A extinção de uma espécie é um evento trágico e irreversível, marcado pela perda de um elo único na teia da vida. Mas e quando uma mesma espécie desaparece não uma, mas duas vezes?
Esse foi o destino incomum de um animal que, após ser declarado extinto em 2000, chegou a ser clonado, mas teve seu fim confirmado novamente em 2003 – um desfecho sombrio que expõe tanto a fragilidade da biodiversidade quanto as falhas humanas em sua preservação.
Qual é o único animal que foi extinto duas vezes?

O caso do íbex-dos-pirenéus mostra que a desextinção ainda enfrenta grandes desafios, tanto éticos quanto ecológicos. Foto: Reprodução / Pixabay
Por gerações, os imponentes bucardos (Capra pyrenaica pyrenaica) reinaram absolutos nos picos rochosos dos Pireneus.
Esses animais, uma variedade do íbex-ibérico, destacavam-se por seus chifres impressionantes e pela pelagem adaptada ao clima montanhoso, tornando-se parte essencial daquela região.
Contudo, sua natureza arredia e aparência singular os transformaram em alvos valiosos para caçadores. Embora a caça tenha sido proibida em 1913, a matança ilegal persistiu sem controle.
Em 1972, só restavam cinquenta exemplares, e até 1987, após o nascimento do último filhote, o íbex-dos-pirenéus já estava à beira do desaparecimento. Quando o último macho morreu, tentaram reproduzi-los com outras subespécies de íbex, mas sem sucesso.
O fim definitivo veio em janeiro de 2000, quando o sinal do rádio-colar de Celia (a última fêmea viva) parou de emitir. Porém, antes disso, cientistas haviam coletado amostras de sua pele para preservação e possível clonagem.
A extinção e a tentativa de reviver o íbex-dos-pirenéus
Em 2009, um estudo revelou os esforços para trazer a espécie de volta à existência. Foram criados 154 embriões clonados e implantados em cabras, mas apenas cinco engravidaram, e apenas uma chegou ao parto.
Em 2003, nasceu o clone de Celia, marcando o breve “retorno” do íbex-dos-pirenéus. O filhote clonado, aparentemente saudável, tinha uma malformação pulmonar: um lobo extra no pulmão esquerdo que impedia a respiração adequada. Essa condição, comum em clones, levou à sua morte pouco após o nascimento.
Embora o DNA do clone fosse idêntico ao de Celia, sem mutações letais, o processo de clonagem pode causar falhas no desenvolvimento.
Além disso, mesmo que o clone sobrevivesse, a falta de machos para reprodução tornaria impossível restabelecer a espécie.
Populações muito pequenas também enfrentam problemas como endogamia e baixa diversidade genética, aumentando o risco de uma nova extinção.
O futuro da desextinção: avanços e debates
Embora a clonagem do íbex-dos-pirenéus tenha fracassado, a ideia de ‘ressuscitar’ animais extintos não desapareceu. Inclusive, recentemente, cientistas conseguiram um avanço surpreendente nesse sentido.
A empresa americana Colossal Biosciences Inc. anunciou em abril deste ano a suposta “desextinção” do lobo-gigante, um predador que viveu na América do Norte há 13 mil anos.
Contudo, o termo “desextinção” tem sido questionado pela comunidade científica, já que o animal criado não é uma réplica exata do original, mas sim um lobo-cinzento geneticamente modificado para se assemelhar ao seu ancestral extinto.
A Colossal Biosciences sequenciou o genoma do lobo-gigante e introduziu 20 alterações genéticas em 14 genes do lobo-cinzento, buscando reproduzir características físicas da espécie extinta.
Embora o experimento tenha gerado filhotes com traços semelhantes, especialistas argumentam que isso não significa uma verdadeira desextinção, pois fatores como comportamento, ecologia e interações com o ambiente não podem ser recriados em laboratório.
Ainda assim, a pesquisa contribui para o entendimento da relação entre genes e características físicas, o que pode auxiliar na conservação de espécies ameaçadas.
Por fim, a empresa já planeja ‘trazer de volta à vida’ outros animais que desapareceram, como o mamute-lanoso e o tigre-da-tasmânia.