Existem diversas doenças que provocam alterações no funcionamento gastrointestinal, prejudicando a qualidade de vida do paciente e, inclusive, podendo representar algum problema mais sério de saúde. Hoje, falaremos sobre a doença de Crohn, que ainda é pouco conhecida, embora acometa um número grande de pessoas.
O que é a doença de Crohn
A doença de Crohn é uma patologia inflamatória crônica, considerada grave, que afeta principalmente a região do íleo terminal (intestino delgado) e o cólon – embora seja mais raro, é possível que outras regiões sejam comprometidas também, como a boca, a região perianal e o ânus.
Embora se saiba que a doença de Crohn é crônica e inflamatória, suas causas ainda não são totalmente conhecidas, e os tratamentos prescritos aos pacientes com a condição servem para aliviar os incômodos causados pelos sintomas, mas não para curar a doença.
É comum, inclusive, que a doença de Crohn seja confundida com a colite ulcerativa, que tem sintomas parecidos e também é uma doença inflamatória intestinal (DII), por isso é necessário uma investigação mais profunda para obter o diagnóstico correto.
O que causa a doença de Crohn
Como mencionamos anteriormente, as causas para a doença de Crohn não são totalmente conhecidas, mas inúmeros estudos realizados nos últimos anos têm revelado que a doença é mais comum em pessoas geneticamente predispostas.
Além disso, o problema pode ter relações com fatores infecciosos, ambientais e de estilo de vida – o tabagismo, por exemplo, aumenta as chances de uma pessoa desenvolver a doença de Crohn. Atualmente, a hipótese de que a doença seja autoimune, podendo ser desencadeada por infecções virais ou bacterianas, é altamente aceita pela comunidade médica.
Em relação ao gênero, sabe-se que tanto homens quanto mulheres estão suscetíveis ao desenvolvimento dessa condição inflamatória e, em termos de faixa etária, o mais comum é que pessoas com idades entre 15 e 30 anos apresentem os sintomas da doença.
Ainda assim, o Crohn pode afetar pessoas de todas as idades: cerca de 10% dos diagnósticos envolvem pacientes com menos de 18 anos de idade; é comum também haver um pico de incidência em pessoas com idades entre 50 e 70 anos – ter a doença de Crohn por mais de 10 anos é um fator associado ao desenvolvimento de câncer de cólon (intestino grosso).
Sintomas da doença de Crohn
O principal sintoma da doença de Crohn é o incômodo intestinal, apresentado por meio de dores abdominais fortes, diarréia, sangramento ao defecar e perda de peso. Além desses sintomas, podem aparecer também:
- Episódios de febre persistente entre 37,5° e 38°C;
- Sensação de fraqueza devido à dificuldade na absorção de nutrientes;
- Mal-estar;
- Anemia;
- Perda de apetite;
- Dor na região do estômago;
- Necessidade repentina de evacuar, especialmente logo após as refeições.
Quando a doença está em estágio mais avançado pode provocar também outros sintomas, como:
- Dores nas articulações;
- Aftas;
- Inflamações nos olhos;
- Lesões na pele;
- Obstruções intestinais;
- Fístulas ou abscessos na região perianal.
- Pedras nos rins;
- Pedras na vesícula.
Esses sintomas podem aparecer em conjunto ou separadamente, e a gravidade varia de pessoa para pessoa. Fatores como a área onde a doença está localizada e a presença de outros problemas de saúde (hipertensão, doenças cardíacas e diabetes, por exemplo) também influenciam na manifestação e intensidade dos sintomas.
É comum que a doença se manifeste em períodos de ciclos de “crise”, quando os sintomas se apresentam de forma intensa e depois desaparecem por algum tempo até o começo de um novo ciclo.
Diagnóstico da doença de Crohn
O primeiro passo para o diagnóstico é o relato do histórico médico do paciente em sua primeira consulta com um médico especialista, assim como a descrição de todos os sintomas apresentados. O médico poderá solicitar exames de sangue, de fezes e de imagem, que ajudarão a confirmar as suspeitas da doença de Crohn.
