O uso indiscriminado de remédios já é considerado um fenômeno cotidiano, não só no Brasil, mas no mundo. Os casos se tornam ainda mais comuns quando pensamos em medicamentos quase tidos como “populares”, tais como analgésicos, anti-inflamatórios, antigripais, antialérgicos e outros. Ou seja, as pessoas cada vez mais descartam a possibilidade de solicitar uma prescrição médica, bastando comprar remédios em qualquer farmácia.
Esta prática de consumo de remédios sem orientação de um médico ou outro profissional de saúde qualificado é conhecida pelo nome de “automedicação”. Trata-se do uso de medicamentos mediante conselho de leigos (amigos, familiares, vizinhos, balconista da farmácia etc.). A rigor, estas pessoas, movidas por experiências pessoas até bem intencionadas, na verdade, estão também exercendo uma prática denominada “exercício ilegal da medicina”.
O caso é que nenhum medicamento (incluindo os fitoterápicos) é absorvido pelo organismo impunemente. Um simples analgésico que você toma para aliviar a dor de cabeça pode atingir o seu estômago e iniciar um processo de gastrite, por exemplo.
Uma vez consumido, um remédio irá percorrer basicamente todas as áreas internas do organismo. Será processado no estômago e irá transitar pela corrente sanguínea (no caso de ter sido ingerido). Durante este processo, o remédio poderá afetar diferentes órgãos do organismo, ainda que venha a surtir efeito quanto ao incômodo inicial.
Outro problema que a automedicação pode causar é o mascaramento da real doença que está lhe prejudicando. Certamente, não são poucos os casos de pessoas diagnosticadas com patologias graves que, antes de descobrirem a enfermidade, se “trataram” apenas com medicamentos paliativos (aqueles que atacam determinados sintomas simples, como uma cólica abdominal). Por outras palavras, o fato é: se você toma o analgésico para aliviar a dor de cabeça, pode estar “atrasando” o diagnóstico de um glaucoma ou de uma enxaqueca. Consequentemente, estará retardando o tratamento adequado para a sua patologia.
Outro risco decorrente da automedicação é o acúmulo de remédios nas residências, algo que geralmente mais prejudica do que ajuda o consumidor. Muitas vezes as pessoas não tomam os devidos cuidados de armazenamento desses produtos, atentando para o controle de temperatura, umidade e nem mesmo para os prazos de validade.
Por fim, claro, existe ainda o risco de erro de dosagem e risco de acesso de crianças e/ou animais domésticos a esses remédios.
Abuso e dependência de medicamentos
O limite que costuma definir o que é o uso e o que é o abuso de um medicamento está em dois fatores: dosagem e frequência. O efeito terapêutico, que é o esperado quando você toma um remédio, deve se manifestar mediante o uso apropriado, recomendando pelo médico. A recomendação envolve quantidade e período determinado de tempo (tomar 1 comprimido 2 vezes ao dia por duas semanas, por exemplo).
Já o efeito tóxico ocorre quando você, por conta própria ou seguindo conselho de leigos, aumenta a quantidade do remédio a ser ministrado naquele período de tempo pré-estabelecido ou, ainda, aumenta também este período de tempo.
O efeito tóxico pode causar uma série de transtornos, dependendo da medicação a qual se fez abuso e a quantidade ingerida (dores de cabeça, dores de estômago, enjoo, vômitos, tonturas etc). Há casos em que é preciso procurar um atendimento de emergência para que se faça um procedimento de desintoxicação.
Cuidados no uso de medicamentos
Qualquer medicamento precisa ser utilizado com responsabilidade. E para indicar o remédio certo para o tratamento do que você estiver sofrendo, somente o profissional de saúde (o termo inclui médico, farmacêutico, dentista ou mesmo o veterinário, no caso de animais de estimação) é verdadeiramente qualificado.
O consumo de bebidas alcoólicas pode comprometer o efeito de alguns remédios, como antibióticos. Além disso, pode potencializar determinados efeitos, tais como a ação sedativa e calmante proveniente do consumos de ansiolíticos.
Fique atento quanto ao uso de vários medicamentos ao mesmo tempo. Eles podem causar interações medicamentosas, ou seja, uma reação colateral em que o efeito de um remédio é aumentado ou enfraquecido pela ação de outro. Por isso é importante seu médico saber quais são todos os medicamentos que você está tomando no momento.
É preciso um cuidado ainda maior com administração de medicamentos em crianças, gestantes e idosos, dada uma série de peculiaridades do organismo dessas pessoas, as quais precisam ser levadas em consideração.
Outra recomendação importante é ler a bula do remédio atentamente antes de iniciar o tratamento. Isso porque existem medicações que contém advertências muito específicas nas bulas, como sua não recomendação a gravidas e lactantes ou mesmo possíveis intoxicações no caso de ingestão de determinados alimentos durante o uso do remédio.
A seguir, uma pequena lista de mais alguns cuidados importantes relacionados ao uso de medicamentos:
- Não interrompa ou altere o tratamento sem conhecimento e concordância do seu médico;
- Em caso de intoxicação, procure um hospital com atendimento de emergência, levando consigo a embalagem (ou embalagens no caso de estar tomando mais de um remédio concomitantemente);
- Não aceite indicações de amigos, parentes ou balconistas sobre comprar determinado remédio;
- Não abuse de chás, pois as plantas também podem causar intoxicação e outros efeitos colaterais desagradáveis.