Uma das maiores riquezas da cultura nacional são, sem dúvidas, as Lendas do Folclore Brasileiro. Repletas de mitos complexos e encantadores, as lendas do folclore existem graças ao imaginário popular que, ao longo dos séculos, propagou histórias fantasiosas e com significados que nos encantam até hoje.
Grande parte das lendas folclóricas que conhecemos até hoje foi criada por povos indígenas, mas algumas delas acabaram sendo influenciadas por mitos dos colonizadores portugueses e dos povos africanos que foram trazidos ao Brasil no período da escravidão. Confira um resumo das principais lendas do folclore nacional a seguir:
Lenda do Saci Pererê no folclore brasileiro
Essa é uma das lendas do folclore brasileiro mais populares, e a história do menino espoleta é frequentemente retomada em diversas obras de ficção, como no aclamado “Sítio do Pica-pau Amarelo”, de Monteiro Lobato.
Originária dos povos indígenas Tupi-Guarani, a lenda do Saci Pererê conta a história de um garoto negro, baixinho e que tem uma perna só. Sempre vestindo um shorts vermelho, Saci Pererê tem um cachimbo e um capuz que têm poderes sobrenaturais.
Brincalhão, o garoto gosta de esconder objetos das pessoas, queimar a comida que está no fogão, apagar velas, dar nós nas crinas dos cavalos e aparecer e desaparecer dentro de redemoinhos. Aliás, de acordo com a lenda do menino traquina, para capturá-lo é preciso “pescá-lo” com uma peneira dentro de um redemoinho – feito isso, seu capuz deve ser retirado e o menino precisa ser trancado dentro de uma garrafa, de onde não poderá escapar.
Lenda do Curupira no Folclore Brasileiro
Curupira é outro grande conhecido entre as lendas nacionais. Sua história é parecida com a do Saci Pererê pelo fato de que, assim como o menino travesso, Curupira também gosta muito de pregar peças nas pessoas, especialmente em quem prejudica o meio ambiente.
Protetor da natureza, Curupira engana os destruidores da flora e da fauna com suas pegadas. Como tem pés ao contrário, ele consegue atrair os malfeitores da natureza a algumas emboscadas e, assim, dar a sua lição.
Descrito como um menino sapeca de cabelos vermelhos e pés virados para trás, Curupira também é conhecido por atazanar os desmatadores com seus assovios incansáveis, e a única forma de fugir de suas travessuras é dando um nó em um cipó – encontrá-lo, no entanto, é muito difícil devido às suas pisadas ao contrário.
Lenda da Mula sem Cabeça no Folclore Brasileiro
Essa lenda foi trazida ao Brasil pelos colonizadores portugueses e, com certeza, é uma das mais conhecidas. A figura espantosa dessa história é a de uma mula marrom que, no lugar da cabeça, tem uma chama de fogo.
A Mula sem Cabeça é conhecida por correr em meio à floresta e relinchar tão alto ao ponto de ser ouvida mesmo por aqueles que estão mais longe.
Segundo a história por trás desse animal assustador, a Mula sem Cabeça era um aviso para que mulheres não se envolvessem romanticamente com padres – aquelas que não respeitassem a regra eram transformadas em mulas na noite de quinta para sexta-feira. O feitiço, no entanto, não é eterno: quando o galo canta três vezes, a mulher punida retoma sua forma humana.
Lenda do Boitatá no Folclore Brasileiro
Criada entre os indígenas Tupis-Guaranis, a lenda do Boitatá tem algumas variações conforme a região onde é contada, mas, de acordo com a história original, Boitatá é uma serpente de fogo que, quando olha diretamente nos olhos de alguma pessoa, a deixa cega.
Protetora das florestas e dos animais, Boitatá é famosa em todo o país, e, a depender da região, pode ser chamada também de Biatatá, Bitatá, Baitatá ou Batatão.
Lenda da Caipora no Folclore Brasileiro
Outra personagem muito conhecida quando o assunto é Folclore no Brasil é, sem dúvidas, a Caipora. Protetora da natureza, esta figura age assustando os caçadores com seus uivos extremamente fortes. De acordo com a lenda, o poder assustador de Caipora fica ainda maior em dias santos e aos finais de semana.
Sua representação pode variar e, em algumas regiões, a Caipora é um menino, enquanto em outras, é menina. As características principais, porém, permanecem as mesmas: tem cabelos vermelhos, é baixinha, sua pele é escura e às vezes é vista montada em um porco do mato – inclusive, ela é conhecida também como “Caipora do Mato” uma vez que a palavra “caapora”, em tupi, significa “habitante do mato”.
Na televisão, foi muito bem representada no programa de televisão Castelo Rá-tim-bum.
Lenda do Boto-cor-de-rosa no Folclore Brasileiro
Originária da região da Amazônia, a lenda do Boto-cor-de-rosa diz que esse animal se transforma em um jovem sedutor e sai dos rios quando é noite de lua cheia. Elegante, a versão humana do Boto usa roupas brancas e um chapéu grande o suficiente para esconder seu nariz, que não foi transformado em humano.
