Na Floresta Amazônica, vive uma ave negra e amarela que possui uma habilidade única: ela consegue reproduzir os cantos de pelo menos 20 outros animais, incluindo aves e mamíferos.
Além disso, essa espécie constrói ninhos em formato de bolsa, feitos de folhas, gravetos e capim, pendurados em colônias nas árvores mais baixas.
Esses ninhos podem chegar a medir até 70 centímetros, demonstrando o cuidado e a precisão desse pássaro na hora de criar seu lar.
Qual é a ave que imita outras espécies?

Além de ser uma excelente construtora, o xexéu ou japiim tem um talento especial para imitar sons. Foto: Reprodução / Pixabay
O xexéu (Cacicus cela), também conhecido como japiim-xexéu, japim, baguá, japi e joão-conguinho, é uma ave passeriforme da família Icteridae, encontrada em toda a Floresta Amazônica, inclusive em outros países, como Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Panamá.
Reconhecível pela plumagem negra brilhante mesclada com amarelo vivo, essa espécie destaca-se por seu talento em imitar sons de outros animais.
Os machos, em particular, utilizam essa habilidade durante a época reprodutiva para atrair fêmeas e estabelecer dominância sobre os rivais.
Seu repertório inclui imitações de espécies como gaviões, papagaios e até mesmo mamíferos, como a ariranha, incorporando esses sons a cantos complexos e estridentes.
Estudos sugerem que a variedade e a precisão das imitações estão ligadas ao sucesso reprodutivo, funcionando como um indicador de saúde e vigor. Essa estratégia também pode auxiliar na defesa do território, confundindo invasores com sons de predadores.
Comportamento e papel ecológico
O xexéu vive em grupos que constroem ninhos pendulares impressionantes, feitos de fibras vegetais, geralmente em colônias próximas a colmeias de vespas, tática que ajuda a proteger os filhotes de predadores.
Os machos são polígamos e ativos na defesa do território, enquanto as fêmeas cuidam da incubação e da alimentação dos filhotes.
Essa ave também desempenha um papel ecológico relevante como controlador de insetos e dispersor de sementes, contribuindo para a saúde das florestas onde habita.
Em 2020, ela foi avaliada pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) como “pouco preocupante”, sinalizando que, por enquanto, a espécie não está em risco de extinção.
Importância cultural
Culturalmente, o xexéu é mencionado em lendas indígenas e folclores regionais, muitas vezes simbolizando astúcia e comunicação. Segundo uma dessas narrativas, o japim era um pássaro que vivia no céu e possuía um canto encantador, capaz de acalentar Tupã.
Quando uma peste assolou as aldeias, Tupã enviou o pássaro à Terra para consolar os indígenas com sua melodia mágica, que afastou a doença e trouxe alegria. Os indígenas, agradecidos, pediram que ele ficasse, e Tupã concordou.
Porém, o japim tornou-se arrogante, abandonou seu canto sagrado para zombar dos outros pássaros, imitando-os e desprezando sua missão.
Os povos indígenas, decepcionados, recorreram a Tupã, que castigou o pássaro: ele perdeu seu canto único e foi condenado a ser perseguido por outras aves, que destruíam seus ninhos e filhotes.
Em desespero, o japim pediu ajuda às vespas, que se compadeceram e ofereceram proteção. Desde então, ele constrói seus ninhos perto de colmeias, garantindo segurança para sua prole.
Mas, como punição eterna, jamais recuperou seu canto original, condenado a apenas imitar outras aves para sempre.
Curiosidades sobre o xexéu
1. Competição vocal entre machos 🎶
Durante a época de reprodução, os machos de xexéu travam verdadeiras batalhas de canto, conhecidas como contra-canto. Eles precisam imitar e responder às melodias rivais com precisão para manter seu status na colônia.
Quem falha perde espaço na hierarquia, enquanto os melhores cantores garantem mais chances de acasalar.
2. Dieta variada 🍃
Alimenta-se principalmente de insetos e artrópodes, mas também inclui frutas e néctar em sua dieta. Curiosamente, tem preferência por mangueiras para construir seus ninhos pendulares.
3. Cortejo na estação chuvosa ⛈️
O período reprodutivo coincide com as chuvas, quando há abundância de alimento.
Os machos exibem-se cantando e realizando movimentos acrobáticos para atrair as fêmeas, que escolhem os parceiros com base na qualidade do ninho e no desempenho vocal.
4. Dimorfismo sexual 📏
Machos são significativamente maiores (27-29,5 centímetros) que as fêmeas (22-25 centímetros), uma diferença comum em aves da família Icteridae.
5. Inspiração para nome de bairro 🏘️
O bairro Japiim, em Manaus, foi oficialmente fundado em 31 de março de 1969 e recebeu esse nome em homenagem ao pássaro xexéu, muito comum na região na época.