Enquanto termos integrantes da oração, o objeto direto e o objeto indireto exercem a função de complementos verbais. Portanto, antes de entender como funcionam os objetos, precisamos compreender o que são complementos verbais.
De modo bem simples, os complementos verbais nada mais são do que os termos da oração que completam o sentido dos verbos, estas palavras são necessárias dado que nem todos os verbos têm sentido completo isoladamente.
Em vista disso alguns verbos precisam ser acompanhados de outros termos para que a oração consiga ter um sentido completo e possa ser compreendida pelos interlocutores. Vamos usar um exemplo para que isso fique mais evidente, se temos:
- Paola gosta
Naturalmente perguntamos: “do que” ou “de quem” a Paola gosta? Percebeu? O verbo gostar é um verbo que requer um complemento para que a oração esteja completa e quem ouve ou lê a mensagem possa entender do que a Paola gosta sem precisar deduzir o que ou quem seja.
Por isso, quando temos a seguinte frase “Paulina gosta do Carlos”, qualquer interlocutor, até mesmo aqueles que não conhecem a pessoa das quais estamos falando, poderia entender que esta mulher (Paulina) gosta (ou está interessada) neste homem chamado Carlos.
Percebeu como funcionam os complementos verbais?
Agora, estes complementos possuem diferentes terminologias segundo nossa gramática. São eles: objeto direto e suas variações, objeto indireto e suas variações e complemento circunstancial. Neste artigo vamos abordar apenas os objetos direto e indireto, dado que o complemento circunstancial não é muito recorrente.
Transitividade verbal
Contudo, antes de aprofundarmos nas especificidades do objeto direto e do objeto indireto, precisamos aprender do que se trata a transitividade do verbo. Esse ponto é essencial para que o conceito de complementação seja entendido.
Enquanto existem verbos que podem ser entendidos sem necessidade de complementação, há aqueles que não têm sentido completo em si mesmos.
Aos verbos que são completos em si mesmos damos o nome de verbos intransitivos, uma vez que não precisam de objetos, ou seja, complemento. Observe os exemplos:
- Ontem, Gabriela correu na chuva.
- Joaquim dormiu sozinho pela primeira vez esta noite.
- A criança se levantou do chão.
Mesmo que os termos “na chuva”, “sozinho” e “do chão” modifiquem os verbos “correr”, “dormir” e “levantar-se”, eles não são indispensáveis para completar o seu sentido. Podemos entender as frases completamente e o que os verbos grifados querem dizer antes mesmo do complemento ter sido mencionado.
Para além dos verbos intransitivos, existem os verbos transitivos diretos, estes exigem complementos verbais diretos. Em outras palavras, estes verbos demandam complemento sem preposição. Observe:
- Divino compra pastéis todo domingo.
- As crianças amaram o filme que assistiram no cinema.
- A diretora contou todos os novos projetos da empresa.
Diferentemente dos verbos “correr”, “dormir” e “levantar-se” do exemplo anterior, os verbos “comprar”, “amar” e “contar” exigem complementação para que sejam compreendidos pelos interlocutores ou leitores.
Contudo, estes verbos não demandam o uso de um complemento preposicionado, observe que as palavras “pastéis”, “filme” “todos” não são antecedidas por preposição.
Por outro lado, temos os verbos transitivos indiretos, estes exigem um complemento indireto, ou seja, palavras ou termos acompanhados de uma preposição depois dos verbos. Veja nos exemplos a seguir:
- Depois de todos estes anos, ela ainda se lembra do poema que eu escrevi.
- Estamos precisando de ajuda com a mudança.
- Acredito num mundo melhor para todas as pessoas.
Temos nas orações anteriores os verbos “lembrar”, “precisar” e “acreditar”, todas elas exigem um complemento que seja precedido de uma proposição: “do poema”, “de ajuda” e “num mundo”.
Agora sim, podemos partir para o entendimento do que são os objetos direto e indireto
O que é objeto direto?
O objeto direto nada mais é do que o complemento do verbo transitivo direto. Em outras palavras são complementos que não precisam ser precedidos de preposição para ligarem-se ao verbo a fim de dar a ele sentido.
Ele serve também para indicar o paciente da ação, ou seja, o alvo ou elemento sobre o qual a ação do verbo incide. A fim de encontrar o objeto direto da oração podemos fazer as perguntas “o que” ou “quem” ao verbo. Veja os exemplos:
- As senhoras vendiam quitandas.
- Nós esperávamos a sua chegada na semana que vem.
- Conheci minha melhor amiga na escola.
Na primeira frase fazemos a pergunta “o que as senhoras vendiam?”, então temos um verbo transitivo, ou seja, que precisa de complemento. Como resposta temos “quitandas”, percebemos que o termo não vem acompanhado de preposição, portanto é um objeto direto.
Pratique um pouco, faça as perguntas “o que” ou “quem” para a segunda e terceira oração dos exemplos e encontre o objeto direto delas.
Os termos usados como objetos diretos, na maioria das vezes, são representados por: substantivos, pronomes substantivos, pronomes oblíquos átonos e orações subordinadas substantivas objetivas diretas.