Exames de diagnóstico e de retina
Alguns exames sangue, fezes e imagem são necessários para formar o diagnóstico, uma vez que a doença pode facilmente ser confundida com outros problemas do trato digestório, como a colite ulcerativa e até mesmo apendicite. Entre os exames necessários para o diagnóstico correto da doença estão:
- Endoscopia digestiva;
- Exames de raios X;
- Tomografia computadorizada;
- Ressonância magnética;
É fundamental que o diagnóstico seja feito com precisão para que o tratamento ideal possa ser prescrito.
A doença de Crohn também pode afetar a saúde dos olhos, deixando-os inflamados, vermelhos e com sensibilidade à luz, por isso é comum que o médico solicite exames de retina.
Tratamento da doença de Crohn
A doença de Crohn não tem cura, mas existem tratamentos para que o paciente tenha melhor qualidade de vida e diminuição dos sintomas apresentados.
Os ciclos da doença, que acontecem por períodos de crise e períodos sem sintomas, variam conforme o grau da condição de cada paciente, e isso também determina a abordagem terapêutica que será recomendada pelo médico especialista.
O tratamento adequado permite que a maioria das pessoas leve uma vida normal e produtiva – é importante saber, no entanto, que cerca de 10% dos pacientes com a doença de Crohn ficam incapacitados devido às complicações dos sintomas.
Entre as medidas de tratamento estão:
- Uso de medicamentos antidiarreicos;
- Corticoides;
- Aminossalicilatos;
- Remédios imunomoduladores;
- Agentes biológicos;
- Antibióticos;
- Mudanças na dieta alimentar;
- Suplementação vitamínica;
- E, em alguns casos mais graves, é necessário fazer cirurgia.
O controle da doença depende de acompanhamento médico em longo prazo e até mesmo de forma contínua, por toda a vida, até mesmo porque deixar de usar os medicamentos pode fazer com que os sintomas voltem a ser apresentados.
Fazer o acompanhamento frequente é fundamental também para que se possa avaliar possíveis danos causados pelo uso contínuo dos medicamentos receitados. Em alguns casos, a depender da necessidade do paciente, é recomendado acompanhamento psiquiátrico e psicológico, visto que a doença é um grande fator estressante e pode desencadear transtornos de ansiedade e depressão.
Com o tratamento, a doença pode ser classificada em duas fases:
- Fase ativa: é quando a pessoa passa a comer menos devido aos episódios de enjoo e diarreia, comprometendo sua rotina e a saúde geral.
- Fase silenciosa: é o momento em que o tratamento é prescrito, o que promove o controle dos sintomas.
Complicações da doença de Crohn
Existem algumas complicações que podem ocorrer em decorrência da doença de Crohn. Veja quais são elas:
- Oclusão intestinal: é o que acontece quando as cicatrizes intestinais (chamadas de estenoses) ficam maiores e mais grossas, impedindo a passagem dos alimentos.
- Úlceras: podem aparecer ao longo de todo o trato digestório, desde a boca até o ânus.
- Fístulas: as fístulas são complicações das úlceras e acontecem quando duas delas provocam uma ligação anormal entre duas regiões do intestino. Em casos de doença de Crohn fistulizante, é possível haver fístulas entre o intestino e a pele ou entre o intestino e outro órgão próximo, como a bexiga e a vagina.
- Perfuração intestinal: considerada uma complicação grave, a perfuração intestinal leva o conteúdo fecal para a cavidade abdominal, provocando quadros de peritonite e sepse grave.
- Baixa absorção de nutrientes: inflamações no intestino delgado dificultam a capacidade de o corpo absorver nutrientes, provocando diarreias frequentes com perda de gordura (esteatorreia), desnutrição de proteínas e calorias, diminuição dos níveis de cálcio no sangue (hipocalcemia) e déficit de outras vitaminas – por isso o tratamento pode ser feito também com suplementação vitamínica.
- Câncer colorretal: pessoas com inflamações no intestino grosso causadas devido à doença de Crohn têm mais chances de desenvolver câncer colorretal. O risco aumenta conforme o tempo que o paciente apresenta os sintomas da doença.
Na presença de qualquer sintoma, buscar ajuda médica é fundamental.