Estudar literatura e gêneros literários é algo complexo e que exige tempo e dedicação, por isso é interessante dividir o assunto em tópicos, para que a compreensão do conteúdo seja mais natural. O poema faz parte do gênero lírico, cujo intuito é expressar as emoções e os sentimentos de um eu lírico ou eu poético, que é a figura fictícia por trás da voz poética.
O que é poema?
Como está classificado dentro de um gênero literário, não se pode separar poema de literatura, estilo artístico que usa a palavra como base para a sua expressão. Os textos literários não precisam ser escritos com base em objetividade, factualidade ou seguindo as regras semânticas e de sintaxe.
Ao escrever um poema, o autor pode fazer uso livre das palavras, explorando suas características de musicalidade e apelando à face poética da linguagem. A principal finalidade do poema é, além de transmitir emoções e sentimentos, provocar no leitor diversas sensações relacionadas com a temática abordada ao longo dos versos.
A definição do poema enquanto gênero literário leva em conta características singulares, o que torna sua identificação mais fácil e intuitiva com o passar do tempo. Além da estrutura básica formada por versos e estrofes, há poemas em prosa e também poemas relacionados com a linguagem visual.
Características do poema
A maioria dos poemas são formados por versos – cada verso é uma linha do poema escrito, e um grupo de versos é chamado de estrofe.
As características principais do poema levam em conta elementos como verso, métrica, estrofe, rima e ritmo. Veja:
Verso e métrica
A métrica é a medida dos versos utilizados para a construção de um poema. Essa medida é feita de acordo com as sílabas das palavras, resultando nas seguintes classificações:
- Monossílabo: verso com uma sílaba poética
- Dissílabo: verso com duas sílabas poéticas
- Trissílabo: verso com três sílabas poéticas
- Tetrassílabo: verso com quatro sílabas poéticas
- Pentassílabo: verso com cinco sílabas poéticas
- Hexassílabo: verso com seis sílabas poéticas
- Heptassílabo: verso com sete sílabas poéticas
- Octossílabo: verso com oito sílabas poéticas
- Eneassílabo: verso com nove sílabas poéticas
- Decassílabo: verso com 10 sílabas poéticas
- Hendecassílabo: verso com 11 sílabas poéticas
- Dodecassílabo ou Alexandrino: verso com 12 sílabas poéticas
Tipos de versos
Os versos também são divididos em categorias:
- Versos regulares ou isométricos: são os que têm a mesma medida;
- Versos livres ou heterométricos: são aqueles com medidas irregulares, diferentes;
- Versos brancos ou soltos: podem apresentar padrão de métrica, mas não de rima.
Tipos de estrofes
- Dístico: dois versos;
- Terceto: três versos;
- Quadra ou quarteto: quatro versos;
- Quinteto ou quintilha: cinco versos;
- Sexteto ou sextilha: seis versos;
- Sétima ou septilha: sete versos;
- Oitava: oito versos;
- Novena ou nona: nove versos;
- Décima: 10 versos.
Tipos de rimas
- Externa: com sons parecidos ao fim de diferentes versos;
- Interna: a rima existente entre a última palavra de um verso e uma palavra interior do verso seguinte;
- Rica: a rima entre palavras classificadas em diferentes classes gramaticais;
- Pobre: a rima entre palavras da classe gramatical;
- Emparelhada: AABB;
- Alternada ou cruzada: ABAB;
- Interpolada ou oposta: ABBA;
- Mista: outro tipo de combinação, como ABACD;
- Aguda: é a rima em meio a palavras oxítonas ou monossílabas tônicas;
- Grave: entre palavras paroxítonas;
- Esdrúxula: entre palavras proparoxítonas;
- Perfeita, soante ou consoante: a rima com equivalência completa de sons;
- Imperfeita, toante ou assoante: sem equivalência completa de sons.
Recursos estilísticos poéticos
Os poetas, que são as pessoas que escrevem poemas, costumam utilizar alguns recursos estilísticos na hora de pensar nos versos e estrofes. O mais comum deles são as figuras de linguagem, que se manifestam por meio de: hipérbole, metáfora, antítese, prosopopeia, anáfora, aliteração, sinestesia, onomatopeia, paronomásia etc.
Cantiguinha – Poema de Cecília Meireles
Brota esta lágrima e cai.
Vem de mim, mas não é minha.
Percebe-se que caminha,
sem que se saiba aonde vai.
Parece angústia espremida
de meu negro coração
– pelos meus olhos fugida
e quebrada em minha mão.
Mas é rio, mais profundo,
sem nascimento e sem fim,
que, atravessando este mundo,
passou por dentro de mim.
Na estrofe final, podemos perceber o uso de hipérbole, uma figura de linguagem que usa o exagero para expressar sentimentos.
O relógio – Vinícius de Moraes
Passa, tempo, tic-tac
Tic-tac, passa, hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa, tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Tic-tac…
Neste exemplo, podemos ver a aplicação da onomatopeia, uma figura de linguagem que reproduz sons feitos por animais, pessoas, objetos etc.
