O português e o espanhol, ambos provenientes das línguas românicas, possuem uma semelhança lexical bastante expressiva, ou seja, apresentam termos muito parecidos em seu vocabulário.
Apesar dessa proximidade, existe uma letra comum no alfabeto português que não existe no espanhol moderno.
Em contrapartida, a letra “ñ” não está presente no nosso alfabeto. A título de curiosidade, a letra “ñ” surgiu na Idade Média como uma maneira de economizar espaço em pergaminhos ao substituir o uso de “nn” por um único caractere.
Foi o rei Afonso X de Castela que promoveu essa mudança para simplificar a escrita. Em 1803, a Real Academia Española oficializou o seu uso ao incluí-la em seu dicionário.
Atualmente, ela tem o mesmo valor fonético que “nh” em português, sendo pronunciada como “enhe”.
Qual é a letra comum no português que não existe no espanhol?
A letra cê-cedilha (ç) é a letra comum do alfabeto português que não se encontra no alfabeto espanhol moderno. Ironicamente, sua origem é castelhana e remonta à Idade Média.
Naquela época, os sons /ts/ e /dz/ eram identificados pela letra “c” com um miúdo “z” abaixo, uma prática antiga dos Visigodos na Península Ibérica.
No espanhol medieval, era comum encontrar palavras como “corazón”, “cabeza” e “gracia” escritas com a cedilha.
Com o passar do tempo, a cedilha foi adotada por outras línguas, incluindo o português e o francês. Contudo, por volta do século XVIII, o espanhol deixou de utilizá-la.
A letra “z” começou a ser colocada antes das vogais “a”, “o” e “u”, e “c” permaneceu antes de “e” e “i”, resultando em mudanças na ortografia, como “cabeza”, “corazón” e “azúcar”.
O português, por outro lado, manteve o uso do “ç” na sua ortografia para representar o som /s/ antes de “a”, “o” e “u”.
Como o espanhol surgiu?
O espanhol é uma língua românica derivada do latim, mas mantém traços das línguas faladas na Península Ibérica antes da chegada dos romanos.
Com a conquista romana a partir de 218 a.C., as línguas pré-romanas, exceto o basco, foram substituídas pelo latim vulgar.
No século V, a Península foi invadida por povos germânicos, mas eles não alteraram significativamente o panorama linguístico. Mas, algumas palavras de origem germânica foram incorporadas ao vocabulário.
O castelhano, precursor do espanhol moderno, surgiu de uma evolução do latim em uma pequena região do norte da Espanha, distinguindo-se dos demais dialetos românicos por sua inovação.
Características únicas do castelhano incluíam a transformação do “f” inicial latino em “h” aspirado, que eventualmente deixou de ser pronunciado, e o desenvolvimento de ditongos a partir de vogais curtas e tônicas latinas.
Durante a Idade Média, o castelhano se expandiu, prevalecendo sobre outros dialetos e absorvendo línguas moçárabes à medida que a Reconquista avançava.
Nos séculos XVI e XVII, conhecido como a Idade de Ouro, o espanhol passou por um processo de padronização gráfica, lexical e sintática, muito impulsionado pela imprensa.
A Real Academia Espanhola, fundada em 1713, teve um papel importante na definição do padrão linguístico, que se manteve praticamente inalterado até os dias de hoje.