Nos habituamos à cor azul, pois ela é um elemento constante em nosso entorno. Vivemos no “planeta azul”, a Terra, onde tanto o céu quanto o mar exibem essa tonalidade.
Contudo, uma análise mais aprofundada revela que o azul é, de fato, uma cor rara e atípica na natureza. Entenda por que isso ocorre a seguir.
Como enxergamos as cores?
Primeiramente, é preciso reconhecer que a cor é a percepção humana da luz, que faz parte do espectro eletromagnético e consiste em fótons.
Fótons são partículas sem massa que se deslocam à velocidade da luz e, dependendo do seu comprimento de onda, alteram nossa percepção da cor.
Os humanos só conseguem visualizar o segmento denominado espectro visível, que abrange cores do vermelho ao violeta, incluindo o azul.
Além do espectro eletromagnético, a estrutura molecular e a química, a cultura também desempenha um papel na maneira como percebemos as tonalidades.
A percepção de cor pode ser influenciada pelo ambiente cultural; por exemplo, existem povos isolados que não distinguem o azul do verde, pois não possuem um termo para “azul” em sua língua.
Em outras palavras, o azul é parte do espectro eletromagnético que percebemos conscientemente, mas a interpretação de sua existência pode variar conforme a cultura.
Por que o azul é raro na natureza?
A história da percepção da cor remonta a 542 milhões de anos atrás, quando os primeiros organismos começaram a discernir a luz, distinguindo apenas entre claridade e escuridão.
Com o desenvolvimento da visão predatória e a capacidade de identificar cores básicas, os organismos tiveram que se adaptar, alterando a cor de sua pele ou pelagem para sobreviver, tornando a cor uma questão de vida ou morte.
Enquanto alguns animais desenvolveram cores para intimidar ou repelir ameaças, a ausência da cor azul nas plantas significava que não havia necessidade de adotar essa cor.
Com efeito, no ambiente natural o azul é geralmente produzido por meios ópticos, não químicos.
Isso significa que, em vez de pigmentos azuis, um efeito óptico é criado por camadas de células que absorvem outras cores, similar à percepção humana.
Desse modo, sua raridade deve-se à dificuldade química de produzi-la naturalmente. Um exemplo disso são as borboletas do gênero Morpho.
Elas possuem nanoestruturas complexas em suas escamas de asas, que manipulam a luz para refletir apenas o azul, cancelando outras cores, conforme apontado por diversos estudos.
Esse efeito semelhante ocorre nas penas do gaio-azul, arara-azul e pavão-azul, nas escamas dos espigões-azuis, e nos anéis cintilantes dos polvos-de-anéis-azuis venenosos.
Nos mamíferos, os tons azuis são ainda mais raros do que em aves, peixes, répteis e insetos.
Algumas baleias e golfinhos têm pele azulada, enquanto primatas como os macacos-dourados-de-nariz-arrebitado apresentam rostos com essa tonalidade.
No entanto, o pelo — característico da maioria dos mamíferos terrestres — nunca é naturalmente brilhante em azul na luz visível.
Curiosamente, o pelo do ornitorrinco brilha em tons vivos de azul e verde quando exposto a raios ultravioleta (UV).
E os ovos, por que alguns são azuis?
Você já notou que certas aves, como o tordo-americano (Turdus migratorius), põem ovos azuis? A explicação para essa cor também está na química.
Os ovos azuis adquirem sua cor devido à biliverdina, um pigmento biliar que pode variar do verde ao azul.
As fêmeas de melro têm altos níveis de biliverdina, que é depositada nas cascas dos ovos durante a formação, resultando na cor azul característica.
A intensidade desse tom nos ovos é um indicador da saúde da fêmea, influenciando os machos a preferirem cuidar dos filhotes de ovos mais azuis.
Além disso, pesquisas sugerem que a cor azul dos ovos tem uma função protetora: ela ajuda a proteger o embrião contra a radiação ultravioleta nociva e absorve os raios infravermelhos, mantendo a temperatura ideal para o desenvolvimento do embrião.