Todos os anos, bilhões de pássaros migram para áreas com climas mais favoráveis conforme a temperatura cai e a comida se torna escassa. Esses animais viajam milhares de quilômetros, levando muita gente a se perguntar onde eles descansam ao voarem sobre o oceano, onde não há lugar de pouso.
Empreender essas longas jornadas é fisicamente exigente e requer muita preparação para criar reservas suficientes para a sobrevivência, especialmente porque muitas aves conseguem voar por distâncias significativas sem uma pausa.
Onde os pássaros descansam ao voarem sobre o oceano?
Pesquisas revelam comportamentos intrigantes das aves migratórias ao voarem sobre o oceano. Um estudo de 2021 acompanhou cinco espécies de aves, incluindo o falcão-peregrino e a águia-pescadora, mostrando que elas dependem de condições de vento consistentes para decolar e pairar, economizando energia em longas jornadas.
Anteriormente, acreditava-se que a elevação do vento não ocorria na superfície do mar. Cientistas contestaram essa ideia, descobrindo que aves ajustam suas trajetórias para aproveitar as condições de vento favoráveis sobre o oceano, facilitando voos de centenas de quilômetros sem paradas.
Há cerca de 2.000 espécies de aves migratórias no mundo, representando 20% da população global. Enquanto algumas aves terrestres têm paradas designadas há gerações, foi descoberto que muitas aves utilizam navios como pontos de descanso durante suas migrações.
Em uma campanha oceanográfica no Mar Mediterrâneo, pesquisadores observaram 13 espécies de aves descansando em barcos. O tempo médio de descanso foi de 42 minutos, limitado pela falta de alimentos.
Nesse sentido, estima-se que quase 4 milhões de pássaros utilizem navios como escalas no Mediterrâneo Central, o que indica a necessidade de mais estudos sobre o impacto do tráfego marítimo nas migrações das aves.
Os pássaros dormem durante o voo?
Pesquisadores do Instituto Max Planck de Ornitologia, liderados por Niels Rattenborg, descobriram que algumas aves marinhas, como as fragatas, conseguem dormir durante o voo migratório.
O estudo, publicado na revista Nature revela que alguns pássaros voam por dias, semanas ou até meses sem parar, necessitando de estratégias para atender às suas necessidades diárias de sono.
Um dos mecanismos observados é a desativação de metade do cérebro (chamado de sono uni-hemisférico), similar ao comportamento de patos selvagens que mantêm um olho aberto para possíveis ameaças.
Assim, essas aves conseguem evitar colisões e manter o controle aerodinâmico. Essa descoberta também sugere que, durante o voo, as fragatas alternam entre o sono de ondas lentas (SWS) e o sono REM.
Enquanto o sono SWS pode ocorrer em um hemisfério cerebral de cada vez ou em ambos simultaneamente, o sono REM é breve, durando apenas alguns segundos. Isso permite que as aves mantenham a vigilância e controle necessários para um voo seguro.
Como as aves se preparam para migrar?
A capacidade física impressionante de algumas aves migratórias, principalmente limícolas, também chama a atenção dos cientistas.
Especialistas da Universidade Austral do Chile (UACh), em colaboração com instituições da Espanha e Chile, descobriram que os pássaros reduzem os níveis de substâncias reativas de oxigênio e aumentam os antioxidantes no plasma circulante à medida que a data da migração se aproxima.
Essas adaptações, conhecidas como “fisiologia de resistência”, ajudam a neutralizar o estresse oxidativo durante o esforço prolongado da migração.
Antes da migração, as aves se preparam intensamente para a jornada de mais de 10 mil quilômetros até as planícies da América do Norte e, posteriormente, até o Alasca, onde se reproduzem. Os últimos dois meses antes da viagem são essenciais, e qualquer perda de tempo e energia pode representar um risco enorme para essas aves.
O estudo sugere que o aumento dos níveis de antioxidantes é uma estratégia adaptativa para reduzir os custos fisiológicos da migração, permitindo que as aves resistam ao estresse oxidativo.
A pesquisa foi publicada na revista Scientific Reports e destaca a importância de entender essas adaptações para a conservação das espécies migratórias.