Tipos de poema
Com base no teor do poema, ele pode ser classificado em:
- Poema lírico: é o que tem cunho subjetivo e sentimental, como no caso dos sonetos.
- Poema dramático: é aquele cujo intuito é a encenação, como no caso das farsas.
- Poema épico ou narrativo: são as construções que contam com a imagem de heróis, como as epopeias.
Algumas classificações incluem também outros tipos de poemas, como os eróticos, sociais e satíricos.
Como se faz um poema
Ao produzir um poema, é fundamental que o autor escolha entre os tipos de poemas existentes: épico, dramático ou lírico.
A criação de uma narrativa é fundamental para poemas épicos e dramáticos, o que significa que será necessário envolver personagens e contextualizar a história contada nos versos. No caso do poema épico, o narrador também precisa ser definido de acordo com a sua participação na cena: observador (que apenas vê), personagem (que participa) ou onisciente (que vê e participa).
Se o poema for lírico, o elemento principal a ser focado no momento da produção é o sentimento primordial, a maior emoção ou a grande ideia de quem escreve.
Caso você decida escrever um poema com versos regulares ou brancos, é preciso que as palavras sejam medidas conforme suas sílabas, como foi explicado anteriormente no tópico sobre verso e métrica. É necessário, ainda, que as rimas sejam trabalhadas de acordo com as classificações do item “tipos de rimas”.
Os poemas de versos livres, no entanto, não necessitam desse cuidado com métricas e rimas, mas o assunto deve ser capaz de captar a atenção do leitor e despertar sentimentos e emoções.
Confira mais algumas dicas:
- A contagem das sílabas dos versos deve parar na última sílaba tônica: “De-le- se en-can-te- mais- meu- pen-sa-men-to” – o verso de Vinícius de Moraes tem, portanto, dez sílabas poéticas.
- Quando a última sílaba de uma palavra acabar com uma vogal e a primeira sílaba da próxima palavra iniciar com som de vogal, as duas sílabas são unidas na contagem, passando a ser consideradas somente uma. No exemplo acima, vemos isso em “De-le se en-can-te”.
- Poemas mais simples costumam ser feitos em redondilha, que usa versos de cinco a até sete sílabas poéticas.
- Poemas épicos costumam ser escritos em decassílabo ou dodecassílabo.
- Um mesmo poema pode ter mais de um tipo de rima.
- Considerando todas as regras e os padrões, podemos perceber que é preciso conseguir ajustar o conteúdo à forma. Para que essa habilidade esteja mais bem treinada, além de tentar escrever poemas é fundamental lê-los com frequência.
- O poema com versos livres pode parecer mais simples de ser construído, mas, justamente devido ao seu formato mais descomplicado, o conteúdo precisa ser ainda mais interessante.
Um dos tipos considerados mais difíceis de poemas é o soneto, escrito sempre em dois tercetos e dois quartetos. Veja um exemplo de soneto:
Nel Mezzo De Camin… – Olavo Bilac
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha…
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje, segues de novo… Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.
Diferenças entre poema e poesia
Poesia é uma característica subjetiva da arte e que pode estar relacionada não apenas a poemas, mas também a pinturas, músicas, ilustrações, romances etc. Uma obra de arte famosa, como “Carnaval em Madureira”, de Tarsila do Amaral, tem poesia mesmo sendo uma pintura e não um poema.
A poesia, nesse caso, tem a ver com a subjetividade, com as sensações e emoções que a obra de arte provoca em quem a vê, mesmo que ela não utilize palavras, versos e estrofes. Podemos dizer que a maioria dos poemas é poesia, mas nem toda poesia é um poema.
Entre os tipos de poesia, temos:
- Literatura
- Fotografia
- Arte urbana
- Pintura
- Ilustração
- Músicas
- Arquitetura
- Escultura
- Peças publicitárias.
Vídeos sobre poemas
abaixo, confira vídeos com explicações para fixar melhor seus conhecimentos:
Poema e Poesia: Qual a diferença?
Neste vídeo, o professor Fagner Araújo fala sobre as definições de poema e explica a diferença entre esse estilo literário e a poesia. Uma excelente revisão do conteúdo trabalhado neste artigo, com exemplos que ajudam a compreender melhor cada definição.
LP – Poema: Estrutura
Aqui, o professor Nelson Jr explica detalhadamente as estruturas do gênero textual poema, recapitulando as definições de estrofes, versos, e eu lírico – tudo isso com ótimos exemplos também.
Como escrever poemas melhores – 3 dicas práticas
Neste vídeo, Wlange Keindé dá dicas valiosas para quem quer escrever poemas, reforçando a importância do trabalho estético na hora da escrita e explicando, por exemplo, como deve ser a criação de rimas interessantes e a importância da musicalidade em cada poema.