Não é água: o que os camelos armazenam em suas corcovas?

Seria um líquido? Uma camada de pele? Um truque mágico para ajudar no calor? Descubra

Eles cruzam os desertos mais escaldantes, percorrem distâncias longas sob o sol e resistem dias sem beber uma gota d’água sequer.

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Símbolos de resistência e adaptação, os camelos há séculos despertam curiosidade, especialmente por causa de suas famosas corcovas.

Algumas perguntas são pertinentes: afinal, o que esses animais realmente carregam ali? Seria água? E para que servem? As respostas podem surpreender até quem acha que já conhece bem o mundo animal. Vamos descobrir?

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O que os camelos armazenam em suas corcovas?

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Os camelos não armazenam nenhum líquido em suas corcovas. Foto: Reprodução / Pexels

Antes de chegarmos às respostas que povoam o imaginário coletivo, é importante lembrar que o camelo não é só “um” camelo; ou seja, não estamos falando de um único animal.

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A família camelídea é composta por três espécies distintas, sendo que a mais comum é o dromedário, que possui uma única corcova e é típico do Norte da África e do Oriente Médio, representando 90% da população mundial de camelos.

Já o camelo-bactriano, mais robusto e peludo, ostenta duas corcovas e é nativo da Ásia Central. Existe ainda o camelo selvagem, uma espécie rara e ameaçada, que vive em liberdade no deserto de Gobi, entre a Mongólia e a China, e que nunca foi domesticado.

Mas agora, é hora de responder à pergunta que não quer calar.

Ao contrário do que muitos pensam, a mítica habilidade dos camelos de resistirem longos períodos sem beber não se deve a um compartimento mágico de água nas costas. Aquelas corcovas são, na verdade, depósitos de gordura, e não de água.

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Esse acúmulo serve como reserva de energia em períodos de escassez. Quando a comida ou a água são difíceis de encontrar, o corpo do camelo quebra essa gordura para manter as funções vitais.

À medida que a reserva vai sendo consumida, a corcova perde volume e pode até desabar temporariamente para o lado, como se estivesse murchando.

Esse processo de armazenar gordura em um único ponto do corpo, em vez de distribuí-la em uma camada sob a pele como a maioria dos demais mamíferos, também tem uma vantagem térmica.

A reserva ajuda os camelos a manterem o restante do corpo menos isolado, permitindo que o calor escape com mais facilidade, o que é fundamental em regiões quentes como os desertos.

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Mas as vantagens evolutivas desse animal não param por aí.

Máquina de sobrevivência

Os camelos são verdadeiras maravilhas evolutivas. Adaptados a extremos térmicos, eles suportam desde 49 ºC sob o sol até temperaturas congelantes de -40 ºC. O pelo espesso do camelo-bactriano, por exemplo, cresce durante o inverno, servindo como isolante térmico.

Esses animais podem ficar uma semana inteira sem água e, ainda assim, continuar ativos. Quando têm a chance de se hidratar, compensam com vontade: um camelo sedento é capaz de consumir até 130 litros de água em cerca de 13 minutos.

Sua eficiência no uso da água é impressionante. A transpiração, que seria um grande gasto hídrico, é controlada com precisão. A temperatura corporal do camelo pode variar ao longo do dia, o que reduz a necessidade de suar.

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O camelo só começa a suar de verdade quando o corpo alcança cerca de 41 ºC, e mesmo assim apenas nas horas mais quentes, economizando cada gota de líquido possível.

E, acredite, aquele “casaco” de pelos ajuda bastante. Embora pareça contraproducente usar um manto espesso no deserto, o pelo grosso impede que o calor do ambiente penetre no corpo, funcionando como um escudo térmico.

O resultado disso? Um animal que consome menos de meio litro de água por hora, mesmo pesando até 600 quilos.

Para além do deserto

Os superpoderes dos camelos vão muito além da biologia. Em regiões áridas da África e da Ásia, por exemplo, eles sustentam comunidades inteiras com leite, carne, lã e transporte.

Sua capacidade de sobreviver com pouca água e se alimentar de vegetação seca tem levado muitos pastores a trocarem o gado tradicional por camelos, mais resilientes às mudanças climáticas.

O leite de camela, inclusive, é rico em nutrientes e mais tolerado por pessoas com alergia à lactose. Para muitas famílias, ele representa segurança alimentar e renda em tempos de seca.

Esses animais também exercem um papel ecológico vital. Ao pastarem em terrenos hostis, dispersam sementes e promovem a biodiversidade. Seus cascos macios evitam compactar o solo, ajudando a manter o equilíbrio dos ecossistemas.

Toda essa importância fez com que a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) declarasse 2024 o Ano Internacional dos Camelídeos, destacando o papel dos animais na segurança climática, alimentar e na conservação do meio ambiente.

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