“O Problema dos 3 Corpos” é uma série da Netflix inspirada na trilogia de livros do autor Liu Cixin. A narrativa é rica em elementos de ficção científica que têm intrigado os espectadores, começando pelo título enigmático.
Sob a direção dos criadores de “Game of Thrones”, a série e o primeiro livro homônimo são intitulados com base em uma questão matemática complexa, cuja solução permanece um enigma até hoje. Continue lendo e entenda abaixo.
Qual é o problema dos 3 corpos do ponto de vista científico?
Do ponto de vista científico, o problema dos 3 corpos representa um cenário hipotético de caos planetário que desafiou os limites da astrofísica e confrontou gênios como Isaac Newton e Henri Poincaré.
A física moderna, fundamentada em princípios universais e leis que governam o movimento dos corpos, permite que físicos prevejam a trajetória de dois objetos celestes no espaço.
Utilizando as leis de Newton e as leis de Kepler, compreende-se que os planetas seguem órbitas elípticas e, com equações específicas, é possível calcular suas posições em qualquer ponto do universo, seja no passado ou no futuro.
Em um universo hipotético onde somente a Terra e a Lua existissem, seria possível para os astrônomos prever seus movimentos, mesmo com variações em parâmetros fundamentais como tamanho ou distância.
No entanto, as interações gravitacionais no universo real não se restringem a pares de corpos.
Sistemas como Proxima Centauri, que abrigam estrelas binárias com planetas em órbita, e o nosso próprio sistema solar, exemplificam a complexidade das interações celestes.
Neles, qualquer alteração mínima nas propriedades dos corpos pode resultar em caos, um conceito popularizado pela teoria do efeito borboleta.
No espaço, um sistema de três corpos apresenta uma complexidade extrema, com inúmeras variáveis que podem ser analisadas individualmente, mas cujo comportamento coletivo é imprevisível.
Em suma, a introdução de um corpo massivo em um sistema estável pode levar ao caos, tornando o comportamento do sistema incalculável pelas equações convencionais. Este fenômeno é conhecido na astrofísica como o problema dos três corpos.
Exemplo real do problema dos 3 corpos
Inspirados pelas narrativas de Cixin, pesquisadores chineses desvendaram segredos de um sistema estelar triplo, um exemplo real do problema dos 3 corpos.
Eles analisaram o sistema GW Orionis, a aproximadamente 1.300 anos-luz de distância, utilizando dados da NASA para monitorar variações na luminosidade das estrelas.
O líder da pesquisa, Tian Haijun, destacou que o estudo oferece insights sobre a configuração e evolução de sistemas estelares triplos.
Os resultados, divulgados na revista “Science China Physics, Mechanics & Astronomy“, são notáveis pela complexidade e imprevisibilidade das dinâmicas estelares.
Tian esclareceu que sistemas com múltiplas estrelas surgem do colapso de grandes nuvens gasosas sob sua própria gravidade, formando duas ou mais estrelas.
“Os movimentos e interações dessas estrelas podem ser tão intrincados que, se houvesse vida, ela poderia ter sido extinta e ressurgido várias vezes”, comenta o pesquisador.
Também foi observado que as estrelas de GW Orionis orbitam em alta velocidade, com um ciclo de rotação de dois a três dias.
“Essa rotação acelerada é característica de estrelas jovens, diferindo do Sol, que completa uma volta a cada 25 dias”, explicou Tian.
Curiosamente, sistemas com várias estrelas são comuns no universo, enquanto sistemas solitários como o nosso são menos frequentes. A maioria das estrelas possui ao menos um companheiro estelar.
“Apesar da dificuldade em observar tais sistemas, almejamos empregar telescópios mais sofisticados, incluindo o futuro Telescópio da Estação Espacial Chinesa (CSST), para aprofundar nosso entendimento sobre sua formação e comportamento”, finaliza Tian.