Mamíferos placentários, como o ser humano, respiram livremente pela primeira vez após o nascimento, enquanto aves e répteis, que eclodem de ovos, utilizam um método diferente para respirar.
O ovo de ave, aparentemente isolado, permite que o embrião obtenha oxigênio por meio de certos elementos presentes na casca que facilitam a troca de gases. Entenda como este processo funciona a seguir.
Como os filhotes de pássaros respiram dentro do ovo?
Os ovos de aves possuem uma casca externa resistente, contendo albumina (clara) e vitelo (gema). Em ovos fertilizados, o embrião desenvolve-se utilizando o vitelo como fonte de nutrição.
Além de nutrição, o ovo fornece proteção ao embrião, que também necessita de oxigênio para sobreviver.
Diferentemente dos mamíferos, que recebem oxigênio pelo cordão umbilical, as aves obtêm o gás dentro do ovo através de um mecanismo especializado.
Esse mecanismo consiste em duas membranas localizadas sob a casca do ovo, que funcionam de maneira similar ao tecido pulmonar, permitindo a troca gasosa entre o sangue do embrião e o ambiente externo.
Quando os ovos são postos, o resfriamento causa uma contração do conteúdo interno, resultando na formação de uma câmara de ar entre as membranas.
O embrião respira oxigênio dessa câmara e expele dióxido de carbono (CO₂). O oxigênio penetra no ovo por meio de milhares de poros microscópicos na casca, que também facilitam a saída do CO₂.
Os poros presentes na casca são fundamentais, pois permitem que a umidade penetre no ovo e previnem o ressecamento do embrião e seus componentes.
Isso explica por que os ovos cozidos geralmente são mais pesados que os crus; o cozimento sela os poros, impedindo a movimentação da umidade.
Portanto, a casca funciona de maneira similar a um pulmão, facilitando a difusão de gases, até que o pássaro possa respirar independentemente, conforme descrito por uma pesquisa da Universidade de Utah.
E os filhotes de répteis?
Os ovos de répteis também permitem a troca de gases através de poros, como explica um estudo da Universidade de Cambridge.
Os répteis iniciam suas vidas como embriões em ovos amnióticos. Esses ovos possuem uma membrana amniótica que os protege e são maiores do que os ovos sem essa estrutura.
A gema fornece nutrição ao embrião, enquanto uma membrana separada elimina resíduos e permite a troca gasosa.
Geralmente, os ovos são enterrados ou colocados no subsolo após a fertilização. Nesse sentido, alguns répteis, como a cobra-liga-comum, dão à luz filhotes vivos, enquanto outros mantêm os ovos dentro até a eclosão.
Mecanismo evolutivo de sobrevivência
A respiração no ovo representa um mecanismo evolutivo de sobrevivência que se desenvolveu para garantir a continuidade da vida em condições onde a gestação interna não era viável ou ainda não havia evoluído.
Nossos ancestrais vertebrados, que botavam ovos, estavam sujeitos a um ambiente onde a proteção e nutrição do embrião tinham que ser asseguradas externamente.
Com efeito, a capacidade de respirar dentro do ovo permitiu que os embriões se desenvolvessem em um ambiente controlado, protegidos de predadores e variações climáticas, enquanto ainda recebiam oxigênio e eliminavam resíduos.
Por outro lado, o sistema de troca gasosa através da casca é uma adaptação que permitiu a sobrevivência em terra firme, longe da água, onde muitos vertebrados começaram suas vidas.
Com o tempo, a evolução favoreceu a diversificação das estratégias reprodutivas, levando ao surgimento de espécies vivíparas.
No entanto, a reprodução ovípara continuou sendo eficaz, visto que muitas aves e répteis ainda se reproduzem dessa maneira.
Por fim, estudos recentes revelam que a existência de espécies com reprodução bimodal, como o lagarto-de-três-dedos, ilustra a complexidade e a flexibilidade desses mecanismos evolutivos.