Você já parou para pensar no poder de um simples “olá” ou “obrigado”? Muitas vezes, na correria do dia a dia, ignoramos as pessoas que cruzam o nosso caminho, seja na rua, no transporte público ou no trabalho. Mas será que essa atitude nos faz bem?
Um estudo recente, publicado na revista Personality and Social Psychology Bulletin, sugere que não. Os pesquisadores da Universidade Sabanci, na Turquia, descobriram que breves interações sociais com estranhos podem ter um impacto positivo na nossa satisfação e felicidade com a vida.
O poder dos “laços fracos”
Os autores do estudo definem “laços fracos” como conexões sociais que não são próximas, como aquelas com conhecidos e estranhos. Essas interações podem ser desde uma troca de olhares até uma conversa casual sobre o tempo ou um elogio sincero.
Para avaliar o efeito desses relacionamentos na nossa vida, os pesquisadores realizaram dois grandes levantamentos, um na Turquia e outro no Reino Unido, envolvendo mais de 60 mil pessoas.
Eles perguntaram aos participantes quantas vezes eles iniciaram uma conversa social com estranhos nos últimos sete dias e como eles se sentiam em relação à sua vida.
Resultados do estudo
Os resultados mostraram uma tendência consistente: as pessoas que relataram ter mais interações ou conversas com estranhos tendiam a ter níveis mais altos de satisfação e felicidade com a vida do que aquelas que evitavam ou tinham poucas interações com desconhecidos.
Os pesquisadores sugerem que isso se deve ao fato de que essas interações podem promover um sentimento de pertencimento a uma comunidade e de conexão com os outros. Estudos anteriores já haviam demonstrado que esses sentimentos são importantes para a nossa saúde mental e bem-estar.
Além disso, as interações com estranhos podem ser uma forma de combater a solidão, que é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um problema global de saúde pública, com efeitos nocivos para a saúde física e mental das pessoas.
Os benefícios de dizer “olá”
Os pesquisadores destacam que as interações com estranhos não precisam ser longas ou profundas para terem um efeito positivo. Na verdade, elas podem ser mais fáceis e menos ansiosas do que conversas com pessoas mais próximas, que exigem mais comprometimento e expectativas.
Assim, algo tão simples como dizer “olá” ou “obrigado” a um desconhecido pode ser um gesto de gentileza e reconhecimento que pode melhorar o humor e a autoestima de ambos os envolvidos.
Um exemplo disso é a campanha “Säg hej” (“diga olá”), lançada pela cidade de Luleå, na Suécia, este ano. A iniciativa foi lançada no dia 31 de outubro, o “dia do vizinho” no país, e envolve um filme que exalta os benefícios de cumprimentar os outros. O vídeo foi exibido durante quatro semanas em escolas, ônibus e locais públicos de destaque da cidade.
As cenas mostram um jovem passando por outras pessoas e dizendo “hej”. “Dizer ‘olá’ deixa as pessoas felizes e se sentem seguras e protegidas”, diz a mensagem que segue. “Isto é algo que todos podemos fazer para criar uma Luleå mais agradável. O seu ‘olá’ pode fazer toda a diferença.”
Åsa Koski, estrategista social municipal por trás da campanha, disse à imprensa local que a esperança era que o aumento da incidência de saudações na cidade melhorasse o ambiente.
Luleå é uma das maiores cidades do norte da Suécia e a capital regional de Norrbotten, uma parte da Suécia conhecida por ter habitantes tão taciturnos que substituem a palavra “sim” por uma respiração profunda.
Um equilíbrio saudável
Por fim, os autores do estudo mencionado anteriormente também alertam que as interações com estranhos não devem ser vistas como um substituto para conexões sociais mais intímas, que têm uma ligação mais forte com a satisfação com a vida.
Eles afirmam que é preciso ter um equilíbrio saudável entre os diferentes tipos de laços sociais, e que as pessoas devem buscar cultivar relações de qualidade com familiares, amigos e parceiros.
