O princípio
Os primeiros passos do movimento que ficou conhecido como Realismo, datam da segunda metade do século XIX. Atribui-se como sua filosofia principal a defesa da objetividade, moderação de formas de sentimentalismo e visão mais científica.
Logo após a febre da literatura romântica, houve uma inclinação maior para os pensamentos científicos, através do movimento denominado Renascimento.
Embora antes desse período já se defendesse algumas teorias do que seria o esboço do movimento realista, o pensamento como doutrina específica começou a se impor a partir de 1850, tendo como precursores o escritor Gustave Flaubert (1821 – 1880) e o artista plástico, Gustave Courbet (1819 – 1877).
O movimento estava sendo moldado de forma a superar a tradição clássica e romântica, e ainda temas de origem histórica, mitológica e religiosa.
Coubert, em 1850, traria à exposição três grandes clássicos de sua obra, Enterro em Ornans, Os Camponeses em Flagey e Os Quebradores de Pedras, marcando assim seu compromisso com o programa realista.
O pintor, como grande simpatizante das posições anarquistas de Proudhon, teve participação decisiva durante a Comuna de Paris, e por esta razão, tornou-se impossível desvincular suas escolhas políticas de suas decisões estéticas.
É muito importante ressaltar que as expressões realistas de suas obras serviriam de inspiração a sucessivos artistas, inclusive contemporâneos, perpetuadores do movimento.
Yves Klein (1891-1969), na França dos anos 60, trouxe um novo conceito em telas monocromáticas ao qual foi chamado de Novo Realismo e Nova Objetividade.
Fora do país, o russo Naum Gabo (1890-1977) define seu manifesto como realista a partir de 1920.Além deste, podemos citar o alemão Grosz (1893 1959), os ingleses John Millais, William Holman e Dante Gabriel Rossetti entre outros que se tornaram figuras importantes do cenário realista do final do século XIX para o início do século XX.
Da França para o mundo – O Realismo em Portugal
O Realismo lusitano seria marcado pela Questão coimbrã, também conhecida como Questão de Bom senso.
Publicada em jornal no ano de 1865, suas ideias eram defendidas pelos que se tornariam precursores do movimento realista no país, Antero de Quental, Teófilo Braga e Vieira de Castro, cujos pensamentos iam totalmente de encontro aos literatos considerados românticos que tiveram como maior representante Feliciano de Castilho.
Os realistas, na ocasião foram considerados pela oposição como “exibicionistas e de propositada obscuridade”, porém seus pensamentos eram de caráter renovador, buscando a independência de novos autores e a modernização na própria forma de se escrever e desenvolver as novas obras literárias que surgiriam.
O grupo envolvido na Questão Coimbrã resolvera se reunir em Conferências democráticas onde pretendia discutir reformas para as letras lusitanas, também buscando propostas de ligar Portugal ao movimento, que já era bastante forte noutras partes da Europa.
Além disso, buscava tratar de questões como Filosofia, Ciência moderna, política, economia e até mesmo aspectos religiosos da sociedade portuguesa.
Eça de Queirós também foi um grande representante do movimento, principalmente quando em 1871 profere um discurso sobre o Realismo como nova expressão de arte.
Com características de pensamento bem fiéis ao movimento original nascido na França, o Realismo português, buscando interação com aspectos científicos, defendeu as teorias de pesquisadores como o químico Berthelot, o biologista Pastheur e o grande evolucionista, Charles Darwin.
Esta nova estética ocasionou uma grande transformação na sociedade com amparo às novas tecnologias.
Todas as invenções e descobertas de caráter tecnológico como o telégrafo, máquinas a vapor, luz elétrica, e até mesmo o telefone de Graham Bell, foram significativos na atenção dispensada para novos olhares científicos à literatura.
Além dos aspectos tecnológicos, Augusto Comte com sua teoria chamada de positivista, foi grande responsável por levantar e dar destaque também aos aspectos sociológicos.
Dentre as muitas obras de grande destaque da literatura realista lusitana, podemos citar como alguns grandes clássicos, O crime do Padre Amaro e Primo Basílio de Eça de Queirós, Sonetos de Antero e Primaveras românticas de Antero de Quental, Cidade do vício e o país das uvas de Fialho de Almeida, O anti-cristo e o Fim do Mundo de Gomes Leal.
Realismo no Brasil
O movimento realista no Brasil começa a se desenvolver a partir do período de decadência econômica da produção açucareira e o crescimento de prestígio dos estados da Região Sul do país.
Já havia certo descontentamento da classe considerada burguesa na época, o que facilitaria a absorção dos ideais abolicionistas e republicanos.
O movimento de ordem contrária ao regime monarquista, no ano de 1870, fundou o Partido Republicano, que objetivava lutar em favor da erradicação do trabalho escravo trocando por mão de obra imigrante.
Nesse ínterim, tal como foi os ideais realistas lusitanos, as ideias de Comte, Darwin, e depois, Spencer e Haeckel, foram de grande inspiração para intelectuais brasileiros.
Os pensamentos científicos sobrepujariam as ideias de concepção espiritualista, peculiares do período conhecido como romântico.
Dessa forma, os adeptos ao movimento voltavam suas concepções de estudo para elucidar ou mesmo tentar explicar o universo através da ciência, consolidando-as por meio das teorias do darwinismo, cientificismo e naturalismo.
Um dos idealizadores e grande divulgador do pensamento realista foi Tobias Barreto, Jurista, poeta e filósofo, precursor do movimento filosófico conhecido como Escola de Recife.
O período realista no Brasil teve seu auge entre o final de 1870 até o início do século XX.
Nesse período, tanto o Realismo quanto o Naturalismo criaram força, principalmente com o surgimento de grandes obras primas literárias como Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e O Mulato, de Aluísio Azevedo.
Com características literárias inspiradas nas obras do português Eça de Queirós, contemporâneos a Machado e Aluísio, uma nova estética surgiria por meio das obras Canaã (1902) de Graça Aranha e Os sertões, de Euclides da Cunha. Nascia então o período conhecido como Pré-Modernismo, sucessor do aqui bem sucedido movimento realista.