cores mais fechadas e sem o uso das técnicas de claro-escuro, que davam a perspectiva de sombras às obras de outros modelos artísticos.

O movimento cubista também utilizou a arte africana como fonte de inspiração, principalmente em relação às máscaras africanas. Isso pode ser percebido nas pinturas humanas dos artistas cubistas, como no quadro “Les Demoiselles d’Avigon” (1907), de Pablo Picasso, com a representação dos rostos inspiradas nessas máscaras. Veja:

Contexto histórico do cubismo

Em relação ao contexto histórico dentro do qual estava inserido, o cubismo trouxe principalmente às pinturas, mas também à literatura, representações da industrialização e da urbanização das cidades, revelando a transformação social típica do início do século 20.

O momento também era calcado pelo conflito entre países imperialistas europeus, que travavam disputas em relação à exploração de países na Ásia e na África. Isso resultou, posteriormente, na Primeira Guerra Mundial.

Ao mesmo tempo, novidades em aspectos de tecnologia, como com o surgimento da aviação e do telégrafo sem fio, também andaram juntas com o desenvolvimento da arte cubista, que explorava todos esses acontecimentos históricos, econômicos, tecnológicos e sociais.

Nomes como os de Sigmund Freud e Albert Einstein também precisam ser mencionados em relação ao contexto histórico. Isso justamente porque ambos revelaram, por meio da divulgação de seus trabalhos, uma forma diferente de pensar e enxergar a humanidade, tanto pela própria teoria da relatividade, de Einstein, quanto pelas descobertas de Freud a respeito do pensamento humano, dividido entre consciente e inconsciente.

Foi em meio a toda essa mudança de perspectiva que o cubismo nasceu, sendo ele mesmo uma nova concepção artística, capaz de não apenas prender a atenção do espectador, mas de provocar sensações e epifanias.

Características do cubismo

Entre as características mais marcantes da arte cubista, temos:

  • Proposta plástica que vai na contra-mão das artes tradicionais ao apresentar traços não lineares e cores mais fechadas;
  • Uso da perspectiva para representar pessoas, objetos e cenários;
  • Utilização de formas geométricas;
  • Representações tridimensionais;
  • Inspiração nos cenários urbanos e na modernização industrial e social do início do século 20;
  • Presença constante de retratos nas telas;
  • Desconsideração pelas técnicas que criavam noções de claro-escuro;
  • Inspiração nas máscaras africanas;
  • Técnicas de colagem e sobreposição de planos, imagens e textos;
  • Representação simples das cenas de natureza;
  • Predominância de cores mais sóbrias e opacas (branco, preto, cinza, ocre, castanho, vermelho escuro, verde escuro etc);
  • Uso de múltiplos pontos de vista;
  • Abolição total da cópia e da arte mimética; incentivo à criação do novo;
  • Não comprometimento com a representação fiel das coisas.

Louis Vauxcelles escreveu um resumo do que seria a pintura cubista quando falou a respeito do trabalho de Georges Braque, na exposição parisiense Salão de Outono de 1908: “Ele despreza tudo, reduz tudo, sítios, figuras e casas a esquemas geométricos, a cubos”.

Fases do cubismo

Já mencionamos anteriormente que o movimento cubista pode ser estudado a partir da sua separação em três fases (alguns teóricos preferem a divisão em apenas duas fases, condensando a segunda e a terceira fase que listamos a seguir).

Cada uma delas tem suas próprias características em termos de predominância de cores, formas e inspirações. Confira:

Fase Cezannista ou Cezaniana

Nesta fase, situada entre os anos de 1907 e 1909, temos o início do movimento cubista, fortemente influenciado pelas obras do artista Paul Cézanne.

As pinturas neste período eram feitas com formas mais simplistas e com o uso de diversos ângulos sobrepostos do mesmo objeto, com a finalidade de criar uma obra conceitual e inovadora.

Fase Analítica ou Hermética

A partir de 1910 e até 1912, temos o cubismo analítico, cujo marco principal é a combinação das obras criadas individualmente por Georges Braque e Pablo Picasso. As obras analíticas são mais focadas no modo plano.

Fase do Cubismo Sintético

Com duração entre os anos de 1913 e 1914, o cubismo sintético passou a utilizar cores mais vivas e marcantes e a retratar formas decorativas. Nesse período, fica mais fácil reconhecer as figuras representadas nas obras cubistas.

Os artistas passam a utilizar técnicas de colagem e sobreposição de imagens e textos — com a intenção de inserir elementos táteis às pinturas, eram colados a elas recortes de jornal, pedaços de madeira, objetos inteiros e fragmentos de vidros para compor as cenas e imagens representadas nas obras dessa fase.

