Quem não ama uma boa pizza? Um dos mais celebrados pratos da culinária italiana, a massa assada e coberta com uma generosa camada de molho de tomate e os mais variados ingredientes sempre é uma das favoritas de qualquer pessoa, não importa em qual parte do mundo. Mesmo que não hajam dúvidas quanto ao sabor do prato, uma questão ainda encabeça a lista dos mistérios gramaticais do estrangeirismo: por que pizza se escreve com dois z’s?
Normalmente, ao trazer algo de fora para cá, é comum que o elemento seja renomeado, por vezes até mesmo “abrasileirado”. Esse é o caso de “spaghetti” e “gnocchi”, por exemplo, que aqui se tornaram “espaguete” e “nhoque”, respectivamente. Mesmo que exista a forma “piza”, com um único z, encontrá-la por aí pode ser difícil, visto que poucos conhecem o prato com qualquer nome além de “pizza”.
Mas então, qual seria o motivo do termo não ter passado por uma repaginação? Para descobrir a resposta para esse questionamento, confira abaixo o motivo de “pizza” ser escrita com dois z’s, e não apenas um.
Por que “pizza” se escreve com dois Z’s?
No geral, não existe uma explicação exata para o motivo da grafia italiana ter prevalecido no vocabulário da Língua Portuguesa. Contudo, uma boa forma de descobrir uma resposta para isso é examinando o histórico da ortografia das duas línguas.
O fonema /ts/, no italiano, evoluiu a partir do /t/, do latim clássico, quando era seguido por /i/. Assim, por convenção, os italianos abandonaram de vez a junção “ti”, adotando o “z”, algo que era raro na literatura latina. Isso também ocorreu no português e no espanhol, mas por um erro de percurso, outra letra surgiu no caminho.
Os antigos visigodos que habitavam a região logo ao lado das terras latinas tinham o costume de grafar o “z” como “Ꝣ”. Com o tempo, a letra se tornou cada vez mais parecida com o “c”, e foi várias vezes confundida com uma de suas variantes. Surgiu então o “ç”, que também foi abandonado pelos hispânicos, que retornaram ao “z”. No português, porém, o “ç” ainda é muito utilizado.
Assim, nas duas línguas, o /ts/ acabou se transformando em /s/, mas para o italiano, a formação ainda é comum. Confira alguns exemplos do formato nas três línguas:
- No português: açúcar, justiça, dança;
- No espanhol: azúcar, justicia, danza;
- No italiano: zucchero, giustizia, danza.
Os dois Z’s
E o mistério da “pizza”? Por que utilizar dois z’s? Durante a evolução da língua italiana, um fenômeno conhecido como geminação tomou conta do processo. Nele, uma consoante é “segurada” na boca e pronunciada por alguns segundos a mais, o que faz com que pareça que uma pequena pausa foi feita entre o instante em que a língua corre de uma sílaba para a outra. Na ortografia italiana, o fenômeno é representado pela duplicação da consoante.
O alongamento é essencial para diferenciar alguns termos que acabariam sendo pronunciados de forma idêntica se não fosse pela pausa. Esse é o caso de “note” e “notte”, ou “notas” e “noite”. No português, não há geminação, muito menos uma forma de marcá-la.
Quanto ao motivo de pizza ser escrita dessa forma, a mais simples verdade é que o prato é um símbolo extremamente popular e querido da culinária italiana, muito mais que espaguete ou nhoque. Esse pode ser então um dos motivos para a pronúncia e a ortografia originais terem sido mantidas, sem maiores explicações.
A palavra foi adotada não apenas pelo português, mas também por todas as outras línguas do mundo. Se escreve e se pronuncia “pizza” no inglês, francês, espanhol, alemão, sueco, dinamarquês, finlandês, holandês e muito mais. O estrangeirismo se consagrou com tal grafia, e alterá-la muito provavelmente significaria apagar a própria história da pizza.