Se alguma vez você passeou pela praia, é provável que tenha se sentido tentado a pegar as conchas dispersas na areia. Caso tenha optado por deixá-las onde as encontrou após admirá-las, você agiu corretamente.
Por outro lado, se escolheu levar algumas como lembranças de suas férias, inadvertidamente, removeu um elemento vital do ecossistema marinho.
Por que não é uma boa ideia pegar conchas de praias?
Embora pequenas, as conchas do mar são fundamentais para a natureza. Suas funções vão desde ajudar a prevenir a erosão costeira até fornecer abrigo para diversas espécies marinhas.
Especialistas do Museu de História Natural da Flórida, com foco principalmente em estudos paleontológicos e não ambientais, conduziram uma pesquisa durante mais de quatro décadas para avaliar a quantidade de conchas em um segmento específico do litoral espanhol.
Os dados coletados revelaram uma diminuição de 70% na quantidade de conchas em comparação com a análise inicial de 1978. Paralelamente, o turismo na região experimentou um crescimento de 300%.
“Esta avaliação pode ser mais adequadamente caracterizada como um estudo de caso que investiga o impacto do turismo na perda de conchas e como isso pode influenciar os habitats naturais”, explica Michal Kowalewski, líder da pesquisa, professor de Paleontologia de Invertebrados no Museu de História Natural da Flórida e autor do artigo publicado na revista PLOS ONE.
As consequências do crescimento turístico e a redução no número de conchas podem ter provocado diversas mudanças ambientais ainda incalculáveis.
Por exemplo, ainda não se pode medir com precisão o incremento na erosão costeira, as variações no ciclo do carbonato de cálcio e a redução na biodiversidade e na quantidade de organismos que dependem das conchas para sobreviver.
Além de servirem como refúgio para espécies como o caranguejo-eremita, as conchas marinhas também oferecem proteção para peixes que se escondem de predadores.
Elas são igualmente importantes para a adesão de algas, esponjas do mar, ervas marinhas e uma variedade de microorganismos.
Como as conchas são formadas?
As conchas funcionam como uma armadura para os moluscos bivalves e gastrópodes, protegendo suas partes vulneráveis do dessecamento e predadores. Similarmente aos seres humanos, que possuem células para formar ossos, os moluscos criam suas conchas.
Apesar de parecerem objetos sem vida, elas são essenciais no meio ambiente, sendo principalmente compostas por carbonato de cálcio (CaCO₃), formando cristais incrustados em uma matriz de proteínas e polissacarídeos conhecida como conchiolina.
Os moluscos absorvem cálcio de sua alimentação e do ambiente, transportando-o através do sangue até o manto, que é a parte do corpo responsável por secretar o material da concha, depositando-o em camadas sucessivas.
Já a firmeza das conchas é atribuída a ligações químicas especiais, resultando em três camadas distintas de carbonato de cálcio, cada uma com proporções e cristalizações diferentes. A camada interna, conhecida como madrepérola, é notável por seu brilho iridescente.
Como elas crescem?
O crescimento das conchas é intermitente e depende das condições ambientais e da disponibilidade de nutrientes.
As linhas de crescimento nas conchas são semelhantes aos anéis das árvores, que indicam períodos de adversidade.
Já as cores são determinadas pela espécie e pela dieta do molusco, com pigmentos sendo resíduos metabólicos que se acumulam na carapaça.
Cores uniformes sugerem uma dieta consistente, enquanto variações indicam uma alimentação diversificada.
Esses tons servem principalmente para camuflagem, mas também conferem proteção adicional contra predadores.
Contudo, a coleta destes itens nas praias pode interferir no desenvolvimento de novas conchas, contribuindo para uma tendência de carapaças menores em comparação com o passado.
Essa atitude também pode perturbar o ciclo natural do ecossistema aquático, privando novos organismos de recursos vitais, como o carbonato de cálcio, e afetando a vida marinha.