As condições do nosso planeta estão se tornando cada vez menos propícias para continuar sendo considerado um ambiente seguro para a humanidade. Essa é a conclusão de um estudo conduzido por 29 cientistas de oito países, que analisaram o estado atual dos limites da Terra.
Conforme a pesquisa, muitos deles já foram ultrapassados. Além disso, os cientistas alertam que a acidificação dos oceanos está próxima de avançar o limite. A concentração de ozônio na atmosfera e a poluição por aerossóis são os únicos dois aspectos que permanecem em níveis seguros, por enquanto.
O relatório destaca a poluição química como um dos indicadores mais preocupantes, juntamente com as mudanças climáticas.
Quais são os limites da Terra?
Em 2009, o Centro de Resiliência de Estocolmo identificou os nove processos-chave que garantiram a estabilidade da Terra durante mais de 12.000 anos.
Estes “limites” correspondem àqueles índices que não devem ser ultrapassados nos nove aspectos, para que os ecossistemas evoluam “com segurança” e garantam a presença da vida humana no planeta, sendo eles:
1. Mudanças climáticas
O aumento global de temperatura, resultado das alterações climáticas desde a Revolução Industrial, contribui para eventos climáticos extremos, como secas e inundações. Atualmente, enfrentamos cinco vezes mais desastres climáticos do que em 1970.
2. Integridade da biosfera
A perda de biodiversidade e extinção de espécies, central para a integridade da biosfera, ultrapassou a zona de risco crescente, aumentando a probabilidade de mudanças ambientais irreversíveis em grande escala.
Estima-se que estejamos no meio da sexta extinção em massa, com um milhão de espécies em perigo de sumirem da natureza.
3. Mudança no uso da terra
A transformação de florestas, pastagens e outros tipos de vegetação em áreas para agricultura e pecuária ultrapassou o limite no uso do solo. O desmatamento impacta a capacidade de regulação climática e contribui para a redução da biodiversidade.
4. Fluxos bioquímicos
Os ciclos do fósforo e do nitrogênio, abrangendo os fluxos bioquímicos, representam a quarta fronteira ultrapassada. O uso excessivo desses elementos em fertilizantes coloca em risco ecossistemas aquáticos, com impactos na água doce e no mar.
5. Destruição do ozono estratosférico
A redução bem-sucedida do ozônio na estratosfera é uma exceção entre os nove processos, graças ao Protocolo de Montreal que proibiu os clorofluorcarbonos. Essa ação evitou danos ambientais irreversíveis e casos de câncer de pele associados à perda da camada de ozônio.
6. Uso de água doce
Embora o uso de água doce esteja atualmente dentro da área segura, a crescente pressão da agricultura para produzir mais alimentos está levando rapidamente para a zona de risco.
A diminuição da água doce, representando apenas 2,5% do total, é uma preocupação, e a dessalinização, embora possível, consome muita energia.
7. Acidificação dos oceanos
A acidificação dos oceanos, apresenta riscos, especialmente para corais e ecossistemas marinhos. O aumento da acidez, relacionado às alterações climáticas, está intimamente ligado a eventos de extinção em massa na história.
8. Carregamento de aerossol atmosférico
A contaminação da atmosfera com aerossóis de origem humana, provenientes da queima de combustíveis fósseis e outros processos, impacta o clima e organismos vivos, resultando em aproximadamente 800 mil mortes prematuras anuais devido à poluição do ar.
9. Incorporação de novas entidades
A incorporação de “novas entidades,” incluindo elementos ou organismos modificados pelo homem e substâncias inteiramente novas, é a nona e última fronteira. Isso vai desde materiais radioativos até microplásticos, destacando a complexidade e desafios associados à intervenção humana no meio ambiente.
Quais limites foram ultrapassados?
Conforme o estudo, publicado na revista Nature, que analisa o estado atual dos nove limites, a conclusão é alarmante: os limites planetários foram ultrapassados em seis casos, e em um sétimo (acidificação) está prestes a ser superado.
Os pesquisadores afirmaram que seu trabalho visa auxiliar empresas, cidades e governos na definição de metas cientificamente fundamentadas para lidar com os desafios ambientais que já impactam o planeta.
“Nos cinco domínios analisados, várias fronteiras já estão a ser ultrapassadas, à escala global e local. Isto significa que, a menos que seja realizada uma transformação a tempo, são inevitáveis pontos de viragem irreversíveis e impactos generalizados no bem-estar humano”, explica o professor Johan Rockstrom, do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático e principal autor do estudo.
“Os seres humanos fazem parte do sistema Terra. Somos uma grande parte do problema e temos que ser a solução”, ressalta Noelia Zafra, coautora do trabalho.