No coração selvagem da África do Sul, abrangendo quase dois milhões de hectares, leões, leopardos, elefantes, búfalos e rinocerontes desfrutam da liberdade na vida na savana. O renomado Parque Nacional Kruger atrai mais de um milhão de visitantes anualmente, ansiosos por testemunhar a abundância e diversidade de animais que tornam este lugar singular.
Embora o leão seja amplamente considerado o “rei” dessas terras, com seu rugido imponente, um estudo recente revelou a existência de um som ainda mais intimidante e poderoso do que o rugido deste animal.
Qual é o som mais temido da savana?
De acordo com o estudo, realizado no Parque Nacional Kruger por pesquisadores da Universidade Ocidental do Canadá, tanto herbívoros quanto predadores mostram mais temor em relação a uma espécie diferente: os humanos.
O experimento consistiu em medir o tempo de reação dos animais que fugiram ao ouvirem vozes humanas. Utilizando uma câmera com sensor que reproduzia gravações de pessoas, os especialistas identificaram padrões ao reconhecer movimentos a menos de 10 metros de distância.
O dispositivo foi posicionado em um bebedouro frequentado por uma variedade de espécies, desde antílopes até leopardos que se aproximavam para matar a sede a qualquer hora do dia ou da noite.
Em 95% das situações, os animais demonstraram uma resposta mais rápida e de fuga imediata ao som de um humano em comparação com o rugido de um leão.
Girafas, zebras, hienas e outros revelaram, por meio de suas reações autodefensivas à voz humana, que a vida selvagem nos percebe como superpredadores, elevando-nos muito acima de qualquer outra ameaça.
Para os pesquisadores, esses resultados fazem sentido se o território onde vivem os animais for contextualizado. O Parque Nacional Kruger, na África do Sul, é uma área protegida com uma das maiores populações de leões do mundo.
Além disso, a regiao tem sido afetada por caçadores ilegais que usam cães para assustar suas presas e levá-las para armadilhas. Segundo o estudo, eles muitas vezes imitam o comportamento dos leões, aproveitando o momento em que a presa vem beber água de um poço.
Os biólogos consideram que a interferência humana no ecossistema da savana modificou os comportamentos e instintos dos animais.
Medo varia conforme a espécie
O estudo também revelou que o medo era mais pronunciado em espécies de tamanho médio, como impalas e javalis, devido à sua capacidade de fugir ser mais imediata em comparação com espécies maiores, como elefantes, rinocerontes ou búfalos.
A principal autora da investigação, Liana Zanette, da Western University, no Canadá, ressaltou em comunicado que “a presença generalizada do medo em toda a comunidade de mamíferos da savana é um testemunho real do impacto ambiental causado pelos humanos”, e que “isso os amedronta muito mais do que qualquer outro predador”.
A apreensão dos mamíferos em relação aos humanos parece ser profundamente arraigada e abrangente na comunidade africana, levantando preocupações sobre a conservação dessas espécies em um mundo cada vez mais dominado pela atividade humana.
Os pesquisadores continuam a investigar os efeitos deste experimento, explorando se pode oferecer alguma vantagem na proteção de animais ameaçados, como o rinoceronte-branco-do-sul, em áreas conhecidas por atividades de caça furtiva na África do Sul.