É comum que as pessoas acordem sem se lembrar dos sonhos que tiveram. Historicamente, os sonhos foram interpretados como portadores de mensagens místicas, desde premonições até revelações espirituais.
Na era moderna, a psicologia tem investigado como eles podem refletir aspectos subconscientes de nossas mentes e vivências.
Além disso, a ciência sugere que recordar o que sonhamos fornece pistas sobre a má qualidade do sono, desafiando a noção comum de que essa lembrança clara é sinal de um sono reparador.
Como esquecemos os sonhos?
Um estudo do Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrame dos EUA (NINDS) sugere que isso ocorre devido a um grupo de neurônios responsáveis por eliminar memórias desnecessárias durante o sono.
Esses neurônios, anteriormente associados somente ao apetite, atuam na fase REM do sono, que é quando o cérebro pode consolidar novas informações.
A fase REM acontece cerca de 90 minutos após o início do sono e é marcada por movimentos rápidos dos olhos, aumento da frequência cardíaca, paralisia temporária dos membros e atividade cerebral intensa, período no qual também ocorrem os sonhos.
Em um experimento com ratos, cientistas observaram que as células produtoras do hormônio MCH, que regula o sono e o apetite, são mais ativas durante a fase REM do sono.
Descobriu-se que 52,8% das células MCH são ativadas no REM, enquanto 35% são ativadas quando os ratos estão acordados.
Essas células também parecem enviar sinais inibitórios ao hipocampo, o centro de memória do cérebro.
Os pesquisadores ficaram surpresos ao descobrir que ativá-las durante a fase de retenção de memória prejudica a capacidade de lembrança, enquanto desativá-las melhora a memória.
Eles concluíram que os neurônios MCH podem fazer o cérebro esquecer ativamente informações novas, que podem ser consideradas irrelevantes, e, portanto, pode ser a razão pela qual muitos sonhos são rapidamente esquecidos após o despertar.
O papel do cortisol no que sonhamos
Outro estudo conduzido por Jessica Payne, professora associada e diretora do Laboratório de Sono, Estresse e Memória da Universidade de Notre Dame, explora a conexão entre sono, sonhos e memória.
A pesquisa sugere que o cortisol, um hormônio sintetizado pelas glândulas adrenais, situadas acima dos rins, é fundamental na regulação dos sistemas de memória durante o sono.
Altos níveis de cortisol, comuns à noite e durante o sono REM, podem interromper a comunicação normal entre o hipocampo e o neocórtex, prejudicando a consolidação da memória que depende dessa comunicação.
Isso também influencia o conteúdo dos sonhos. Durante o sono de ondas lentas (SWS), os sonhos refletem a interação usual entre hipocampo e neocórtex, resultando em memórias episódicas.
No entanto, durante o sono REM, os sonhos são baseados apenas na ativação neocortical, o que pode explicar por que são frequentemente fragmentados e bizarros.
Sonhos e má qualidade do sono
Por fim, uma pesquisa publicada na revista Frontiers in Psychology explorou a relação entre uma noite de sono ruim e a baixa frequência de recordação de sonhos.
Na investigação, dois grupos de pessoas propensas e não propensas a lembrar-se dos seus sonhos foram selecionados e as suas características foram analisadas.
Os resultados indicaram que o grupo que se lembrava dos sonhos tinha um padrão de sono mais interrompido e leve em comparação com aqueles que se não recordavam do que haviam sonhado.
Esses padrões estão ligados a uma má qualidade de sono, o que pode acarretar consequências negativas para a saúde a longo prazo.
Com efeito, o hábito de ter noites ruins de descanso pode ser um indicativo de problemas de saúde subjacentes ou de uma higiene do sono inadequada.