Os concursos e o enriquecimento

No Brasil, fazer concurso é uma maneira de enriquecer?

Por Alberto Vicente
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Uma reportagem publicada pelo The New York Times em fevereiro de 2013 revela que existem mesmo chances de alguém conseguir enriquecer ao exercer um cargo público. A reportagem lembra que servidores públicos da Europa e dos Estados Unidos tiveram seus salários reduzidos drasticamente, mas alguns alguns funcionários públicos no Brasil estão em uma posição até invejável, em relação aos seus pares estrangeiros.

Para constatar o quanto alguém pode enriquecer no Brasil exercercendo um cargo público, o NYT resgata o caso do funcionário de um tribunal, em Brasília, que ganhou nada menos do que 226 mil dólares em um ano ("mais do que o chefe de justiça do Tribunal Supremo do país"). Depois cita o caso de um engenheiro felizardo de São Paulo, que embolsa 263 mil dólares por ano ("mais do que o presidente da nação"), além de outros servidores nessa mesma situação confortável: a de receber os chamados "super-salários" e compará-los com outros servidores que mereceriam ganhar tanto quanto, mas não ganham.

E não para por aí. Na seara do serviço público, o "lobby" sindical também deixa sua marca. A reportagem informa que existem poderosos sindicatos de determinadas categorias de servidores, que desempenham muito bem o seu papel de proteger legalmente os interesses dos mesmos. Sem falar na questão do inchaço da máquina pública (uma discussão antiga no Brasil), movida pela criação de muitos cargos e a concessão de benefícios e remunerações bastante generosas.

Mas, e a realidade?

Pelo menos a reportagem não generaliza e é bem realista (ao ler a primeira parte, tive o receio de que não fosse). Claro que essa realidade dos super rendimentos mensais não é a regra para a maioria dos concurseiros que se tornam funcionários públicos no Brasil.

E não adianta vender a imagem de que a aprovação em um concurso é a solução para todos os problemas de finanças, por mais gratificante que seja atuar no serviço público. De fato, é preciso não ser "fundamentalista" diante de casos como esses e achar que tudo aqui se encontra nesse patamar. A população brasileira não deve encarar pejorativamente um cargo público como sendo o emprego dos sonhos de um brasileiro, por sere supostamente os empregos em que se pode ganhar muito e trabalhar pouco.

A maioria do funcionalismo público brasileiro é composta por gente que ainda ganha salários insatisfatórios. Exemplo disso são as tantas e tantas paralisações de professores (de quaisquer níveis), técnicos administrativos, policiais, enfermeiros e até médicos (que muitos consideram uma "profissão de elite"). Assim, devemos concordar que essa casta de gente que ganha bem e consegue enricar - como afirma a reportagem baseada em dados do governo - é, de fato,  composta por uma minoria.

Que bom que o pensamento dos correspondentes do NYT (Lis Horta Moriconi e Taylor Barnes ) reforça a lógica de que esse nriquecimento é mesmo pontual: "enquanto milhares de funcionários públicos ultrapassam os limites constitucionais sobre o teto salarial, muito funcionário está lutando é para sobreviver. As distorções salariais em nossa burocracia pública chegaram ao ponto de se tornarem uma desgraça total e absoluta" (tradução livre), disse Gil Castello Branco, diretor do Contas Abertas, um grupo de vigilância que analisa orçamentos governamentais".

Entre atrasos históricos e avanços

O resto da reportagem faz a velha constatação acerca dos males do Brasil (alta carga tributária, emissões de dívida, precariedade de serviços básicos, atraso em relação a outros países em desenvolvimento, nossos políticos e alguns servidores envolvidos em gastanças e enriquecimentos pessoais, etc).

Quanto aos avanços, a gente sabe que sempre surgem, ainda que singelos, mas significativos. Exemplo recente deles é demonstrado pela própria reportagem do NYT, que foi fruto do acesso a dados salariais do funcionalismo que até bem pouco tempo não eram revelados. É a Lei de Acesso à Informação mostrando a que veio.

Concurseiro, é o momento de ainda mais se animar!

Tudo isso, contado para o mundo (pela amplitude do veículo de comunicação), chega, de certa forma a constranger a muitos concurseiros. Mas esses guerreiros que sonham ingressar na máquina pública não podem desanimar. O negócio é mesmo  lutar para que dias melhores venham, e isso só depende tanto do bom testemunho desses que estão na maratona quanto dos que já chegaram lá: esperamos sempre dias com menos corrupção, dias com mais seriedade no trato da coisa pública, dias de mais ética entre os parlamentares e servidores em geral, dias de não nos vendermos, enfim, dias para um Brasil que merece ter dignidade.

alberto@concursosnobrasil.com.br

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