- Substantivo como objeto direto:
- Tiago comeu o sanduíche de atum.
- Meus vizinhos abandonaram o gato na rua.
- Esperei o desfile da Mangueira cheio de expectativas.
- Pronome substantivo como objeto direto:
- Guardei aquela carta durante anos.
- Mesmo que eu fizesse tudo por você não mudaria nada afinal.
- Vendemos este mesmo produto a anos.
- Pronomes oblíquos o(s), a(s), me, te, se, lhe(s), nos, vos e variantes lo(s), la(s), no(s), na(s) como objeto direto:
- Os responsáveis deixam-na sozinha.
- Ela ama-o muito.
- Abraçaram-se demoradamente.
- Oração subordinada substantiva como objeto direto:
- Quero que você seja meu sócio.
- Os funcionários não sabiam que era dia de gratificações.
- Já verificamos que não consta no sistema.
Objeto direto preposicionado
Como aprendemos anteriormente, a regra determina que o objeto direto não precisa de preposição. Apesar disso, existe uma variação do objeto direto é o objeto direto preposicionado.
Nestes casos, a preposição pode aparecer arbitrariamente ou até mesmo de maneira obrigatória, com o propósito de evitar ambiguidades na oração e torná-la mais compreensível ou por uma questão estilística.
A preposição que vem antes do objeto direto pode ser a preposição a, quando ela for ser referir a: substantivo próprio, pronome oblíquo tônico, pronome indefinido, pronome relativo quem, numerais ambos e ambas ou quando se encontra antecipado na frase (construção comum em provérbios). Observe estes exemplos:
- Apanhou a polícia ao ladrão.
Aqui, o uso da preposição “ao” serve para evitar a ambiguidade. Caso ela não tivesse sido usada a frase ficaria: “Apanhou a polícia o ladrão”. Dessa forma, não seria possível de identificar quem havia sido apanhado por quem.
- Pediram a mim e não a ti. (pronome oblíquo tônico)
- Amar a Deus sobre todas as coisas. (substantivo próprio)
- Ofenderam a mim, a Joanae a todas. (pronome oblíquo tônico – substantivo próprio – pronome indefinido)
- Temos um conhecido a quem perguntar isso. (pronome relativo)
- O diretor da empresa contratou a ambas. (numerais)
- Ao paio filho ama. (antecipado na frase)
- Estimo aos meus familiares. (recurso enfático)
Objeto direto pleonástico
Outra variação do objeto direto é o objeto direto pleonástico. Ele é usado a fim de chamar a atenção do interlocutor ou leitor para esse complemento ou intensificá-lo, isso é feito por meio da repetição.
Para fazê-lo, podemos usar o objeto direto no início da oração e em seguida repeti-lo por meio do uso de um pronome oblíquo átono depois do verbo, que será considerado como objeto direto pleonástico da oração. Veja os exemplos:
- Planta, flor e fruto, queria-os perfeitos. (objeto direto vem antes do verbo)
- Aquele filme, assisti-o muito na minha infância.
- Os pedidos, a Marília recebeu-os.
Também pode acontecer objeto diretos em verbos intransitivos, neste caso eles atuam como verbos transitivos diretos:
- Ano passado, no reencontro da família chorei lágrimas de felicidade.
- Durante a madrugada choveu uma chuva fina e constante.
O que é objeto indireto?
Como complemento do verbo transitivo indireto teremos o objeto indireto. Dizer que um verbo é transitivo indireto significa que para integrar o sentido dele, que não é completo em si mesmo, vai ser necessário o uso obrigatório de um complemento precedido de uma preposição.
O objeto indireto serve para indicar o paciente da ação verbal, ou seja, o termo sobre o qual recai a ação do verbo.
Para encontrar o objeto indireto pergunte ao verbo “de quê?”, “para quê?”, “de quem”, “para quem”, “em quem”, outras perguntas também são possíveis, mas estas são as mais comuns. Veja alguns exemplos:
- No próximo feriado iremos para Nova York.
- Entregaram à mãe o presente.
- Lucas gosta de música clássica.
Quando perguntamos ao verbo da primeira frase “para onde iremos no próximo feriado?”, percebemos que o verbo “ir” demanda complemento, logo, transitivo. Repare também que nossa pergunta já começa com uma preposição, então estamos tratando de um complemento preposicionado e, portanto, indireto.
Tente praticar um pouco com as duas outras frases do exemplo anterior, faça as perguntas “de quê?”, “para quê?”, “de quem”, “para quem” ou “a quem” aos verbos.
A maioria das palavras que são usadas como objetos indiretos são representados principalmente por: substantivos, os pronomes oblíquos lhe e lhes e orações subordinadas substantivas objetivas indiretas.
- Substantivo como objeto indireto:
- Nós duvidamos das evidências da investigadora.
- Colocaram a prova todas as teorias.
- O vestibulando respondeu à pergunta da prova de matemática.
- Pronome oblíquo como objeto indireto:
- Enviei-lhes toda as fotos do evento na data combinada.
- Afasta de mim este cálice.
- Ofereceram-lhe uma viagem grátis.
