Uma descoberta paleontológica no Rio Grande do Sul revelou novos detalhes sobre a evolução dos mamíferos.
No município de Dona Francisca, um crânio completo de um cinodonte, antepassado dos mamíferos que viveu há cerca de 200 milhões de anos, foi encontrado em rochas do Período Triássico.
O fóssil, descoberto em 2009, passou por mais de uma década de análises minuciosas, incluindo tomografias de alta resolução, que revelaram características únicas nunca antes observadas.
A pesquisa, liderada pelo paleontólogo Leonardo Kerber, foi publicada na renomada revista The Anatomical Record, destacando a importância do achado para compreender a transição evolutiva entre répteis e mamíferos.
Características da nova espécie
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O crânio é de um cinodonte, um elo entre répteis e mamíferos que viveu antes dos dinossauros. Imagem Ilustrativa – Foto: Reprodução / Pixabay
A nova espécie de cinodonte, identificada como Paratraversodon franciscaensis, foi estudada em detalhes graças a técnicas avançadas de tomografia computadorizada.
Com o uso de um microtomógrafo de alta resolução, os pesquisadores puderam analisar estruturas internas do crânio que não eram visíveis a olho nu.
Isso permitiu a reconstrução tridimensional de cavidades cranianas, fornecendo dados sobre a estrutura do cérebro e a fisiologia do animal.
As análises revelaram características únicas que diferenciam o P. franciscaensis de outros cinodontes conhecidos. Comparações com fósseis de coleções científicas no Brasil, Alemanha e Inglaterra confirmaram que se trata de uma espécie distinta.
Entre as peculiaridades, estão detalhes anatômicos cranianos que sugerem um estilo de vida e uma fisiologia intermediários entre répteis e mamíferos.
O P. franciscaensis era um herbívoro do grupo dos Traversodontidae, com aproximadamente 1 metro de comprimento. Além disso, diferente dos mamíferos modernos, ele não possuía pelos e era ectotérmico, ou seja, tinha “sangue frio”.
Não é um dinossauro
O cinodonte descoberto no Rio Grande do Sul não é um dinossauro, mas sim um ancestral direto dos mamíferos que conhecemos hoje.
Enquanto os dinossauros deram origem às aves, os cinodontes representam um elo evolutivo entre répteis e mamíferos.
Como explicaram os pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), esses animais são como “tataravós” dos mamíferos, incluindo os seres humanos.
Apesar de viverem na mesma época que os primeiros dinossauros, os cinodontes seguiam uma linhagem evolutiva distinta. Eles eram quadrúpedes, com membros laterais semelhantes aos dos lagartos.
Sua aparência, embora próxima à dos mamíferos atuais, ainda mantinha características primitivas, como a ausência de pelos e orelhas externas.
A extinção dos grandes dinossauros, há 66 milhões de anos, abriu caminho para que os mamíferos, descendentes dos cinodontes, prosperassem.
Lar dos dinossauros mais antigos do mundo
A região central do Rio Grande do Sul é reconhecida oficialmente pelo Guinness World Records como o lar dos dinossauros mais antigos do planeta.
A confirmação ocorreu em 2021, após uma análise detalhada das rochas da Formação Santa Maria, que datam de aproximadamente 233 milhões de anos, período correspondente ao final do Período Triássico.
A chave para esse reconhecimento foi a datação das rochas onde os fósseis foram encontrados. Como não é possível datar diretamente os fósseis de dinossauros, os pesquisadores basearam-se na idade das formações rochosas.
A Formação Santa Maria, que se estende de Venâncio Aires até Mata, abrigou espécies como o Saturnalia tupiniquim e o Buriolestes schultzi, entre outros, confirmando a presença de dinossauros em um dos períodos mais remotos da história da Terra.
O título foi conquistado graças a uma petição encaminhada pelo projeto DinOrigin – A Origem dos Dinossauros, liderado por pesquisadores e divulgadores científicos do estado gaúcho.
Após meses de análises e consultas a paleontólogos de renome internacional, o Guinness validou a importância da região, consolidando o Rio Grande do Sul como um dos locais mais significativos para o estudo da origem dos dinossauros.