Walter Casagrande Júnior. Ex-jogador, ídolo de uma das maiores torcidas do Brasil, comentarista de futebol, radialista.
Apenas algumas das faces de uma pessoa que contribuiu para o legado nacional do futebol, mas, nos últimos tempos, tem sido mais lembrado pelas possíveis fraquezas (e pela corajosa atitude de admiti-las em público) do que a personalidade que construiu ao longo do tempo.
Casagrande, ou, simplesmente, “Casão”, nasceu no dia 15 de abril de 1963, na cidade de São Paulo, capital do estado com mesmo nome. Começou sua carreira no futebol na categoria de juniores do aclamado time do Corinthians.
Teve o grande privilégio de jogar ao lado de grandes ídolos como, Sócrates, Zenon, Biro-Biro, Wladimir e outros. Este, pode-se dizer, foi um dos melhores momentos de sua carreira.
Chegou a jogar, por um curto período, com passe emprestado para a equipe do Caldense de Minas Gerais, mas retornou ao time paulista num dos maiores momentos da equipe naquela década.
Retornou ao time de forma magistral, aproveitando a chance dada pelo técnico em exercício, Mário Travaglini. O Jovem garoto, recém-promovido ao profissional, já estrearia marcando quatro gols dos cinco na goleada do Corinthians contra o Guará de Distrito Federal.
A partir de então Casagrande passaria a ocupar o posto de titular daquela que já era uma brilhante equipe.
Primeiras glórias
Em 1982, além de ser campeão paulista pela primeira vez, Casão foi o artilheiro do campeonato marcando 28 gols. Na ocasião o craque possuía apenas 19 anos e já foi destaque, não apenas pela quantidade de gols, mas também pela beleza de alguns entre os quase 30 marcados.
1983 e a Democracia Corintiana
O ano em questão representou um dos maiores e mais memoráveis momentos para o time do Corinthians. O nome “Democracia Corintiana” revelou um período de extrema lucidez entre os jogadores, cujas reivindicações e opiniões eram decididas por voto.
O movimento era liderado pelos jogadores mais velhos e, também, mais politizados, tais como Sócrates, Wladimir e outros.
Nesse mesmo ano, a “Democracia” voltou a brilhar. O time então se tornaria bicampeão paulista e, mais uma vez, a estrela do jovem Casagrande brilharia novamente, apesar de, naquele ano, o artilheiro ter sido Sócrates.
Porém, em 1984, Casagrande passou por problemas de relacionamento com o técnico Jorge Vieira, inclusive sob acusações de possuir um perfil boêmio.
As desavenças ocasionaram novo empréstimo do jogador a outro time, porém, desta vez, ao São Paulo Futebol Clube. Na ocasião, o time tricolor já dispunha de um grande craque, o atacante Careca, e, por essa razão, Casão foi obrigado a jogar na posição de meia-direita.
O retorno ao timão e o fim da carreira
Após uma passagem positiva pelo time do São Paulo, Casagrande volta ao Parque São Jorge, permanecendo lá até o ano de 1987. Nesse mesmo ano foi negociado ao Porto, de Portugal, e depois, atuou na Itália, pelas equipes Ascoli e Torino.
Retornou ao Brasil apenas na década seguinte, jogando pelo Flamengo, em 1993. Um ano depois, após ser praticamente “intimado” pelos torcedores paulistas, Casão volta ao Corinthians pela terceira vez, debaixo do coro de sua torcida que gritava “Sua casa é o Timão!”.
Apesar de toda história de amor que possui com o clube do Parque São Jorge, Casagrande não encerrou sua carreira no Corinthians. Após ter saído mais uma vez do clube paulista, jogou num time menor do estado, o Paulista de Jundiaí, e, depois, foi para o futebol baiano, atuando na equipe São Francisco do Conde, para, finalmente então, pendurar as chuteiras.
Pela seleção brasileira, Casagrande atuou modestamente. Sua principal participação vestindo a camisa canarinho foi na convocação para a Copa do Mundo do México, em 1986.
O Casagrande fora dos gramados
Casagrande ao longo do tempo tornou-se um personagem bastante querido por muitos, seja no âmbito do futebol ou fora dele.
Talvez a simpatia, ou, até mesmo a verdade em não esconder seus problemas pessoais, fizeram com que muitas pessoas voltassem seus olhares para o ser humano, acima da figura do astro de futebol.
Após aposentar-se como jogador, Casão começou a atuar como comentarista de futebol e até hoje participa do rol de profissionais da Rede Globo de Televisão.
Casão é considerado uma pessoa de gosto musical apurado. Seu estilo preferido é o Rock, tanto que nos anos de 2005 até 2006, chegou a comandar um programa de rádio chamado “Prorrogação”.
Como ele mesmo gostava de afirmar, o foco da programação era a música e não o futebol. Tanto que dividia a apresentação do programa ao lado do músico Nazi e do repórter Eduardo Affonso.
Problemas de saúde e a luta contra a dependência química
Casagrande lançou, no ano de 2013, o livro “Casagrande e seus demônios” onde conta, de forma autobiográfica, tudo que enfrentou na vida pessoal, seus problemas de cunho emocional e psicológico.
Casão nunca escondeu a sua luta contra a dependência química, e, por conta disso, sempre foi muito criticado, até mesmo vilipendiado nas redes sociais.
Em algumas entrevistas que deu, o ex-jogador chegou a declarar que, simplesmente, não acessa, não lê e, muito menos, responde esse tipo de crítica.
Pode-se dizer, com certo nível de propriedade, que o auge de seu problema foi entre os anos 2007 e 2008. Primeiramente Casão sofreu um grave acidente de carro onde ficou afastado do trabalho por alguns meses.
Em 2008, o ex-jogador seria notícia principal da revista Placar de abril daquele ano, cuja publicação era destinada apenas a falar do seu problema de dependência.
No ano de 2015, outro problema de saúde: Casagrande sofre um infarto do miocárdio e fica internado no Hospital Totalcor, em São Paulo. Foi submetido aos procedimentos de cateterismo e angioplastia, permanecendo na unidade de saúde até junho daquele ano.
De tudo que enfrentou e pelo que ainda representa ao mundo do futebol, Casagrande é bem visto, principalmente pelos últimos episódios de superação ao vício.
O comentarista atribui ao amigo e companheiro de mesa, Galvão Bueno, parte de seu sucesso nesse enfrentamento ao problema de dependência.
Tanto que a declaração dada ao vivo pelo jogador, afirmando sua total abstenção química no período da copa, emocionou a todos, inclusive os espectadores que não esperavam tal atitude.
A frase “Esta é a copa do mundo mais importante da minha vida”, declarada pelo jogador ao afirmar ter ficado limpo durante todos os jogos da competição, permaneceu por algum tempo nos tablóides nacionais e causou um efeito positivo ainda maior em seus admiradores.
Por Alan Lima