Você consegue imaginar um animal que, em vez de seguir o curso natural da vida, envelhecendo e chegando ao fim, é capaz de dar uma “volta no tempo” e retornar à sua forma mais jovem? Esse é o caso de uma pequena criatura marinha que desafia as regras do envelhecimento.
Quando enfrenta situações difíceis, como falta de alimento ou danos físicos, ela consegue reverter seu ciclo de vida, voltando ao estágio inicial de desenvolvimento.
Essa habilidade única não só a torna praticamente imortal, mas também desperta a curiosidade dos cientistas, que veem nela uma oportunidade para entender melhor os segredos da longevidade e da regeneração.
Qual é o animal que reverte o ciclo da vida e volta a ser jovem?

A água-viva Turritopsis dohrnii é capaz de reverter seu processo de envelhecimento, abrindo novas portas para a pesquisa científica. Foto: Reprodução / Pixabay
O animal marinho que desafia as regras do envelhecimento é a Turritopsis dohrnii, também conhecida como “água-viva imortal”. Um estudo realizado pela Universidade de Oviedo explorou o genoma dessa água-viva para entender como ela consegue rejuvenescer.
Com técnicas avançadas de sequenciamento genético, os pesquisadores identificaram processos biológicos que permitem que suas células se “desdiferenciem”, ou seja, voltem a um estado mais primitivo e pluripotente, capaz de se transformar em qualquer tipo de célula.
As investigações nessa área partem do princípio de que todos os organismos compartilham um ancestral comum. Ao longo da evolução, o DNA permitiu que as espécies se adaptassem a ambientes extremos e desenvolvessem estratégias específicas para sobreviver.
Desenvolvimento reverso
Apesar de ser frequentemente chamada de “imortal”, os especialistas alertam que essa classificação pode ser enganosa.
Essa espécie pode morrer caso suas funções vitais sejam comprometidas, mas o que a torna verdadeiramente fascinante é sua capacidade de passar por um processo conhecido como “desenvolvimento reverso”.
Após atingir a fase adulta, ela consegue regredir a um estágio juvenil, quase embrionário, e repetir esse ciclo de forma contínua. Essa característica é única e a diferencia de outras águas-vivas, que só conseguem reverter seu desenvolvimento antes de alcançar a maturidade reprodutiva.
No caso da Turritopsis dohrnii, o rejuvenescimento acontece após a reprodução, permitindo que ela escape do envelhecimento convencional. O tema é bastante discutido por cientistas bioquímicos, que veem nesse mecanismo um potencial revolucionário para a medicina.
Implicações para o envelhecimento humano
Um artigo recente publicado na Revista Espanhola de Geriatria e Gerontologia investigou as características regenerativas da “água-viva imortal” e suas possíveis implicações para o envelhecimento humano.
Os pesquisadores exploraram como seu mecanismo de regeneração celular (transdiferenciação) poderia ser aplicado para entender melhor o envelhecimento humano e desenvolver tratamentos mais eficazes para doenças como o câncer.
A equipe revisou artigos científicos para analisar os processos biológicos envolvidos nesse ciclo e compará-los com os mecanismos celulares humanos.
A pesquisa destacou que, enquanto a Turritopsis dohrnii usa a transdiferenciação para se regenerar e evitar o envelhecimento, em humanos esse mesmo processo está associado a riscos, como o aumento da atividade oncogênica e danos ao DNA.
Isso ocorre porque, nas águas-vivas, a prioridade é manter a qualidade do DNA, enquanto nos humanos a disfunção dos telômeros e o estresse oxidativo durante a reprogramação celular podem levar ao câncer.
O estudo conclui que, embora o modelo da T. dohrnii ofereça visões importantes sobre rejuvenescimento e regeneração, é necessário cautela ao aplicar esses conceitos em humanos, devido às diferenças biológicas e aos riscos associados.