De acordo com a lenda, o Boto-cor-de-rosa costuma aparecer também durante as festividades juninas. Nessas ocasiões, ele escolhe alguma moça atraente da festa e vai acasalar com ela no fundo do rio, onde voltará à sua forma animal na manhã seguinte.
Por causa desse romance de uma noite só, a lenda do Boto era usada também para falar sobre mulheres que engravidam fora do casamento – por isso algumas crianças são chamadas de filhas do Boto.
Lenda da Cuca no Folclore Brasileiro
Embora hoje a Cuca seja conhecida como uma bruxa malvada, que tem cabeça de jacaré e rouba crianças que não se comportam bem, a Cuca original se chamava Coca e era um dragão que engolia crianças desobedientes.
Embora a lenda não tenha origem brasileira, mas sim portuguesa, a Cuca foi muito bem representada na mesma obra de Monteiro Lobato que citamos anteriormente: Sítio do Pica-pau Amarelo.
De acordo com a história original da Cuca, a malvada dorme muito pouco (uma noite de sono a cada sete anos), por isso fica à espreita todas as noites, esperando crianças que teimam em não querer dormir na hora certa. A música “Nana neném que a Cuca vem pegar” faz uma clara referência à lenda.
Lenda da Iara no Folclore Brasileiro
Com uma voz encantadora e capaz de hipnotizar qualquer homem, Iara é metade peixe e metade mulher, sendo chamada muitas vezes de sereia brasileira. Personagem da mitologia indígena, seu nome de origem é Iuara, que significa “aquela que mora nas águas”.
Quando um homem não resiste à beleza do canto de Iara, ele pula no rio e acaba sendo puxado por ela para o fundo do mar. A cantora cheia de magia também tem o poder de cegar os homens que a admiram apenas por sua beleza.
A lenda diz que Iara era uma mulher indígena muito bonita e que recebia diversos elogios de seu pai, que era pagé. A beleza da moça acabou despertando a inveja entre seus irmãos, que planejavam matá-la, mas Iara foi rápida ao se defender e matou seus irmãos antes que eles pudessem fazer qualquer coisa contra ela.
Com medo da reação do pai, ela fugiu pela mata, mas foi encontrada por ele que, como castigo, a jogou no encontro do rio Negro com o Solimões. Trazida às margens do rio pelos peixes, Iara acabou virando sereia em uma noite de lua cheia.
Lenda do Corpo-seco no Folclore Brasileiro
Essa história sombria relata o castigo que um homem recebeu por maltratar todas as pessoas durante a sua vida, especialmente a própria mãe. Depois de morrer, a alma de Corpo-seco não foi recebida por Deus nem pelo Diabo e seu corpo não foi aceito pela terra – por isso, ele ficou fadado a passar a eternidade como um morto-vivo no cemitério, atormentando as pessoas que passassem por lá.
Lenda do Negrinho do Pastoreio no Folclore Brasileiro
A triste história do Negrinho do Pastoreio teve sua origem no Sul do Brasil. De acordo com a lenda, Negrinho do Pastoreio era um menino negro escravizado e que sofria muito nas mãos do patrão. Quando acabou perdendo um de seus cavalos, o menino foi açoitado e jogado em um formigueiro, onde caiu desmaiado.
Mais tarde, ao retomar a consciência, Negrinho do Pastoreio estava sem marcas de machucados no corpo e ao lado de Virgem Maria, que trouxe de volta o cavalo que tinha se perdido. É por isso que muitas pessoas pedem ajuda a esse personagem, sempre acendendo uma vela, quando perdem alguma coisa.
Lenda do Lobisomem no Folclore Brasileiro
Esta figura folclórica é mundialmente conhecida, e sua representação é a de um homem que vive em um corpo de lobo. É nas noites de lua cheia que um homem se transforma em lobo, assume a identidade de Lobisomem e sai às ruas à procura de comida e sangue.
No Brasil, é costume dizer que crianças que não receberam o sacramento cristão do Batismo podem se tornar lobisomens. Outra lenda comum no Folclore Brasileiro diz que, quando uma mulher tem sete filhas e, depois delas, nasce um homem, ele será lobisomem também.
No Sul do Brasil, é normal que a lenda do lobisomem esteja associada a casos de incesto; já no Norte, o monstro é descrito como um homem anêmico que, transformado, sai em busca de sangue para melhorar a saúde.
Cidade Invisível
No catálogo de séries da Netflix é possível conferir a produção “Cidade Invisível”, uma trama brasileira recheada de lendas folclóricas e que está fazendo sucesso em todo o mundo.
O enredo conta a história de um investigador policial que, ao tentar decifrar a morte trágica de sua esposa, descobre que há entidades clássicas do Folclore Brasileiro vivendo em meio à população.
A partir daí, o protagonista se depara com personagens icônicos, como Cuca, Iara, Boto-cor-de-rosa, Curupira, Corpo-seco e Saci Pererê. Para quem se interessa pelo tema, a obra é uma excelente escolha.