A resistência humana ao frio extremo é um tema que desafia os limites da sobrevivência. Em 10 de agosto de 2010, satélites da NASA registraram na Antártida uma temperatura de -93,2 °C (-135,8 °F), possivelmente a mais baixa já documentada no planeta.
Anteriormente, em 1983, a estação russa Vostok já havia marcado -89,2 °C (-128,6 °F), comprovando que regiões polares em altas altitudes podem atingir patamares gélidos inimagináveis.
Diante desses extremos, surge a pergunta: qual é a menor temperatura que o ser humano consegue suportar? A resposta depende de certos fatores que, juntos, determinam o limiar entre a resistência e o risco letal.
Qual é a menor temperatura que alguém consegue suportar?

O frio extremo representa um desafio severo à sobrevivência humana, exigindo cuidados específicos para evitar danos irreversíveis. Foto: Reprodução / Pexels
A menor temperatura que uma pessoa consegue suportar depende de aspectos como vestimenta, tempo de exposição e condições ambientais. O corpo humano tem uma temperatura normal de aproximadamente 37 °C.
Essa temperatura é essencial para o funcionamento adequado dos órgãos e processos biológicos. Quando fica muito frio, o corpo precisa usar mecanismos para manter esse equilíbrio térmico.
Um dos primeiros processos que ocorrem é a vasoconstrição, que reduz o fluxo sanguíneo para as extremidades, como mãos e pés, mantendo o calor concentrado nos órgãos vitais.
Porém, em temperaturas extremamente baixas, como -34 °C, a capacidade de defesa do corpo contra o frio é insuficiente, e a hipotermia pode se instalar em apenas 10 minutos se a pessoa não estiver adequadamente vestida.
A hipotermia acontece quando a temperatura corporal cai abaixo de 35 °C, impedindo o corpo de gerar calor suficiente.
Em condições ainda mais extremas, como -40 °C a -45 °C, esse processo ocorre em 5 a 7 minutos, segundo o Dr. Robert Glatter, médico de emergência do Hospital Lenox Hill, em entrevista à Live Science.
Estágios da hipotermia
A hipotermia ocorre em três estágios.
Estágio leve
O corpo acelera o coração, a respiração e a pressão arterial. Tremores e contração muscular ajudam a gerar calor, enquanto o sangue é redirecionado para órgãos vitais, podendo aumentar a necessidade de urinar.
Confusão e dificuldade motora podem surgir.
Estágio moderado
Os tremores cessam, indicando falha na geração de calor. A respiração, a frequência cardíaca e a pressão arterial diminuem. A resposta aos estímulos externos fica comprometida, e a pessoa pode começar a perder a consciência.
Estágio grave
O coração e os pulmões falham devido à circulação reduzida. A pessoa geralmente perde a consciência, e o risco de morte é alto. A cada queda de 5 °C na temperatura, o perigo aumenta significativamente.
Estudos indicam que a redução de 5 °C na temperatura corporal aumenta em 1,6 vezes o risco de lesões graves ou morte.
Portanto, não há um consenso exato sobre o limite mínimo de temperatura que uma pessoa pode suportar, mas especialistas apontam que, ao ultrapassar o limite de temperatura corporal de 37 °C, a sobrevivência pode ser comprometida em poucas horas.
Recorde de sobrevivência à temperatura corporal mais baixa já registrada
Em maio de 1999, a radiologista Anna Bågenholm enfrentou um dos casos mais extremos de hipotermia já registrados. Durante um dia de esqui nas montanhas da Noruega, ela perdeu o controle e caiu em um riacho congelado, ficando presa sob o gelo.
Apesar dos esforços dos amigos para resgatá-la, ela permaneceu submersa por 80 minutos, chegando ao hospital com uma temperatura corporal de apenas 13,7 °C.
Clinicamente morta, sem batimentos cardíacos ou sinais de vida, os médicos decidiram tentar uma abordagem inédita. Conectaram Bågenholm a uma máquina coração-pulmão, que aqueceu gradualmente seu sangue antes de reintroduzi-lo no corpo.
Surpreendentemente, após horas de aquecimento controlado, seu coração voltou a bater e seu corpo começou a reagir. Embora tenha demorado mais de um ano para recuperar os movimentos devido a danos nos nervos, Bågenholm se recuperou completamente.
O caso dela foi documentado como um dos mais impressionantes da medicina, sendo registrado em um estudo científico publicado na revista “The Lancet” e incluído nos livros de recordes devido à sua extraordinária sobrevivência à hipotermia extrema.