Nascido em Cuiabá, Mato Grosso, em 17 de abril de 1917, Roberto de Oliveira Campos é considerado até hoje uma das figuras mais célebres da nossa economia e política.
Economista de formação, professor, escritor e diplomata, Campos era, como poucos, detentor de um currículo admirável. Principalmente se considerarmos esta afirmação dentro da classe política em geral.
Despediu-se da vida aos 84 anos deixando um legado de enorme prestígio no cenário nacional. Vale lembrar que, dois anos antes de seu falecimento, seria honrado com a ocupação da Cadeira 21 da Academia Brasileira de Letras, lugar outrora ocupado pelo poeta Dias Gomes.
Origem
Roberto Campos era filho de pai professor e mãe costureira. Casou-se com dona Stella com quem teve três filhos e já na década de 30, mais precisamente no período entre 1934 e 1937, formou-se em Filosofia e Teologia, nos Seminários Católicos das cidades de Guaxupé e Belo Horizonte.
Dois anos depois ingressou no Serviço Diplomático Brasileiro, por meio de concurso público. Foi nomeado Cônsul de terceira classe em Washington, onde obteve alguns dos diversos títulos internacionais que conquistou na área da Economia.
Entre todos os títulos conseguidos, destacam-se os de: Mestrado em Economia pela Universidade George Washington, Washington D. C. Estudos de pós-graduação na Universidade de Columbia, Nova York; Doutor Honoris Causa pela Universidade de Nova York, NY, 1958; e Doutor Honoris Causa pela Universidade Francisco Marroquim, Guatemala.
Vida profissional
Como representante do nosso país, fez parte da Delegação brasileira no famoso acordo pós-guerra conhecido como Acordo de Breton Woods.
Trata-se da reunião de caráter econômico entre países da Europa e Américas cujo objetivo maior era implantar um cenário de economia favorável aos envolvidos. Como resultados desse acordo podem ser destacados a criação das instituições: Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial.
Pouco tempo depois, fez parte da assessoria do então presidente em exercício, Getúlio Vargas. Presidiu por certo tempo, na era Kubitschek, o BNDES e, logo depois, no governo Castelo Branco, ocupou os cargos de deputado federal e senador.
Perfil político e profissional
Talvez pela formação econômica e, também pela experiência adquirida no exterior, Roberto Campos, se avaliado fosse aos dias de hoje, seria considerado um representante de direita moderada.
Um homem que tinha em mente pensamentos como as reformas da Constituição, da Previdência Social, fiscal e partidária, além de ferrenho combatente da estatização do Estado.
Foi criador de benefícios como o FGTS (Fundo de Garantia por tempo de Serviço), Caderneta de Poupança e o Estatuto da Terra. Este último até hoje é visto como uma das possíveis soluções (desde a década de 1970) para inúmeros conflitos de cunho econômico envolvendo questões de fomento agrícola e reforma agrária.
Além do perfil profissional inovador e futurista para a época, Campos tornou-se muito conhecido por suas célebres frases de cunho político, grande parte delas em tom irônico, sarcástico.
Porém, mesmo em tom de ironia, boa parte delas tratava de ferozes críticas aos direcionamentos políticos que discordava, por exemplo, as diretrizes do dirigismo estatal. Tanto que algumas biografias sobre ele traduzem-no como alguém que era “juiz de si mesmo”.
Roberto Campos – escritor
O economista foi autor de vários livros, tendo publicado o primeiro em 1963, chamado Economia, planejamento e nacionalismo.
Boa parte dos temas escolhidos era direcionado à área da economia, porém, alguns dos que escrevera, principalmente na década de 90, eram reflexos de experiências pessoais, ou, mesmo, a visão própria que tinha dos cenários políticos em questão.
Um dos mais famosos e comentados de sua carreira foi, justamente, o antepenúltimo livro, a ser lançado com título A lanterna na popa (1994).
Dispostos em ordem cronológica, seus livros publicados são:
- Economia, planejamento e nacionalismo (1963);
- Ensaios de história econômica e sociologia (1964);
- A moeda, o governo e o tempo (1964);
- Política econômica e mitos políticos (1965);
- A técnica e o riso (1967);
- Reflections on Latin American Development – University of Texas Press (1967);
- Do outro lado da cerca (1968);
- Ensaios contra a maré (1969;
- Temas e sistemas (1970);
- Função da empresa privada (1971);
- O mundo que vejo e não desejo (1976);
- Além do cotidiano (1985);
- Ensaios Imprudentes (1987);
- Guia para os perplexos (1988);
- O século esquisito (1990);
- Reflexões do crepúsculo (1991);
- A lanterna na popa (Memórias) (1994);
- Antologia do bom senso (1996);
- Na virada do milênio (Ensaios) (1998).
Algumas frases famosas de Roberto Campos
“Eu acreditava muito nos mecanismos governamentais, mas eles têm células cancerígenas que crescem incontrolavelmente. Há algo de doentio na máquina estatal. A experiência de jovem me tornou cético para as reais possibilidades do Estado.”
“É excelente ser bem falado na saída. Melhor do que ser bem recebido na entrada.”
“Mais importante que as riquezas naturais são as riquezas artificiais da educação e tecnologia.”
“Fui um bom profeta. Pelo menos, melhor que Marx. Ele previra o colapso do capitalismo; eu previ o contrário, o fracasso do socialismo.”
“A inflação é um monstro brutal e cruel que tortura particularmente os assalariados. Infelizmente, é impossível controlá-la por simples tabelamento de preços e punição dos especuladores.”
“No meu dicionário, ‘socialista’ é o cara que alardeia intenções e dispensa resultados, adora ser generoso com o dinheiro alheio, e prega igualdade social, mas se considera mais igual que os outros…”
Roberto Campos faleceu no dia 09 de outubro de 2001. Até hoje é respeitado pelo imenso legado de contribuição ao cenário político e econômico nacional.
Por Alan Lima