Você já deve ter notado que após um período na água, seja na piscina ou no mar, os dedos das mãos e dos pés começam a enrugar. Apesar de ser uma reação comum, isso intriga muitas pessoas.
Durante muito tempo pensou-se que o aparecimento de rugas após a exposição à água era resultado de um processo de osmose, em que a entrada do líquido na camada mais externa da pele provocava o seu inchaço. Na verdade, esta explicação foi válida até 1935. Mas, não é bem isso que acontece.
Por que os nossos dedos enrugam na água?
Nas últimas décadas, as evidências científicas apontaram outra teoria: tudo parece indicar que as rugas são consequência da vasoconstrição dos vasos sanguíneos sob a pele, que dependem do sistema nervoso autônomo.
Quando a água penetra na epiderme, isso perturba o equilíbrio dos eletrólitos, desencadeando uma mensagem para o cérebro que resulta na contração dos capilares subcutâneos, diminuindo o fluxo de sangue.
Como a camada mais externa da pele tem menos vasos, ela enrugará. Esse processo não é instantâneo, geralmente demorando cerca de 5 minutos para se manifestar e de 15 a 20 minutos para se reverter.
Contudo, esses tempos são aproximados, variando, por exemplo, com a temperatura da água, sendo mais rápido em água quente e menos acentuado na praia em comparação com a piscina.
Dedos enrugados melhoram a aderência
A teoria mencionada acima é respaldada por um estudo publicado na revista Royal Society, que demonstrou que as rugas nos dedos melhoram a manipulação de objetos muito molhados ou submersos.
Participantes da pesquisa pegaram objetos molhados e secos com os dedos enrugados e não enrugados. A análise revelou que com as mãos enrugadas, levava menos tempo (especificamente, 12% menos) para agarrar e mover peças encharcadas.
Entretanto, é importante observar que esse benefício não se aplicava ao manuseio de objetos secos, onde não houve diferença entre ter os dedos enrugados ou não.
Os autores do estudo sugerem que as desvantagens das rugas podem superar os benefícios em alguns casos. Por exemplo, o enrugamento pode levar a uma perda de sensibilidade somatossensorial nas pontas dos dedos ou torná-las mais vulneráveis a danos ao manusear objetos. No entanto, essas hipóteses ainda precisam de um maior aprofundamento.
Outros estudos sobre o fenômeno
Outro estudo documentado no Journal of Hand Surgery analisou o tempo necessário para que a pele das mãos enrugasse após exposição à água. Conforme mencionado na publicação, em água quente, leva aproximadamente três minutos para a pele enrugar, enquanto em água fria, esse tempo é de cerca de cinco minutos.
Além disso, uma pesquisa conduzida em um hospital de Sydney, Austrália, e publicada na National Library of Medicine, observou que esse fenômeno é mais comum em piscinas do que em praias. Todavia, as causas subjacentes desse efeito na água doce ainda não são totalmente compreendidas.
Quando o enrugamento pode ser um alerta?
Apesar desta manifestação ser uma resposta natural do corpo, em casos raros, o enrugamento rápido dos dedos pode indicar uma alteração nos íons ou nas glândulas sudoríparas.
Isso é conhecido como ceratodermia aquagênica, que envolve o espessamento da pele, tornando-a esbranquiçada. Esse sintoma pode ser um indicativo de condições médicas subjacentes, como a fibrose cística.