Há mais de dois mil anos, o matemático grego Arquimedes saiu correndo nu pelas ruas de Siracusa, gritando “Eureka! Eureka!” (que significa “encontrei” em grego).
Ele havia acabado de descobrir como calcular o volume da coroa de ouro do rei Hierão II usando o princípio do deslocamento de água. Desde então, o “momento Eureka” ficou associado às grandes descobertas científicas.
E não é à toa que essa ideia brilhante surgiu enquanto ele tomava banho. Mas por que nossas melhores ideias aparecem no chuveiro? Entenda a explicação por trás disso.
O que é o “efeito chuveiro”?

Estudos comprovam que as pessoas costumam gerar ideias mais originais durante atividades como tomar banho ou caminhar. Foto: Pexels / Montagem Concursos no Brasil
O “efeito chuveiro” refere-se ao fenômeno em que as pessoas tendem a ter ideias criativas durante atividades rotineiras e moderadamente prazerosas, como tomar banho ou caminhar.
De acordo com um estudo liderado por Zachary Irving, da Universidade da Virgínia, essa criatividade surge porque a divagação mental, um estado de pensamento livre e despreocupado, é facilitada por atividades que não exigem foco intenso, mas também não são totalmente monótonas.
A pesquisa publicada na “Psychology of Aesthetics, Creativity, and the Arts” também demonstrou que tarefas muito tediosas ou muito exigentes não produzem o mesmo efeito.
Isso ocorre porque o equilíbrio entre relaxamento e estímulo leve permite que o cérebro faça associações inusitadas.
Estado de incubação da mente
Outro estudo relevante sobre isso foi realizado pelo psicólogo cognitivo Dr. Scott Barry Kaufman. Segundo ele, esse fenômeno acontece porque a mente entra em um estado conhecido como “incubação”.
Quando interrompemos o esforço consciente para resolver um problema, o subconsciente continua processando as informações, o que explica por que soluções podem surgir de forma inesperada, como durante um banho.
Kaufman ainda destaca que o relaxamento é essencial para ativar a criatividade. Quanto mais calmo e livre de tensões uma pessoa estiver, maiores serão as chances de acessar ideias originais que estão armazenadas no inconsciente.
Processo de concepção de boas ideias
Grandes ideias surgem de um processo que combina esforço, pausa e momentos de clareza súbita. David Perkins, em seu livro “O Efeito Eureka”, descreve cinco etapas comuns a descobertas e invenções:
1. Pesquisa e exploração
Toda ideia começa com estudo, testes e tentativas. É uma fase de coleta de informações e experimentação. Thomas Edison testou mais de mil materiais antes de encontrar o filamento ideal para a lâmpada. Sem esse trabalho inicial, a solução não aparece.
2. Período de pouco progresso
Depois da fase inicial, é comum ficar preso em um problema sem avanços claros. As soluções fáceis já foram descartadas, e o progresso parece impossível. Portanto, persistir nessa etapa é essencial.
3. Evento precipitante
Como você viu acima, muitas vezes, a resposta surge quando a mente está relaxada, não focada no problema. Arquimedes entendeu como medir volumes ao entrar na banheira.
Esse momento de compreensão repentina frequentemente acontece em atividades simples, como tomar banho ou caminhar.
4. Snap cognitivo (momento “Eureka”)
De repente, as peças se encaixam. O cérebro une informações que antes pareciam desconexas, revelando a solução. Esse é o momento “Eureka”, quando tudo faz sentido de uma vez.
5. Aplicação e desenvolvimento
Com a ideia clara, é hora de testá-la e refiná-la. O que antes parecia complexo agora tem uma estrutura lógica, permitindo refinamentos e aplicações práticas. Assim, o último estágio é marcado pela validação da ideia.