Você já viu rostos ou silhuetas de pessoas em objetos ou lugares, como nuvens, paredes ou até numa xícara de café? Apesar de parecer estranho, isso é algo normal e acontece com todo mundo.
É como se o nosso cérebro estivesse “programado” para reconhecer rostos, mesmo onde eles não existem.
Em outras palavras, trata-se de um fenômeno psicológico que faz a gente enxergar rostos ou formas humanas em coisas que, na verdade, não têm nada a ver com isso.
Por que enxergamos rostos em objetos?
O nome desse fenômeno é “pareidolia”. Embora tenha sido observado há muito tempo, só recentemente a neurociência começou a estudá-lo com mais profundidade.
Um dos primeiros estudos importantes sobre o tema foi publicado em 2014, liderado por Kang Lee, professor de psicologia aplicada e desenvolvimento humano na Universidade de Toronto.
Eles descobriram que “ver Jesus em uma torrada” é algo completamente normal, já que o cérebro humano tem a tendência de identificar rostos a partir de qualquer mínima sugestão de que um rosto possa estar ali.
Os pesquisadores destacam que as expectativas são fundamentais nesse processo. O cérebro tem mais facilidade para “enxergar” algo quando já espera encontrá-lo.
Por exemplo, duas pessoas podem olhar para a mesma nuvem ou mancha, e uma delas pode identificar uma forma familiar, enquanto a outra não vê nada de especial.
No entanto, se a primeira pessoa disser o que está vendo, a segunda pessoa provavelmente passará a enxergar o mesmo. Uma vez que isso acontece, fica difícil “desver” a forma identificada — ela se torna a única coisa que a pessoa consegue perceber.
Por que estamos ‘programados’ para ver rostos em todos os lugares?
Estamos programados para ver rostos porque essa habilidade foi crucial para a sobrevivência de nossos ancestrais. Segundo Kang Lee, desde o nascimento, os seres humanos buscam rostos como resultado de milhões de anos de evolução.
Essa predisposição tem duas razões principais: primeiro, nossos ancestrais precisavam identificar predadores e presas, que possuem rostos, para garantir sua sobrevivência.
Segundo, como seres sociais, precisamos discernir rapidamente se alguém é amigo ou inimigo, o que torna o reconhecimento facial essencial para a interação e a segurança.
Em outras palavras, é mais seguro para o cérebro cometer um “falso positivo” — como ver um rosto em uma formação rochosa — do que ignorar uma ameaça real.
Essa predisposição garante que estejamos sempre alertas para perigos potenciais, mesmo que isso signifique ver rostos onde eles não existem.
Em que momento da vida começamos a ter essa percepção ilusória de rostos?
Estudos revelam que a pareidolia surge muito cedo nos seres humanos, entre os oito e dez meses de vida. Para chegar a essa conclusão, pesquisadores japoneses realizaram um experimento com bebês de diferentes idades.
Eles mostraram aos bebês desenhos que, em uma determinada posição (posição 1), lembravam vagamente um rosto, enquanto em outra posição (posição 2), não havia essa semelhança.
Quando os bebês ouviam sons específicos, aqueles que viam os desenhos na posição 1 direcionavam o olhar para a parte inferior do desenho, como se estivessem identificando uma “boca”.
Já com os esboços na posição 2, os bebês não focavam em nenhum ponto em particular, pois não reconheciam nenhuma parte do desenho como algo familiar.
Isso sugere que a capacidade de identificar rostos em padrões abstratos começa a se desenvolver muito cedo na vida humana.