Quando uma proposta de redação pede a produção de um texto argumentativo, a primeira coisa que se deve ter em mente é: o texto argumentativo é aquele no qual o autor expressa um ponto de vista por meio da defesa de argumentos, opinião, teoria ou hipótese. O objetivo desse tipo de texto é, portanto, fazer com que o leitor absorva a opinião expressa na redação.
O que é um texto argumentativo?
O texto argumentativo é geralmente feito em terceira pessoa e seu objetivo é mostrar ao leitor um ponto de vista a respeito de algum assunto. Para que esse ponto de vista seja exposto de forma convincente e honesta, o autor usa argumentos válidos, geralmente citando dados, pesquisas, falas de pessoas com autoridade sobre o tema.
É óbvio que, no caso de uma redação de Enem ou concurso, é difícil que o autor tenha acesso a dados específicos, pois a prova não é feita com consulta externa. Nessas situações, a própria proposta de redação serve como apoio argumentativo, uma vez que ela é feita com base em algum trecho de matéria jornalística ou de alguma obra importante sobre o assunto abordado, por exemplo.
Portanto, não é preciso decorar dados e estatísticas para fazer um texto argumentativo – mas o autor precisa ter um bom conhecimento geral dos assuntos para conseguir argumentar, por isso a leitura (literária e de jornais) é tão importante.
Características do texto argumentativo
O tema tratado no texto argumentativo pode ser qualquer um, o que importa é que os argumentos abordados no texto sigam um raciocínio lógico, com base em uma exploração de ideias e opiniões.
A intenção principal do texto argumentativo é convencer o leitor a respeito de um tema. Digamos que a redação deva ser sobre o uso consciente das redes sociais. A partir desse assunto, o autor pode argumentar que as redes sociais são uma ótima ferramenta de estudo e de informação, mas também podem propagar fake news e desencadear comportamentos de vício e de autodepreciação.
A partir desse raciocínio, o leitor é convidado a refletir sobre o impacto das redes sociais na vida das pessoas, seja pelo grande tempo dedicado a elas, seja pelos efeitos nocivos à autoestima. O mesmo texto também deve falar sobre os aspectos positivos das redes sociais, que aproximam pessoas e ajudam a propagar ideias interessantes e conteúdos educativos, por exemplo. Abordar os dois lados e mostrar como diminuir o impacto negativo é uma forma, portanto, de produzir um texto argumentativo.
Seguindo esse raciocínio, percebemos que os argumentos podem ser feitos de formas diferentes – alguns tipos de argumentos são:
- Argumento de autoridade: é a inserção no texto da fala ou opinião de um especialista, que tem autoridade justamente por dedicar seus estudos e/ou profissão dentro do tema abordado.
- Argumento de consenso: esse tipo de argumentação leva em conta um consenso geral e não requer dados ou estatísticas que produzam embasamento teórico.
- Comprovação pela experiência ou observação: é a utilização de dados que comprovam a autenticidade de uma informação.
- Fundamentação lógica: tem a ver com a construção do texto, que deve seguir um modelo de raciocínio lógico, dando coerência aos argumentos.
Estrutura do texto argumentativo
Já que o texto argumentativo tem o objetivo de convencer o leitor a respeito de uma ideia, é fundamental que ele seja construído de forma coesa e coerente, com o uso de bons argumentos. A estrutura ideal de construção do texto argumentativo costuma ir de acordo com a seguinte lógica:
Introdução
No primeiro parágrafo do texto, o autor deve expor o assunto abordado bem como a sua posição sobre esse assunto. A introdução precisa ser bem construída para que consiga prender a atenção para a leitura dos outros parágrafos. Não é recomendado, portanto, iniciar o texto com “achismos” ou de alguma maneira que não apresente o assunto que será tratado no decorrer da redação.
Desenvolvimento
O desenvolvimento é o meio do texto, a parte na qual o autor usa seus argumentos para organizar sua linha de raciocínio. Aqui, se houver dados à disposição, o autor pode usá-los para fundamentar seus argumentos e aprofundar a sua opinião acerca do tema tratado. Em termos de tamanho, o desenvolvimento deve ocupar algo entre dois e três parágrafos.
Conclusão
É na conclusão que a ideia do autor precisa ser fechada, enfatizando seu posicionamento. A conclusão pode ser um espaço no qual o autor sugere uma solução para o problema tratado ao longo do texto.
Voltando ao exemplo usado anteriormente, sobre uma redação a respeito do uso consciente das redes sociais, a conclusão poderia ser um espaço no qual o autor sugeriria uma forma de usar as redes de maneira saudável, verificando as fontes das matérias, para evitar a propagação de fake news, e limitando o tempo de uso, por exemplo.
Em termos gramaticais, é recomendado que o último parágrafo do texto argumentativo use termos conclusivos, como “por isso”, “portanto”, “dessa forma”, “logo”, “assim sendo”.
