As tartarugas marinhas são conhecidas por sua habilidade impressionante de navegação. Capazes de percorrer milhares de quilômetros pelo oceano, elas sempre encontram o mesmo lugar onde nasceram para desovar após décadas, um comportamento conhecido como filopatria.
Este fenômeno é possível graças a um sistema de orientação natural, comparável a um GPS interno, que lhes permite encontrar com precisão a posição desejada após longas viagens.
Como as tartarugas encontram o mesmo lugar onde nasceram para se reproduzir?
As tartarugas marinhas, através da interpretação de pequenas variações no campo magnético da Terra, conseguem uma precisão de posicionamento global.
Essa habilidade, detalhada em um estudo publicado na revista científica Current Biology, explica porque elas sempre retornam para desovarem na mesma praia ou em praias próximas ao local onde nasceram.
Especialistas da Universidade da Carolina do Norte descobriram que as tartarugas-cabeçudas (Caretta caretta) colocam seus ovos a pouco mais de 60 quilômetros de onde nasceram.
Elas são capazes de detectar tanto a intensidade quanto o ângulo de inclinação do campo magnético em relação à superfície da Terra, o que orienta sua navegação.
No ambiente oceânico, a variação na intensidade e no ângulo do campo magnético forma uma rede comparável às coordenadas de longitude e latitude, permitindo que cada ponto no oceano seja determinado por uma combinação única desses dois parâmetros. Essa orientação magnética guia as tartarugas em suas longas migrações.
Para conduzir o estudo, os cientistas analisaram o DNA de mais de 800 tartarugas cabeçudas, monitorando suas trajetórias desde a Carolina do Norte até a África.
Constatou-se que as tartarugas que nidificam em áreas próximas compartilham uma assinatura genética semelhante, sugerindo que a variação no campo magnético ao redor das áreas de nidificação é um fator determinante para a diferenciação genética, mais do que a própria distância geográfica.
Tartarugas machos também retornam ao local de origem
Tradicionalmente, acreditava-se que apenas as fêmeas retornavam às praias onde nasceram para depositar seus ovos, após acasalarem com machos de diferentes regiões.
Contudo, um estudo da Universidade de Barcelona indica que a maioria dos machos de tartaruga marinha também retorna às proximidades das praias onde nasceram para se reproduzir, revelando um comportamento reprodutivo mais complexo do que se imaginava.
A equipe de pesquisadores ampliou a quantidade de marcadores microssatélites para estudar o fluxo gênico entre populações de tartarugas-cabeçudas no Mediterrâneo.
Os achados indicam uma maior variação genética entre as praias de nidificação nessa região e sugerem a possibilidade de acasalamento das tartarugas tanto nas áreas de alimentação quanto durante o deslocamento.
Nesse sentido, a filopatria é observada em ambos os sexos na maioria dos casos, embora também ocorra reprodução oportunista entre tartarugas de áreas distintas. Este fenômeno pode ser influenciado por hipóteses que ainda precisam ser testadas em futuras pesquisas.
Por fim, os autores afirmam que a temperatura de incubação determina o sexo das tartarugas marinhas, ou seja, se a temperatura for elevada, apenas fêmeas são geradas.
Com efeito, o aquecimento global poderia levar a uma feminização das populações, o que poderia ser contrabalançado por pareamentos oportunistas com machos de outras áreas.