Cubismo e ciência

O começo do século 20 foi marcado não apenas por mudanças sociais, mas também pelo aparecimento de novas tecnologias e pela divulgação de trabalhos revolucionários de grandes nomes, como o já citado Albert Einstein.

Os ramos do conhecimento que envolviam tanto a física quanto a matemática, em especial através da geometria, acabaram repercutindo no imaginário dos artistas cubistas, que pensavam em suas obras como uma forma de retratar novos conceitos, como a representação de hiper poliedros e multidimensionalidade.

Einstein ajudou as pessoas a começarem a entender as noções de quarta dimensão, o que levou os artistas cubistas a explorarem novos conceitos de espaço, fato que pode ser percebido facilmente ao analisar os materiais do período.

Cubismo na literatura

O movimento cubista foi principalmente percebido nas artes plásticas, mas sua influência também chegou às obras literárias. O maior nome quando o assunto é literatura cubista é o do poeta italiano Guillaume Apollinaire, que expressou, em seu trabalho, as principais características do movimento ao criar o que chamamos de poesia visual. Entre as particularidades da literatura e poesia cubistas, temos:

  • Texto elaborado de modo mais formal;
  • Preferência pela impressão tipográfica;
  • Destaque para espaços brancos e pretos em meio às páginas;
  • Uso de metáforas e analogias para incorporar os conceitos de colagem e fragmentação, comuns nas pinturas cubistas;
  • Poesias escritas com versos livres, sem métrica regular e, em alguns momentos, até mesmo sem pontuação;
  • Na escrita sobre a realidade, os autores buscavam explorar diversos pontos de vista;
  • A colagem, típica das pinturas, na escrita se manifestava através da combinação de palavras e/ou orações soltas.

Além do poeta italiano, outros escritores se inspiraram no movimento cubista, entre eles estão Gertrude Stein, Vladimir Maiakóvski e Max Jacob. No Brasil, o poeta, dramaturgo e romancista Oswald de Andrade, que foi um dos responsáveis pela Semana da Arte Moderna de São Paulo, em 1922, sendo um dos nomes principais do Modernismo do Brasil.

Seu poema “Hípica” é um exemplo de texto feito a partir de colagens. Confira:

Saltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis
Os magnatas
As meninas
E a orquestra toca
Chá
Na sala de cocktails

Essas colagens são, na verdade, os fragmentos “soltos” ao longo do poema, sem haver uma ligação entre cada um deles, mostrando uma nova perspectiva através de sobreposições. Como não é pontuado, o poema pode ser lido sem pausas, o que confere justamente um ritmo ligado à corrida de cavalos.

Principais artistas do cubismo

Além dos já citados Pablo Picasso e Georges Braques, outros nomes importantes também se destacam na pintura, na escultura, na literatura e na música cubista. Acompanhe.

Pintura:

  • Pablo Picasso (1881-1973);
  • Georges Braque (1882-1963);
  • Juan Gris (1887-1927);
  • Fernand Léger (1881-1955);
  • Robert Delaunay (1885-1941);
  • Sonia Delaunay (1885-1979);
  • Albert Gleizes (1881-1953);
  • Jean Metzinger (1883-1956);
  • Diego Rivera (1886- 1957);
  • Roger de la Fresnaye (1885-1925).

Escultura:

  • Alexander Archipenko (1887-1964);
  • Pablo Gargallo (1881-1934);
  • Raymond Duchamp-Villon (1876-1918);
  • Jacques Lipchitz (1891-1973);
  • Constantin Brancusi (1876-1957).

Música:

  • Ígor Stravinsky (1882-1971).

Literatura:

  • Guillaume Apollinaire (1880-1918);
  • Jean Cocteau (1889-1963);
  • Oswald de Andrade (1890-1954);
  • Érico Veríssimo (1905-1975);
  • Raul Bopp (1898-1984).

Cubismo de Picasso

O artista espanhol Pablo Picasso foi um dos fundadores do cubismo e, por isso mesmo, é o grande nome quando o assunto é o movimento cubista. As produções de Picasso também são dividas em fase:

  • A primeira é a fase azul (1901 a 1904), quando foi influenciado pela morte de um grande amigo, Casagemas, e trabalhou com a cor azul como forma de demonstrar sua profunda tristeza;
  • A segunda foi a fase rosa (entre 1904 e 1907), quando utilizou sua linguagem artística para expressar erotismo e sensualidade, no ápice de sua paixão por Fernande Olivier.

A partir de 1907, Picasso passou a trabalhar com o cubismo, explorando formas geométricas, cores mais fechadas e se inspirando nas máscaras africanas. O cubismo foi uma forma de o artista romper com tudo o que havia produzido dentro do movimento do Realismo.

