A imagem clássica de um oceano sereno, com águas transparentes refletindo o brilho do sol, está se transformando diante de nossos olhos.
Esse cenário paradisíaco, tão associado a momentos de tranquilidade, está dando lugar a uma realidade preocupante: as águas estão se tornando mais verdes.
E essa alteração não se resume a um simples fenômeno visual – é um sinal alarmante das profundas transformações que estão afetando os ecossistemas marinhos.
Por que o oceano está ficando esverdeado?

A mudança na cor das águas é um indicador crítico de alterações na química e biologia dos oceanos. Foto: Reprodução / Pexels
A coloração azul-esverdeada dos oceanos deve-se ao aumento do fitoplâncton, pequenas algas presentes nas camadas superficiais. Essas algas contêm clorofila, um pigmento que absorve luz azul e vermelha, refletindo tonalidades esverdeadas.
Um estudo publicado na “Nature“, conduzido por pesquisadores do Centro Nacional de Oceanografia de Southampton, analisou dados coletados pelo satélite AQUA da NASA ao longo de 20 anos.
Utilizando o instrumento MODIS, os cientistas mediram a cor dos oceanos, observando uma mudança significativa de tons azuis para verdes, especialmente em regiões equatoriais.
Essa alteração, detectada em 56% das águas superficiais do planeta, está ligada a mudanças na composição do fitoplâncton, indicando transformações no ecossistema marinho.
O que é fitoplâncton?
O fitoplâncton é um conjunto de organismos vegetais que se deslocam com as correntes e desempenham um papel vital nos ecossistemas aquáticos. Ele atua como a base da cadeia alimentar e do ciclo do carbono, contribuindo para o equilíbrio ambiental.
Por meio da fotossíntese, esses microrganismos convertem o dióxido de carbono em matéria orgânica e oxigênio, essenciais para diversas formas de vida. Sua importância é evidente na produção de mais da metade do oxigênio presente na atmosfera e na absorção de CO₂.
Segundo relatórios recentes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, estima-se que até 2100 o fitoplâncton será responsável pela absorção de 5 a 17% do dióxido de carbono atmosférico.
Impacto das mudanças climáticas
Os pesquisadores associaram a alteração na cor dos oceanos ao impacto das mudanças climáticas, que afetam a distribuição e a concentração desses microrganismos.
Para confirmar essa relação, os autores criaram dois modelos computacionais: um simulando altas emissões de gases de efeito estufa (similar ao cenário atual) e outro com baixas emissões.
A comparação entre os dados reais e os modelos sugeriu que o aquecimento global influencia diretamente a mudança na cor das águas.
No entanto, eles destacam a necessidade de mais pesquisas, combinando dados de satélite com análises bioquímicas, para entender melhor as variações naturais e as consequências a longo prazo.
Isso é ruim para os humanos e para a biodiversidade marinha?
Apesar de não causar nenhum prejuízo direto aos seres humanos, o fenômeno está ligado a alterações nas populações de fitoplâncton, que são a base da cadeia alimentar marinha.
Se espécies menos eficientes na absorção de CO₂ e na produção de oxigênio predominarem, isso pode reduzir a capacidade dos oceanos de regular o clima e afetar a pesca, impactando a segurança alimentar de milhões de pessoas.
Além disso, a perda de biodiversidade marinha pode desequilibrar ecossistemas inteiros, ameaçando espécies que dependem do plâncton para sobreviver, como peixes e mamíferos aquáticos.
Para os humanos, os efeitos indiretos são significativos: oceanos menos produtivos podem prejudicar economias dependentes da pesca e do turismo, enquanto a redução na absorção de CO₂ agrava as mudanças climáticas.
A acidificação e o aumento da temperatura das águas, somados a esse cenário, criam um ciclo vicioso que ameaça recifes de coral, estoques pesqueiros e até a produção de oxigênio.
Portanto, esse fenômeno é mais um sinal alarmante de que os ecossistemas marinhos estão sob estresse, exigindo ações urgentes para reduzir emissões e proteger a vida nos oceanos.