À beira da extinção, ave alcança feito inédito e se reproduz sozinha

As aves machos podem não ser mais necessárias: essa fêmea, afinal, é capaz de se reproduzir sozinha.

A natureza está repleta das mais belas e misteriosas possibilidades. Desde plantas que sobrevivem nas condições mais adversas até seres vivos que nos fazem questionar tudo o que já aprendemos, a lista é longa. E ela continua aumentando.

continua depois da publicidade

Um exemplo envolve uma ave que, desafiando tudo e todos, faz o possível para existir no sentido mais literal: ameaçada de extinção, essa espécie alcança um feito inacreditável, conseguindo se reproduzir sem um macho.

Com isso, esse grupo se junta a outros animais na fascinante posição daqueles que não precisam de fecundação para ter sua prole.

Leia também

Mas como isso seria possível? O que explicaria a capacidade desse animal específico de se reproduzir sem acasalar? Entenda mais sobre esse fenômeno e sobre essa incrível espécie abaixo.

continua depois da publicidade

A ave capaz de reproduzir sem macho

Ave que se reproduz sozinha

O condor-da-califórnia é capaz de reproduzir sozinho até mesmo com a presença de parceiros machos. Foto: Reprodução / Pexels

Há alguns anos, cientistas do zoológico de San Diego, o San Diego Zoo Wildlife Alliance, descobriram que o condor-da-califórnia, o maior pássaro voador da América do Norte, conseguia se reproduzir de uma forma para lá de rara.

Esse fenômeno foi possibilitado por meio da partenogênese, ou seja, pela formação de um embrião a partir de um óvulo sem a introdução de espermatozoides.

Com base em um artigo publicado no Journal of Heredity, da Oxford Academic, esses estudiosos revelaram que a partenogênese foi uma observação inédita feita nos condores.

Essa descoberta levanta a hipótese de que essa poderia ter sido uma manobra de sobrevivência desses animais: os condores-da-califórnia, afinal, já enfrentavam os perigos da extinção em 1980.

continua depois da publicidade

Há décadas, os cientistas tentam livrar essas aves do desaparecimento. Em 1982, sua população total foi reduzida a apenas 22 indivíduos.

Em 2019, porém, a reprodução em cativeiro e as iniciativas de soltura aumentaram a população total para impressionantes 500 indivíduos.

Para isso, foi necessário um manejo criterioso das aves em cativeiro, especialmente em relação à seleção de machos e fêmeas que poderiam procriar e produzir descendentes saudáveis.

Um milagre surpreendente

A iniciativa dos cientistas pode até mesmo ter sido louvável, mas posteriormente foi percebido que ela pode não ter sido tão necessária assim.

Conforme os profissionais analisavam os dados genéticos, foi constatado que dois machos, conhecidos pelos números de registro SB260 e SB517, não tinham apresentado nenhuma contribuição genética paterna. Isso significa que não havia indícios de que alguma das aves fosse seus pais.

continua depois da publicidade

Basicamente, essas aves específicas vieram ao mundo por partenogênese facultativa, ou nascimento virginal.

Essa reprodução assexuada em espécies que costumam realizar reprodução sexual normalmente ocorre quando algumas células produzidas a partir do óvulo de uma fêmea se comportam como espermatozoides, fundindo-se com o óvulo.

Apesar de ser rara, a partenogênese também ocorre em lagartos, tubarões e raias.

Outras espécies em cativeiro em que foram registradas a autofecundação incluem perus, galinhas e codornas-chinesas, normalmente quando as fêmeas são mantidas sem acesso a um macho.

De qualquer forma, essa descoberta foi o primeiro registro em condores-da-califórnia. E, de forma ainda mais surpreendente, as duas aves fruto de partenogênese tiveram mães diferentes, mesmo sendo mantidas em cativeiro com machos.

Após o nascimento do SB260 e do SB517, essas mesmas mães voltaram a reproduzir com êxito com os mesmos machos, antes e depois de terem os “bebês milagrosos”.

continua depois da publicidade

Explicação do fenômeno

Em entrevista à National Geographic, Oliver Ryder, diretor de genética da conservação do San Diego Zoo Wildlife Alliance, revelou que os cientistas ainda não sabem por que isso aconteceu.

Mesmo assim, estudiosos acreditam que isso seja nada mais, nada menos que um recurso de sobrevivência: afinal, apenas 300 das espécies criticamente ameaçadas de extinção voam pelos céus dos Estados Unidos.

Existem evidências em outras espécies que podem explicar como a partenogênese pode funcionar como um último recurso para uma espécie em apuros.

Um exemplo é o peixe-serra: ameaçado de extinção de forma crítica, ele também pode estar recorrendo à partenogênese, visto que fica cada vez mais difícil encontrar parceiros sexuais na natureza.

Essa teoria, porém, pode não se aplicar aos condores-da-califórnia, com base no estudo publicado pelos cientistas do centro de San Diego.

Um dos motivos é o fato de que as fêmeas em cativeiro, que geraram as aves macho SB260 e SB517, tiveram acesso a parceiros sexuais.

Os descendentes, inclusive, não sobreviveram para se reproduzir: o SB260 morreu após menos de dois anos, e o SB517 morreu com 7 anos. Vale lembrar que os condores-da-califórnia podem viver até 60 anos.

Assim, para os pesquisadores, ainda é cedo demais para entender ou determinar a importância desse método de reprodução para a evolução da espécie. Futuramente, porém, o estudo poderá contribuir para uma compreensão melhor desse milagre.

Leia também

Concursos em sua
cidade