Cruzar os braços durante uma conversa é um gesto que faz parte da comunicação não verbal. Esse movimento, aparentemente simples, pode gerar diversas interpretações, desde uma postura de autoproteção até uma forma de persistência.
Porém, o significado por trás dessa ação nem sempre é óbvio, pois depende do contexto, da cultura e das emoções envolvidas na interação.
Entender o que isso realmente comunica exige observar tanto o gesto em si quanto a situação e os demais sinais corporais que o acompanham.
O que significa cruzar os braços, segundo a psicologia?

Estar mais atento à nossa linguagem corporal e aos gestos, como cruzar os braços, nos ajuda a comunicar de forma mais eficaz. Foto: Reprodução / Pexels
Segundo estudos antropológicos analisados no livro “Comunicação não verbal”, de Sergio Rulicki e Martín Cherny, cruzar os braços é frequentemente interpretado como uma barreira defensiva, mas também pode transmitir rejeição, superioridade, irritação ou até nervosismo, dependendo do contexto.
Esse gesto cria uma distância física e emocional entre as pessoas, muitas vezes sem que se perceba, podendo indicar discordância, resistência ou até insegurança.
Em situações mais tensas, quando o tronco é inclinado para trás e os dedos ficam escondidos, o gesto pode sinalizar uma recusa clara ou hostilidade, conhecido como “fechamento emocional”.
Apesar disso, cientistas de outras áreas exploraram novas interpretações para esse gesto, descobrindo que ele também pode significar:
Forma de melhorar o desempenho
Um experimento conduzido por Ron Friedman e Andrew Elliot demonstrou que participantes que cruzaram os braços enquanto tentavam resolver anagramas difíceis perseveraram por quase o dobro do tempo em comparação com aqueles que mantiveram as mãos sobre as coxas.
Além disso, os participantes com os braços cruzados também encontraram mais soluções para anagramas com múltiplas respostas.
Os pesquisadores sugerem que essa postura ativa uma associação implícita com a persistência, reforçando a motivação para superar desafios.
Proteção
Cruzar os braços é frequentemente interpretado como um gesto de proteção, criando uma barreira física entre a pessoa e seu entorno. Um estudo de 2015 investigou a relação entre cruzar os braços e uma orientação defensiva.
Os resultados mostraram que indivíduos que cruzavam os braços com mais frequência tendiam a ser mais submissos em interações sociais e mais inibidos na tomada de decisões.
Além disso, os participantes que adotaram essa postura em experimentos relataram sentir-se mais vulneráveis e propensos a evitar conflitos, optando por estratégias de fuga em vez de confronto.
Portanto, a pesquisa sugere que cruzar os braços pode ser uma resposta subconsciente a situações percebidas como ameaçadoras, oferecendo conforto e segurança emocional.
A ciência diz que cruzar os braços também pode aliviar a dor
Cruzar os braços pode reduzir a intensidade da dor, segundo um estudo realizado por cientistas da UCL e publicado na revista “PAIN“.
A pesquisa sugere que cruzar os braços sobre a linha média do corpo confunde o cérebro, criando um conflito entre os mapas cerebrais que representam o corpo e o espaço externo.
Normalmente, a mão esquerda atua no lado esquerdo do espaço e vice-versa, mas ao cruzar os braços, essa correspondência é interrompida, enfraquecendo o processamento de estímulos dolorosos.
Isso resulta em uma percepção de dor menos intensa, como demonstrado por relatos dos participantes e medições de atividade cerebral por eletroencefalografia (EEG).
O estudo utilizou um laser para gerar uma sensação de dor breve nas mãos de oito participantes, tanto com os braços cruzados quanto sem cruzá-los. Os resultados mostraram que a dor era percebida como mais fraca quando os braços estavam cruzados.
Segundo o Dr. Giandomenico Iannetti, autor principal do estudo, essa descoberta pode inspirar novas terapias clínicas para alívio da dor, explorando como o cérebro processa a relação entre o corpo e o espaço.