Em uma surpreendente descoberta cósmica, cientistas que fazem parte do projeto de observação astronômica Zwicky Transient Facility (ZTF), no Observatório Palomar, na Califórnia, foram surpreendidos por uma estrela anã “duas caras”.
Trata-se de uma anã branca, ou seja, um remanescente de estrelas já extintas. Acredita-se que o Sol também passará por esse processo daqui a aproximadamente 5 bilhões de anos, quando, após se transformar em uma gigante vermelha, ejetar suas camadas externas, restará apenas o núcleo, que se contrairá para formar uma remanescente estelar densa.
Os pesquisadores deram o nome de “Janus” a essa estrela recém-encontrada, em homenagem ao deus romano de duas faces, que representa transição e dualidade. Um estudo detalhado sobre ela foi publicado na revista Nature em 19 de julho.
Onde Janus está localizada?
Janus está localizada a mais de 1.000 anos-luz da Terra. Ela possui características únicas, pois gira a cada 15 minutos e tem uma temperatura escaldante de 34.726 graus Celsius, que os pesquisadores determinaram com a ajuda do Observatório Neil Gehrels Swift.
Sua superfície é esférica, porém, de maneira intrigante, parece dividida como uma bola cortada ao meio, exibindo traços de hidrogênio em um lado e hélio no outro. Embora a divisão não seja equilibrada em proporção 50/50, foi suficientemente clara para desconcertar os cientistas.
Anteriormente, eles haviam teorizado sobre uma fase de transição em que os elementos mais leves flutuam para a superfície, enquanto os mais pesados afundam no interior da anã branca. No entanto, essa é a primeira confirmação física desse fenômeno.
Como os cientistas explicam as duas faces da anã branca?
Para explicar o mistério de Janus, os pesquisadores consideraram duas possibilidades. Primeiro, ela pode ter passado por uma fase de convecção, onde os elementos começaram a se misturar devido a certas faixas de temperaturas em que se encontrava.
Em segundo lugar, os campos magnéticos assimétricos podem ter desempenhado um papel crucial, ou seja, um lado da estrela poderia ter campos magnéticos mais fortes do que o outro, influenciando a distribuição de hidrogênio e hélio em sua superfície.
A equipe também especula que esses campos magnéticos assimétricos podem ter criado pressões de gás mais baixas na atmosfera de Janus, possibilitando a formação de um potencial “oceano” de hidrogênio na área onde essas forças são mais intensas.
Busca por mais estrelas de duas caras
Os astrônomos estão otimistas em relação à identificação de mais objetos semelhantes a Janus em pesquisas futuras conduzidas pelo ZTF, pois acreditam que isso abriria caminho para uma classe única de anãs brancas transicionais.
“Ao compreender esses fenômenos celestes peculiares, poderemos lançar luz sobre a evolução espectral dessas estrelas e ampliar nosso conhecimento sobre a física atmosférica desses corpos celestes”, afirmaram os pesquisadores.
À medida que os cientistas continuam a desvendar os mistérios de Janus, sua descoberta servirá como um trampolim para uma compreensão mais profunda do universo, da evolução estelar e da física atmosférica.