Saponificação

A saponificação cadavérica é um fenômeno que transforma o cadáver a ponto de conservá-lo da decomposição.

Após a morte é comum que o cadáver passe pelo processo comum de putrefação, isso ocorre através da atuação ativa de bactérias, quando as enzimas, em determinadas situações, geram a desintegração do corpo. A putrefação geralmente acontece em quatro estágios sequenciais: cromático, enfisematoso, coliquativo e esqueletização.

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No entanto, em determinadas situações, é possível que o cadáver não complete as fases transformativas destrutivas, tal  como ocorre na saponificação. Esta é caracterizada por ser um fenômeno do tipo transformativo conservador.

O que é saponificação cadavérica?

A saponificação cadavérica é um fenômeno que transforma o cadáver a ponto de conservá-lo da decomposição. Esse processo acontece de forma espontânea e possui grande importância médico-legal, pois possibilita que vários exames possam ocorrer mesmo certo tempo após a morte.

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Através desse evento os profissionais da área conseguem estudar de forma mais detalhada algumas espécies de lesões, porque a saponificação provoca uma melhor conservação do tecido celular subcutâneo, principalmente nos casos em que a ferida surge devido à atuação de arma de fogo ou arma branca.

Outros ferimentos que melhor podem ser verificados quando o cadáver passa pela transformação da saponificação são as lesões na área do pescoço provocadas por estrangulamento ou enforcamento. Nesse acontecimento é possível verificar certa conservação das vísceras e esse fato é capaz de auxiliar com exames histopatológicos e toxicológicos.

Como surge o processo da saponificação?

A saponificação ocorre após a fase quase avançada da putrefação, no período em que as enzimas bacterianas hidrolisam as gorduras neutras. Desse modo, serão produzidos os ácidos graxos, os quais, em contato com elementos minerais da argila, tornam-se ésteres.

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O processo da saponificação começa depois da sexta semana após a morte do indivíduo. O corpo deve estar em um ambiente com água estagnada e pouco corrente, devendo o solo ser úmido e argiloso, além da dificuldade para o acesso do ar atmosférico nesse local. Esse fenômeno também é variável, a depender de fatores como sexo, obesidade, idade e patologias que causaram a degeneração de gordura. 

Aspecto do cadáver após a saponificação 

Algumas características podem indicar que o cadáver passou pelo evento da saponificação, a saber: 

  • Consistência untuosa, mole e quebradiça;
  • Tonalidade amarelo-escura, que se assemelha a aparência do sabão ou da cera;
  • O corpo do morto emite um odor parecido com o de queijo rançoso.

Divergência dos tecidos que são passíveis de saponificação 

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Ainda existe uma discordância quanto os tecidos que são passíveis de passar pelo fenômeno da saponificação. A dúvida está se ele atinge apenas a gordura normal ou todos os demais tecidos do cadáver.

Uma das teses defendidas pelos pesquisadores é que a putrefação acontece antes da saponificação e isso explicaria a ausência dos músculos. No entanto, existem situações em que a saponificação implica somente com a superfície do corpo. 

Saponificação em cemitérios brasileiros 

O aspecto do solo é capaz de ter grande influência na conservação do cadáver, principalmente se tratando do fenômeno da saponificação. Esse processo foi percebido no Brasil em cemitérios públicos como os de Benguí e Tapanã, em Belém.

Pesquisadores puderam identificar esse evento no cemitério desativado de Benguí, que tem área de 450×600 m², um tamanho visivelmente impróprio para a construção de um cemitério, pois o nível hidrostático é menor a 1,20 m durante o inverno. Logo, esse tipo de configuração permite o acesso de água para dentro das sepulturas. Essa situação chamou a atenção dos pesquisadores, já que o processo de saponificação não se restringiu ao baixo terreno do cemitério.

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Diferente do de Benguí, o cemitério de Tapanã supostamente possui fatores que possibilitariam a presença de um cemitério. Porém, uma avaliação da subsuperfície mostrou a presença em excesso de argila, um aspecto característico da Amazônia. Essa argila possui como fator a impermeabilidade, o que mantem a água da chuva, gerando um enorme bolsão de lama em volta do corpo, resultando então no fenômeno da saponificação. 

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