Eles são maiores, vistosos e, à primeira vista, poderiam facilmente ocupar o lugar dos tradicionais ovos de galinha na cozinha. Isso é o que quem já viu um ovo de peru pensa, mesmo que, apesar disso, quase ninguém os consuma com regularidade.
Mas afinal, o que poderia justificar o sumiço desse ingrediente do cardápio da maioria das pessoas? Se são nutritivos, saborosos e têm características semelhantes às dos mais populares, por que quase não se fala sobre eles nas receitas ou se encontram nas prateleiras?
A resposta envolve uma combinação de fatores que passam por comportamento, produção e até instinto animal, e talvez surpreenda quem sempre achou que todos os ovos são iguais na teoria e na prática.
Por que não comemos ovos de peru?
No mundo natural, as peruas não são exatamente generosas quando o assunto é a produção de ovos.
Durante o período de postura, elas botam de nove a 13 ovos, um por dia ou a cada 32 horas. Para um animal selvagem, esse ritmo é mais do que suficiente. Mas, para os padrões comerciais, ele é bem decepcionante.
Basta comparar com as galinhas: uma boa poedeira pode entregar mais de 300 ovos por ano, praticamente um por dia.
Além disso, ela atinge a maturidade reprodutiva mais rapidamente. Com cerca de cinco meses de vida, já começa a botar. Ao contrário da galinha, a perua precisa de pelo menos sete meses para chegar a esse ponto.
Todo esse ciclo mais lento, somado ao fato de que o peru é um animal grande, que exige mais espaço, ração e cuidado, faz com que o custo de produção seja bem mais alto.
Ou seja: não vale a pena para os produtores investir no que rende pouco e custa muito. Eles podem até ser bons, mas no mundo real da produção em larga escala, bom mesmo é o que rende.
Mas e o sabor, compensa?
Apesar da baixa presença no mercado, os ovos de peru são perfeitamente comestíveis.
Quem cria a ave garante: eles têm um gosto bastante parecido com os de galinha, apenas um pouco mais intenso. A casca também é mais dura, o que pode dificultar um pouco o preparo, mas nada que comprometa a experiência.
É curioso pensar que o motivo da sua ausência nos pratos não tem nada a ver com o sabor ou os nutrientes que, aliás, são até mais concentrados. O problema está, basicamente, na logística.
O mundo dos ovos vai além do gosto
E já que estamos falando de ovos, é interessante observar que nem tudo o que comemos (ou deixamos de comer) depende apenas do sabor.
Nos supermercados, por exemplo, há cada vez mais opções nas gôndolas: ovos brancos, vermelhos, caipiras, orgânicos, enriquecidos com ômega 3, DHA, vitamina E, e por aí vai. Mas será que tudo isso faz mesmo diferença?
A cor da casca, por exemplo, tem origem genética. Galinhas de penas brancas costumam botar ovos brancos, enquanto as de penas avermelhadas, ovos vermelhos. Não há vantagem nutricional entre eles.
O mesmo vale para a cor da gema, que varia conforme a alimentação da ave. Quanto mais alimentos alaranjados, como milho ou urucum, mais viva será a cor da gema.
Já os ovos orgânicos ganham esse selo quando as galinhas são alimentadas com ração livre de agrotóxicos e sem o uso de antibióticos.
Sem citar versões como os ovos caipiras, com ômega 3 e selênio, que prometem benefícios considerados divergentes na comunidade científica, se você opta pelos ovos convencionais, não precisa se sentir culpado.
No fim, todos continuam sendo alimentos extremamente acessíveis e versáteis na cozinha, e é isso que estamos procurando, seja do peru ou da galinha.