- Oração subordinada substantiva como objeto indireto:
- O líder do movimento necessita de que todos os apoiadores estejam presentes na próxima reunião.
- Toda a família procurou de todas as formas impedir o conflito.
- A professora pediu repetidamente que os alunos prestassem atenção nas aulas de reforço.
Objeto indireto não preposicionado
Assim como pode acontecer do objeto direto ser preposicionado, existem situações em que alguns objetos indiretos apareçam sem preposição.
Isso ocorre quando os termos usados para representá-los são um pronome oblíquo (me, te, lhe, nos, vos, lhes) ou o pronome reflexivo “se”. Isso se deve às variações construídas por esses pronomes: a mim, a ti, a ele, a nós, a vós, a eles e a si.
- A juíza declarou-me inocente das acusações.
- Procurei-vos várias vezes, mas nunca me retornaram.
- Teu amigo deu-te um lindo presente.
Objeto indireto pleonástico
Assim como o objeto direto, o indireto também apresenta a sua variação pleonástica, que tem a função de dar destaque para o objeto indireto.
Para fazer este destaque, haverá uma repetição do objeto indireto que estará no início da oração e será repetido depois do verbo por meio de um pronome oblíquo com a intenção de dar intensidade ao seu sentido. Observe os exemplos:
- As minhas declarações, não lhes dava crédito algum.
- Aos meus pais, dei-lhes muito desgosto.
- Ao chefe, pedi-lhe um aumento.
Objeto indireto X Adjunto adverbial x Complemento Nominal
Gramaticalmente é possível confundir o objeto indireto com adjunto adverbial ou complemento nominal. Então como diferenciá-los e evitar erros?
Antes de entender o que os diferem, vamos entender o que estes termos têm em comum. Os três casos são funções sintáticas desempenhadas por expressões que dependem do termo que vem antes delas na oração, para assim serem classificadas.
Tanto o objeto indireto (OI), como o adjunto adverbial (AA) e o complemento nominal (CN) são iniciados pelas preposições de, a, em, com, por, entre outras. É por conta deste fator, que as torna semelhantes, que elas podem ser confundidas entre si quando fazemos uma análise sintática de cada uma delas numa frase.
Para tornar a questão mais explícita, vamos aos exemplos:
- Desconfiamos das suas motivações. (OI)
- Os atletas de futsal treinaram em Cuiabá. (AA)
- O banco está repleto de investidores. (CN)
O verbo “desconfiar” é transitivo, portanto, para que seu sentido seja completo ele necessita do complemento “das suas motivações”. Fazemos a pergunta “do que desconfiamos?” temos a resposta “das suas motivações”, consequentemente, temos um objeto direto do verbo.
No segundo exemplo, o termo “atletas” é um substantivo que está sendo adjetivado (recebendo uma característica) pela expressão “de futsal”.
Então lembre-se, a função do adjunto adnominal é dar características, determinar e especificar os substantivos abstratos ou concretos. Neste caso a oração obrigatoriamente precisa estar na voz ativa.
Por fim, o verbo “repleto” do último exemplo exerce uma função adjetiva, que é completado pela expressão “de investidores”. Faz-se a pergunta “repleto de quê?”, responde-se “de investidores”.
Então temos um complemento nominal, dado que a expressão completa o sentido do substantivo, mas também poderia ser de um adjetivo ou advérbio. Para este caso a sentença precisa estar na voz passiva.
Núcleo do objeto
Para arrematar o assunto, vamos entender do que se trata o núcleo do objeto direto e do objeto indireto. Considere a palavra núcleo, a partir dela entendemos que estamos falando do que é central, de maior significância e importância em relação ao sentido do objeto. Veja:
- Demos fartas recompensas aos ajudantes.
Quando analisamos a frase, temos a expressão “fartas recompensas” que exerce a função de objeto direto, que é acompanhado de “aos ajudantes” é o objeto indireto da oração.
As palavras grifadas (recompensas e ajudantes) são os núcleos, ou seja, a parte mais significativa dos objetos. Note também, que ao destacarmos os núcleos dos objetos que eles são representados por substantivos (ou palavras com valor de substantivo).
- Por meio daquela barganha, unimos o útil ao agradável.
No exemplo acima, temos “o útil” representa o objeto direto e “ao agradável”, que representa objeto indireto. Os núcleos dos objetos são os termos grifados, neste caso eles são formados por adjetivos substantivados.
- Tudo lhe entreguei, o que mais queres?
Para este exemplo, temos que o pronome “tudo” exerce a função de objeto direto e o pronome “lhe” que desempenha a função de objeto indireto. Desse modo, podemos afirmar que os núcleos grifados na sentença são constituídos por um pronome indefinido e um pronome pessoal do caso oblíquo.
Fechando o assunto, como vimos nos exemplos anteriores, analisamos objetos constituídos de mais dois núcleos, mas pode acontecer que a sentença tenha apenas um único núcleo e objeto ou até mesmo vários. Observe:
- Encomendamos salgados, doces e (três núcleos)
- Gosto de soverter com cobertura. (dois núcleos)
- Jamais amou-me verdadeiramente. (um núcleo)