Licença poética

Certamente, você já deve ter cantado, dançado, lido ou assistido alguma licença poética. Ela discretamente habita entre nós, brincando com nossa imaginação.

A licença poética na música e na poesia

Quando cantamos um refrão como este:

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“ Te dei o sol, te dei o mar para ganhar seu coração” (gravado por Luan Santana).

O compositor escreve: “te dei o sol” tentando expressar que fez grande sacrifício para conquistar o coração da amada. Uma vez que ninguém jamais conseguiria “dar o sol” ou “entregar o mar” em troca de um coração.

Segundo o dicionário Houaiss, a expressão “licença poética” pode ser definida como “liberdade de o escritor utilizar construções, prosódias, ortografias, sintaxes não conformes às regras, ao uso habitual, para atingir seus objetivos de expressão”. Assim, a licença poética é um “erro” proposital do autor que tem como ideia, aludir seus sentimentos à alguma coisa intangível para, paradoxalmente mostrar a dimensão do que sente.

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Veja este outro exemplo no poema de Clarice Lispector:

SAUDADE

Saudade é um pouco como fome. 
Só passa quando se come a presença. 
Mas às vezes a saudade é tão profunda 
que a presença é pouco: 
quer-se absorver a outra pessoa toda. 
Essa vontade de um ser o outro 
para uma unificação inteira 
é um dos sentimentos mais urgentes 
que se tem na vida.

Quando ela escreve “ só passa quando se come a presença” expressando o que é saudade comparada à fome. No trecho que diz: “quer-se absorver a outra pessoa” ela compara uma saudade tão profunda que traz uma vontade muito grande de não deixar a pessoa em outro lugar que não seja dentro de si. A licença poética, permite ao autor, navegar pelas palavras, desviando das regras ortográficas. O que que deixa textos que exercem essa pratica, mais líricos muito bonitos e capazes de instigar a imaginação.

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Exemplo de desvios das regras ortográficas:

No verso do poema de Mário Quintana abaixo está bem claro que licença poética nada tem a ver com desconhecimento das regras ortográficas tanto que o poeta parece brincar com a concordância para mostrar que a licença poética pode ser muito romântica. Nesta frase:

Meu primeiro amor sentávamos…

O verbo (sentar) deveria concordar como o sujeito (meu primeiro amor) e segundo a norma culta da língua portuguesa o correto seria: “sentava” ao invés de “sentávamos”. Porém, o poeta quis brincar com o plural e o fez de maneira singular (perdoe o trocadilho). Desta maneira, ele projetou a imagem de um casal numa cena com única pessoa e muitos sentimentos.

A licença poética e a publicidade

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Um exemplo muito criativo de licença poética está num anúncio de uma funerária que prometia sortear um automóvel para os clientes que contratassem o seu plano. Fizeram um jingle brincando com o prêmio (carro) e o “produto”. A letra dizia assim:

“O celta te esperando”.

Um ator vestido de anjo cantava este refrão:

“O céu está te esperando… O céu está te esperando”.

Então, mostravam um veículo modelo Celta e umas nuvens fazendo alusão ao céu. Ficou bem engraçado e criativo: “O celta te esperando… o Celta te esperando no sistema funerário.”

As novelas

Quando uma novela conta determinada história ambientada em outro país e eles falam nossa língua, é a licença poética sendo usada para que não haja desinteresse do publico que, possivelmente, não entenderia diálogos em outros idiomas. Portanto, fica mais agradável assistir ouvindo em nossa língua.

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Inteligentes erros propositais

Então, para concluir, a licença poética nada mais é do que a intenção de o autor/poeta chamar a atenção para determinado ponto, “errando” propositalmente, para que sua mensagem seja passada de uma maneira muito inteligente e criativa.

A licença poética é a liberdade que ele tem para mostrar que domina tanto as palavras que pode brincar com elas de uma maneira lúdica, criativa e muito sagaz.

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