Você já entrou em algum local e, imediatamente, sentiu um calafrio, um aperto no peito ou uma sensação de “energia pesada” no ar? Essa experiência, frequentemente associada a “más vibrações” em tradições espirituais, também tem despertado o interesse da ciência.
Longe de ser apenas uma crença popular, pesquisadores vêm investigando por que certos ambientes nos causam desconforto emocional, mesmo sem um motivo aparente.
Por que temos a sensação de “energia pesada” ao entrar em um lugar?

Nossas sensações em certos ambientes são uma complexa interação entre biologia, psicologia e cultura. Foto: Reprodução / Pixabay
Um estudo publicado na “Psychological Science” por pesquisadores da Universidade de Utrecht revelou que nosso corpo pode captar e responder a emoções deixadas por outras pessoas no ambiente, mesmo quando não estamos conscientes disso.
Os cientistas conduziram o seguinte experimento: primeiro, coletaram o suor de voluntários que haviam assistido a vídeos assustadores (para induzir medo) ou repulsivos (para causar nojo).
Em seguida, outras pessoas foram expostas a essas amostras de suor sem saber de qual emoção se tratava. O resultado foi surpreendente.
Quando inalavam o suor de quem sentira medo, os participantes apresentavam reações físicas típicas de alerta, ou seja, músculos faciais tensionados, aumento da sensibilidade olfativa e movimentos oculares mais rápidos, como se estivessem procurando por perigos.
Já o suor ligado ao nojo provocava expressões faciais de repulsa e uma tendência a “desligar” os sentidos, como se o corpo quisesse se proteger de algo desagradável.
O mais impressionante é que essas reações ocorriam mesmo quando as pessoas não conseguiam identificar conscientemente o cheiro ou a emoção associada a ele.
Isso sugere que locais onde muitas pessoas vivenciaram estresse, medo ou angústia podem acumular esses vestígios químicos, desencadeando em nós uma sensação intuitiva de que “algo não está certo”.
As emoções negativas podem realmente fixar-se no ambiente?
Um artigo na revista “PS: Political Science & Politics” explora como experiências emocionais intensas podem deixar marcas duradouras em um espaço.
Segundo o autor, Roger Petersen, especialista do MIT, locais que testemunharam eventos traumáticos ou carregados de emoção tendem a criar uma “memória coletiva” que influencia quem os frequenta depois.
Isso não se trata de algo místico, mas de como nosso cérebro associa características físicas do ambiente (como escuridão, arquitetura ou até odores) a emoções passadas.
Petersen explica que, embora as emoções individuais sejam passageiras, quando muitas pessoas vivenciam sentimentos semelhantes em um mesmo local, isso pode criar um “resíduo emocional”.
Por exemplo, um hospital onde ocorreram muitos momentos de sofrimento pode despertar automaticamente sensações de ansiedade em visitantes, mesmo que eles não saibam da história do lugar.
Essa reação instintiva seria uma forma de proteção, herdada de nossos ancestrais, que aprendiam a evitar lugares associados a perigo ou dor emocional.
Como o “resíduo emocional” é percebido em diferentes culturas?
Uma pesquisa no “Journal of Personality and Social Psychology” investigou como pessoas de culturas distintas entendem a ideia de que emoções podem “grudar” em lugares.
Os pesquisadores compararam as respostas de participantes dos Estados Unidos e da Índia, revelando diferenças curiosas.
O experimento foi simples: moradores dos dois países leram histórias sobre alguém se mudando para um novo espaço, um dormitório ou apartamento onde o morador anterior havia sido muito feliz ou muito triste.
Os resultados mostraram que os indianos eram mais propensos a afirmar abertamente que acreditavam que emoções podiam “contaminar” um ambiente.
Já os americanos tendiam a negar essa crença quando perguntados diretamente, mas nos testes práticos, ambos os grupos agiam como se acreditassem nisso.
Por exemplo, quando tinham que escolher entre duas salas para fazer uma atividade, uma onde pessoas haviam contado histórias felizes e outra com relatos tristes, a maioria dos participantes de ambos os países preferiu a sala “feliz”.
Isso mostra que, no fundo, mesmo os americanos céticos agem como se emoções deixassem marcas nos lugares. Na Índia, essa crença é mais aceita culturalmente, com práticas como queimar incenso para “limpar” energias negativas.
Já nos EUA, embora menos admitido, muitas pessoas também fazem rituais parecidos, como abrir janelas, usar aromaterapia ou até contratar especialistas em feng shui para “limpar” ambientes.
Portanto, o estudo sugere que, independentemente da cultura, temos uma intuição natural de que lugares podem carregar as emoções de quem passou por ali antes.