Em comparação com sua obra e legado, temos apenas o pintor Georges Braque, com quem Picasso divide o título de “pai do cubismo”.

Cubismo no Brasil

O movimento cubista também repercutiu entre os artistas brasileiros e, além das influências na poesia de Oswald de Andrade, a estética do cubismo chegou com força no país depois da Semana da Arte Moderna de São Paulo, em 1922.

No Brasil, o cubismo não foi explorado “ao pé da letra”, mas muitas de suas características são observadas nos trabalhos de artistas como:

  • Tarsila do Amaral;
  • Anita Malfatti;
  • Di Cavalcanti;
  • Rego Monteiro;
  • Cândido Portinari;
  • Lasar Segall.

Entre as obras cubistas brasileiras mais famosas, estão:

  • As margaridas de Mário (Anita Malfatti);
  • A Estudante Russa (Anita Malfatti);
  • Nu Cubista (Anita Malfatti);
  • O homem amarelo (Anita Malfatti);
  • Estudo (Nú) (Tarsila do Amaral);
  • São Paulo – Gazo (Tarsila do Amaral);
  • Antropofagia (Tarsila do Amaral);
  • Pierrot (Di Cavalcanti);
  • Samba (Di Cavalcanti);
  • Mangue (Di Cavalcanti);
  • Mulher sentada (Rego Monteiro);
  • Pietá (Rego Monteiro);
  • Vendedor de frutas (Rego Monteiro);
  • Figura (Ismael Nery).

Durante uma entrevista ao jornal Correio da Manhã, em 1923, Tarsila do Amaral, ícone da primeira fase do modernismo no Brasil, explicou sua identificação com o cubismo: “Estou ligada a esse movimento que tem produzido efeitos nas indústrias, no mobiliário, na moda, nos brinquedos, nos 4 mil expositores do Salão de Outono e dos Independentes”.

A influência do cubismo nas artes plásticas brasileiras se faz presente, principalmente, pela bidimensionalidade das pinturas e falta de perspectiva plana em suas obras, além, é claro, do uso de formas geométricas para a criação de representações de objetos.

Em relação à escrita, entre os autores brasileiros que usaram elementos cubistas para seus trabalhos a partir da “destruição da sintaxe”, temos:

  • Oswald de Andrade;
  • Raul Boop;
  • Érico Veríssimo.

Curiosidades sobre o cubismo

Os quadros de Picasso estão entre os mais caros de todos os tempos, e “As Mulheres de Argel”, de sua autoria, é a obra mais cara que já foi leiloada na história, arrematada por impressionantes 179,3 milhões de dólares;

  • Os cubistas utilizavam muito uma técnica chamada “rima plástica”, que é quando uma forma geométrica serve para dar continuidade à outra, harmonizando a obra como um todo;
  • O Museu da Arte de São Paulo (MASP) conta com um ótimo acervo de obras cubistas, com pinturas de autores como Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Vicente do Rêgo Monteiro;
  • Pablo Picasso e Georges Braque são os pintores mais importantes do cubismo analítico;
  • Juan Gris e Fernand Legér são os pintores mais importantes do cubismo sintético;
  • O nome completo de Picasso era Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Mártir Patricio Clito Ruíz y Picasso;
  • Picasso produziu, ao longo de 75 anos de carreira, 13.500 pinturas e desenhos, 100.000 impressões e gravuras, 34.000 ilustrações para livros, 300 esculturas e cerâmicas e 300 poemas;
  • Estima-se que mais de 1.100 obras de Picasso foram roubadas.

Vídeos sobre cubismo

O cubismo cézanniano, analítico e sintético

Neste vídeo, do canal Parabólica, temos uma explicação detalhada a respeito das diferentes fases do cubismo e de sua origem, inspirada na obra do pintor Paul Cézanne. Juntamente com as explicações, o professor Pedro mostra exemplos de obras que fazem parte de cada uma das fases.

As rimas plásticas do cubismo

Falamos brevemente neste artigo a respeito das rimas plásticas. Para entender melhor como os artistas cubistas conseguiam criar conexões entre formas geométricas em suas obras, este vídeo, publicado pelo canal da TV Cultura, é um excelente material de apoio.

Picasso e o cubismo

Neste vídeo, temos uma produção feita para analisar a obra do pintor Pablo Picasso em relação ao movimento cubista, criado por ele. É um material excelente para entender melhor tanto a arte cubista quanto sua representação nas obras do grande pintor espanhol.

Conhecer o movimento cubista é importante para quem vai prestar provas, concursos ou fazer o Enem. É fundamental sempre contextualizar os artistas desse estilo em relação ao momento histórico pelo qual passavam e, inclusive, às descobertas científicas de então. Esperamos que nosso artigo tenha sido útil para os seus estudos!

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