Este animal arranca a própria cabeça para gerar um novo corpo

A descoberta revela um tipo inédito de autotomia, em que animais com estruturas corporais complexas descartam a maior parte de seus corpos.

Parece ficção científica, mas é realidade: uma criatura marinha é capaz de se autodecapitar e, a partir da cabeça, regenerar um corpo inteiro. Na verdade, a cabeça sobrevive sozinha, alimentando-se de algas até reconstruir órgãos, coração e um novo sistema digestivo.

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Enquanto isso, o corpo é abandonado. No entanto, ele ainda pode continuar se movendo ao ser tocado por dias ou até meses.

Cientistas investigam o que levou esse animal a evoluir um mecanismo tão radical e como essa capacidade pode revolucionar nosso entendimento sobre regeneração celular.

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Lesma marinha pode cortar sua cabeça e criar um corpo inteiro novo até duas vezes. Foto: Reprodução / Pexels

Em um estudo publicado na revista “Current Biology“, duas espécies de lesmas-do-mar, Elysia atroviridis e Elysia cf. marginata, demonstraram a capacidade de se autodecapitar — ou seja, arrancar a própria cabeça — e depois regenerar um corpo inteiro, incluindo coração e outros órgãos vitais.

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Os autores sugerem que, durante esse processo, essas lesmas podem sobreviver graças à fotossíntese realizada pelos cloroplastos que absorvem das algas que consomem em sua dieta.

Sayaka Mitoh, pesquisadora da Universidade Feminina de Nara, no Japão, ficou surpresa ao observar a cabeça de uma lesma se movendo sozinha após se separar do corpo.

“Achamos que ela morreria rapidamente sem órgãos essenciais, como o coração, mas ficamos ainda mais espantados ao ver a regeneração completa do corpo”, relatou.

A descoberta aconteceu por acaso, quando Mitoh, estudante de doutorado no laboratório de Yoichi Yusa, observou uma lesma se locomovendo sem seu corpo — e, em alguns casos, o fenômeno ocorreu até duas vezes no mesmo indivíduo.

Tempo de regeneração

Os experimentos mostraram que, após a separação, a cabeça da lesma começava a se mover sozinha, e a ferida cicatrizava em poucos dias.

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Lesmas mais jovens retomavam a alimentação em horas e regeneravam o coração em uma semana, completando o processo em cerca de três semanas.

Já as mais velhas não se alimentavam e morriam em aproximadamente dez dias. Curiosamente, os corpos descartados não regeneravam novas cabeças, mas continuavam a se mover e reagir ao toque por dias ou até meses.

Causas do comportamento não foram esclarecidas

Os cientistas ainda não compreendem completamente como as lesmas marinhas conseguem regenerar seus corpos após a autodecapitação, mas acreditam que células-tronco presentes na extremidade cortada do pescoço sejam responsáveis por esse processo.

A razão por trás desse comportamento também permanece incerta, embora uma hipótese sugira que ele possa ajudar a eliminar parasitas internos que interferem na reprodução.

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Além disso, os pesquisadores não identificaram qual gatilho imediato leva esses animais a se livrarem do resto do corpo, deixando essas questões como temas para pesquisas futuras.

Lesmas também realizam cleptoplastia

Essas lesmas marinhas já se destacavam por sua capacidade de incorporar cloroplastos das algas que consomem, um fenômeno chamado cleptoplastia, permitindo que realizem fotossíntese para obter energia.

Os cientistas sugerem que essa habilidade pode ser fundamental para sua sobrevivência após a autodecapitação, alimentando a cabeça até que um novo corpo se regenere.

No caso da espécie Elysia cf. marginata, o corpo perdido corresponde a mais de 80% do peso total, enquanto a cabeça consegue sobreviver e se regenerar.

Mitoh destaca que, como o corpo abandonado permanece ativo por meses, ele pode ser usado para investigar os mecanismos da cleptoplastia em órgãos, tecidos e células vivos — algo raro nos estudos atuais, que geralmente se concentram em análises genéticas ou individuais.

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