Como fazer um texto argumentativo?
É muito comum que as propostas de redação tragam informações que podem servir como base na hora da construção do texto. Utilizar essas informações é sempre uma ótima maneira de embasar argumentos e opiniões sobre o tema.
Além disso, seguir a estrutura básica de introdução, desenvolvimento e conclusão é fundamental para que o texto produzido seja coerente e cumpra os requisitos de argumentação. O uso da norma-padrão da língua portuguesa é essencial.
Uma forma de criar textos com argumentos melhores e demonstrar conhecimentos gerais é, sem dúvida, a prática diária de leitura. O ideal é consumir matérias de jornais diversos e estar a par dos acontecimentos gerais sobre política, educação, saúde, segurança, cultura, economia, meio ambiente, esportes e acontecimentos mundiais.
Dessa forma, o autor terá mais critérios para fundamentar seus posicionamentos, mostrando que tem bons embasamentos sobre conhecimentos gerais e que consegue, mesmo sem ser especialista sobre o assunto abordado, contextualizar suas posições, o que melhora consideravelmente a qualidade do texto argumentativo.
Dicas para fazer uma boa argumentação
Os argumentos do autor devem ter algum embasamento, mesmo que não citado diretamente no texto. Por exemplo: se o tema for cuidados com o meio ambiente, o embasamento do autor pode estar no fato de que já existem mudanças climáticas acontecendo devido ao aquecimento global.
Nesse exemplo, seria errado usar “achismos” comuns sobre o tema e, inclusive, negar a existência do aquecimento global ou de algum outro fenômeno que seja sabidamente comprovado.
Quando for expor uma opinião, o autor precisa falar sem parecer prepotente, mas usando ideias sensatas, mostrando os dois lados de uma situação.
É interessante reler o texto e tentar enxergá-lo pelo ponto de vista do leitor. Isso gera empatia e facilita a escrita, a fim de que o leitor consiga percorrer o texto sem ficar entediado ou chateado de alguma maneira.
A “costura” das informações dentro da redação também é essencial. Antes de escrever o texto, o autor pode reunir suas ideias em um esquema simples, de modo a deixá-las coerentes e bem relacionadas.
Exemplo de texto argumentativo
O texto a seguir recebeu nota máxima no Enem de 2018:
A obra musical “Admirável Chip Novo”, da cantora Pitty, retrata a manipulação das ações humanas em razão do uso das tecnologias, que findam por influenciar o comportamento dos indivíduos. Não obstante, tal questão transcende a arte e mostra-se presente na realidade brasileira através da filtragem de dados na internet e sua utilização como ferramenta de determinação de atitudes, consequência direta do interesse do mercado globalizado e da vulnerabilidade dos usuários. Assim, torna-se fundamental a discussão desses aspectos, a fim do pleno funcionamento da sociedade.
Convém ressaltar, a princípio, o estabelecimento do comércio virtual e sua contribuição para a continuidade da problemática. Quanto a esse fator, é válido considerar a alta capacidade publicitária da web, bem como sua consolidação enquanto espaço mercantil – possibilitador de compra e venda de produtos. Sob esse aspecto, o célebre géografo, Milton Santos, afirma a existência de relação entre o desenvolvimento técnico-científico e as demandas da globalização, justificando, assim, a constante oferta de conteúdos culturais e comerciais que podem ser adquiridos pelos usuários, de modo a fortalecer o mercado mundial e o capitalismo.
Paralelo a isso, a imperícia social vinculada ao déficit em letramento digital fomenta a perpetuação do impasse. Nesse viés, as instituições educacionais ainda não são eficazes na educação tecnológica, por não contarem com estrutura profissional e material voltado ao tema. Ademais, a formação de indivíduos vulneráveis possibilita a ação do mecanismo que pode transformar comportamentos, tornando-os passíveis de alienação. Essa conjuntura contraria o Estado proposto pelo filósofo John Locke – assegurador de liberdade -, gerando falsa sensação de autonomia e expondo internautas a um ambiente não transparente, em que decisões são previamente programadas por outrem.
Em suma, faz-se imprescindível a tomada de medidas atenuantes ao entrave abordado. Posto isso, concerne ao Estado, mediante os Ministérios da Educação e Ciência e Tecnologia, a criação de um plano educacional que vise a elucidar a população quanto aos riscos da navegação na rede e à necessidade de adaptação aos novos instrumentos digitais. Tal projeto deve ser instrumentalizado na oferta de aparelhos tecnológicos às escolas, para a promoção de palestras e aulas práticas sobre o uso da tecnologia, mediadas por técnicos e professores da área, objetivando a qualificação dos usuários e a prevenção de casos de manipulação de atitudes. Dessa maneira, o Brasil poderá garantir a liberdade de seus cidadãos e o Estado lockeano poderá ser consolidado.”
Rylla Lídice Varela de Melo, 19 anos, de Ipanguaçu/RN
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