Falar sozinho em voz alta é um comportamento comum que muitas pessoas experimentam em diferentes fases da vida. Na infância, essa prática é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, ajudando as crianças a organizar seus pensamentos e ações.
Conforme amadurecemos, o pensamento tende a se internalizar, mas o hábito de falar sozinho em voz alta não desaparece completamente.
A psicologia indica que, embora muitas vezes seja associado a estereótipos negativos, o autodiálogo externo pode trazer benefícios que já foram comprovados por diferentes estudos.
O que significa falar sozinho em voz alta?

Existem vários benefícios potenciais associados ao autodiálogo externo. Foto: Reprodução / Pexels
1. É sinal de inteligência
Falar sozinho em voz alta pode ser um indicativo de inteligência, segundo estudos. Gary Lupyan, professor da Universidade de Wisconsin-Madison, explica que essa prática ajuda a manter informações visuais ativas na mente, facilitando a resolução de problemas.
Em um de seus experimentos, participantes que verbalizaram o nome de objetos que procuravam, como um garfo em meio a imagens aleatórias, encontraram-nos mais rapidamente do que aqueles que não o fizeram.
Isso sugere que falar em voz alta pode otimizar a memória e a atenção, tornando-se uma ferramenta útil no cotidiano, como ao procurar chaves perdidas. Adicionalmente, pode ser uma estratégia eficaz para organizar pensamentos e ações.
2. É uma estratégia de motivação
O autodiálogo externo também pode funcionar como uma ferramenta motivacional. Um estudo apontou que jogadores de basquete tiveram um desempenho melhor e mais rápido ao verbalizar seus movimentos de forma encorajadora ou instrutiva.
Isso mostra que a fala em voz alta pode ajudar a manter o foco e a direção, especialmente em situações que exigem múltiplas etapas ou decisões rápidas. A linguagem, nesse contexto, serve como um guia para organizar ações e manter a concentração.
Além disso, essa estratégia pode ser usada para autoavaliação, crítica construtiva ou até mesmo para celebrar conquistas.
Por exemplo, antes de uma reunião importante, falar em voz alta pode ajudar a ensaiar o que dizer, enquanto, após um erro, pode servir para reconfortar e planejar melhorias.
3. É uma forma de regular as emoções
Falar sozinho em voz alta também desempenha um papel importante na regulação emocional. Uma pesquisa de 2019 sugere que o autodiálogo externo pode ajudar no controle de impulsos, na orientação de ações e na gestão de sentimentos.
Ao verbalizar pensamentos, as pessoas conseguem processar melhor suas emoções, reduzindo o estresse e aumentando a clareza mental. Essa prática pode ser especialmente útil em momentos de ansiedade ou indecisão, funcionando como um mecanismo de autorregulação.
Terapeuticamente, esse hábito pode ser usado para combater pensamentos negativos. Autoafirmações positivas, por exemplo, ajudam a reverter padrões de autocrítica excessiva e a fortalecer a confiança em si.
E falar consigo na terceira pessoa?
Falar consigo na terceira pessoa também é algo completamente normal e até benéfico, especialmente em situações de estresse ou intensidade emocional.
Estudos realizados por pesquisadores da Michigan State University (MSU) e da University of Michigan (UM) indicam que essa forma de diálogo interno ajuda a criar uma distância psicológica das próprias emoções, facilitando o autocontrole.
Por exemplo, ao se referir a si pelo nome ou na terceira pessoa, como “Por que João está chateado?”, em vez de “Por que estou chateado?”, a pessoa tende a processar a situação de forma mais objetiva, como se estivesse analisando os sentimentos de outra pessoa.
Isso reduz a reatividade emocional e promove uma maior clareza mental. A eficácia dessa estratégia foi comprovada em experimentos que mediram a atividade cerebral dos participantes.
Em um deles, ao visualizar imagens perturbadoras e refletir sobre elas na terceira pessoa, os indivíduos apresentaram uma diminuição rápida da atividade cerebral relacionada às emoções negativas.
Outro experimento, que envolveu a reflexão sobre experiências dolorosas do passado, mostrou que a conversa interna na terceira pessoa reduziu a atividade em áreas do cérebro associadas ao sofrimento emocional, reforçando sua utilidade para lidar com sentimentos difíceis.