Se você se deparou com um bebê e está em dúvida sobre como chamá-lo, se é “nenê” ou “neném”, saiba que esta é uma dúvida muito comum.
Na língua portuguesa, existe uma regra chamada “dupla grafia”, que fornece duas possibilidades de escrever a mesma palavra. Continue lendo e entenda a seguir.
O que é dupla grafia?
A dupla grafia refere-se à validade de duas formas diferentes de escrever a mesma palavra.
Nesse sentido, “nenê” e “neném” são ambas aceitas e estão corretas gramaticalmente. Outros exemplos incluem:
- Amídala/Amígdala;
- Assoalho/Soalho;
- Bravo/Brabo;
- Cãibra/Câimbra;
- Cociente/Quociente;
- Enfarte/Infarto;
- Maquiagem/Maquilagem;
- Relampear/Relampejar;
- Selvageria/Selvajaria;
- Taberna/Taverna.
O certo é “Nenê” ou “neném”?
Como visto acima, ambas palavras estão corretas devido à dupla grafia. A existência desses termos está ligada às origens linguísticas que moldam a formação de certos vocábulos.
Assim, é correto utilizar a grafia que se alinha com a etimologia e a história da palavra, bem como a que corresponde à pronúncia.
Em alguns casos, a dupla grafia é aceita devido à variação na pronúncia de consoantes, que podem ser mudas ou sonoras dependendo da variante da língua.
Exemplos com “nenê”:
- Como se chama aquele nenê?;
- Sua nenê é uma gracinha;
- Comprei um brinquedo novo para o nenê.
Exemplos com “neném”:
- O neném não para de chorar;
- O neném se alimentou quantas vezes hoje?;
- Fiz uma visita ao neném da minha prima.
Substantivo sobrecomum
No caso de “neném”, trata-se de um substantivo sobrecomum, o que significa que ele não varia entre masculino e feminino.
Tradicionalmente, o correto seria usar sempre o artigo masculino “o” antes de “neném”, independentemente do gênero da criança. Confira alguns exemplos:
- Minha sobrinha é um neném muito lindo;
- Aquele neném é uma menininha fofa.
Por outro lado, “bebê” é um substantivo comum de dois gêneros, aceitando tanto “o” quanto “a” como artigos.
Contudo, há divergências entre dicionários e gramáticos sobre essa regra. Alguns dicionários, como o Houaiss e o Aulete, aceitam “neném” como comum de dois gêneros, permitindo o uso do artigo feminino.
Já outros, como o Aurélio e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), mantêm a tradição do substantivo sobrecomum.
Origem dos nomes “bebê” e “neném”
A nomenclatura “bebê” e “nenê” ou “neném” para crianças pequenas tem origens distintas e interessantes. “Bebê” é derivado do francês, inicialmente um apelido de Nicolas Ferry, que era de estatura baixa.
Com o tempo, o termo evoluiu para designar crianças pequenas em geral, inclusive no Brasil. Por outro lado, “nenê” e “neném” têm raízes no Brasil, durante o período da escravidão indígena.
As mulheres indígenas, que atuavam como babás para as famílias lusitanas, usavam a expressão “nê” – que em tupi significa “feder” – ao se referirem às crianças que ficavam sujas após defecar, pois eram prontamente limpas e não usavam fraldas.
As mães portuguesas interpretavam erradamente que as babás estavam elogiando seus filhos e começaram a chamá-los de “nenês”, não sabendo que “nê” indicava mau cheiro.
Assim, a palavra que originalmente significava “muito fedido” se transformou em um termo carinhoso para se referir a crianças de colo no Brasil.
Essa história foi descoberta anos mais tarde, revelando uma ironia linguística na forma como os brasileiros se referem aos seus filhos.