Ceticismo: o que é, origem, classificação e variações

Do grego sképsis, a palavra ceticismo significa “exame ou investigação”. Então, o estudo dessa corrente filosófica se ocupa em questionar os fenômenos. Entenda.

Corrente filosófica caracterizada, principalmente, por questionar todos acontecimentos, opiniões e crenças que perpassam a existência humana e tidas como verdades, o ceticismo foi fundado pelo filósofo grego Pirro (318-272 a.C.).

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Essa noção foi revisitada ao longo da história por outros filósofos, tomando conceitos mais abrangentes e ganhando novas vertentes. Vamos esmiuçar o significado de ceticismo e conhecer essas vertentes?

O que é ceticismo

Do grego sképsis, a palavra ceticismo significa “exame ou investigação”. Então, podemos inferir que o estudo dessa corrente filosófica se ocupa em questionar os fenômenos que nos rodeiam. Em outras palavras, o ceticismo implica um constante estado de dúvida.

Esse estado de dúvida está voltado, sobretudo, para crenças, opiniões e pensamentos tidos pelo senso comum como verdades. Desse modo, essa corrente assume que não é possível atingir, tampouco admite, a certeza absoluta a respeito de uma verdade ou conhecimento específico.

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Então, o principal preceito do ceticismo se baseia em não reconhecer a existência de dogmas, fenômenos religiosos ou metafísicos. Tudo o que é apresentado ao cético é questionado e escrutinado.

A partir desse entendimento, os adeptos dessa corrente consideram que a felicidade consiste em não julgar coisa alguma, aceitando o contexto como ele é, sem emitir opiniões sobre ele. Esse estado é chamado de afasia.

Ao alcançar este ponto, onde acredita-se que manteríamos uma posição neutra sobre as questões que nos cercam, chegaríamos ao estado de ataraxia, no qual o cético não se preocupa com esses dogmas e pensamentos. Somente nesse estado que essa corrente filosófica considera que seríamos capazes de sermos felizes.

No extremo oposto do ceticismo, temos o dogmatismo. Trataremos desse ponto mais ao fim do texto. Vale mencionar que, hoje em dia, o termo ceticismo é usado para se referir a postura ou pessoas que duvidam de tudo e não acreditam em nada; de quem é descrente/incrédulo.

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Origem do ceticismo

Há muito tempo atrás, no período que conhecemos hoje como a Grécia Clássica, um pintor chamado Pirro de Elis passou a ter contato com a filosofia por meio das obras desenvolvidas por Demócrito.

Depois de anos de viagem, acompanhando as incursões de Alexandre Magno, tendo contato com várias culturas, costumes, doutrinas e o misticismo de pensadores das regiões da Índia e da Pérsia, Pirro passou a questionar suas convicções.

E por meio dessas experiências, o filósofo chegou à “conclusão” de que não há verdade absoluta, certo ou errado, bom ou ruim, desenvolvendo uma postura questionadora perante a vida. A partir desse conhecimento foi desenvolvido a escola de pensamento chamada “pirrorismo”.

Contudo, além de Pirro, outros pensadores contemporâneos também são considerados céticos, como Carnéades, que defendeu a impossibilidade de certeza do conhecimento e Sexto Empírico, que foi apresentado como a maior autoridade do ceticismo da Grécia.

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Apesar da relevância dos pensamentos de Pirro, aparentemente, ele não deixou nenhum registro escrito sobre o assunto. Conhecemos suas ideias graças ao trabalho do seu discípulo Tímon de Fliunte, que produziu muitas obras escritas sobre ele, das quais atualmente temos somente alguns fragmentos.

Então, dentro do pirrorismo temos duas concepções básicas:

  • Acatalepsia: esse termo diz respeito a inviabilidade de compreender as coisas em sua totalidade e a impossibilidade de sermos apegados ideias tidas como verdades absolutas. Essa palavra é usada no ceticismo para expressar que as coisas não passam de ilusão; e
  • Epoché: essa palavra grega corresponde ao ato de suspender o julgamento sobre as coisas. Esse conceito está vinculado a ideia de que o cético não deve se apegar a verdade de um evento, mas sim se abster e não julgar. 

Enquanto corrente de pensamento, o ceticismo considera que não é possível estar certo sobre a verdade absoluta de nada. Portanto, é necessário estar em constante questionamento sobre tudo.

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Esta premissa de questionar todos os fenômenos e crenças em uma verdade ou conhecimento absoluto faz com que o ceticismo se oponha a correntes filosóficas, como o Estoicismo e Dogmatismo.

Ao longo dos anos, o ceticismo se dividiu em duas linhas de abordagem e reflexão: o filosófico e o científico. O primeiro, que teve origem na Grécia e baseava-se na negação da validade fundamental de algumas correntes ou teses filosóficas.

Depois de Pirro, a escola cética passou por um período de “esquecimento”, sendo retomado por Enesidemo e outros nomes de destaque são Agripa, Sexto Empírico e Antíoco de Laodicéia. Essa escola é chamada de Ceticismo Antigo.

Muitos anos depois, século XVIII, no período do Renascentismo e da Revolução Francesa, essa ideia foi recuperada pelos filósofos Montaigne e David Hume, se expandindo com a “Nova Academia”.

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Classificação do ceticismo

Existem duas maneiras de classificar o ceticismo: moderado ou exagerado. A primeira considera o estado de dúvida como fundamento, isto é, que é racional, razoável e correto que uma pessoa faça questione determinada ação ou ideia.

Além disso, também é tido como ceticismo moderado, a dúvida usada como uma forma de se chegar ao conhecimento. O filósofo René Descartes desenvolveu pensamentos sobre o uso do questionamento para alcançar determinado entendimento, os escritos dessas ideias são conhecidos como dúvida cartesiana.

Esse trabalho de Descartes consiste no ceticismo metodológico, que possuem grande importância histórico-científica para compreender a busca pelo conhecimento verdadeiro a respeito da natureza das coisas.

Em contrapartida, o ceticismo exagerado diz respeito ao estado da dúvida que, quando aplicado no dia a dia de forma excessiva, pode chegar a atrapalhar a evolução da vida das pessoas. Também é tido como exagerado o contexto onde uma pessoa duvida, apenas por duvidar, sem nenhum motivo para tal.

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Ceticismo absoluto e relativo

Assim como muitos conceitos filosóficos, o ceticismo pode ter graus de intensidade, sendo eles: relativo e absoluto. O segundo foi criado por Górgia, um retórico e filósofo grego considerado niilista, que pondera sobre a não possibilidade de conhecer a verdade, dado que podemos ser enganados pelos nossos sentidos.

Desse modo, podemos inferir que tudo é considerado uma ilusão. Em contrapartida, o ceticismo relativo não é categórico em negar a possibilidade de conhecer a verdade, ele a nega somente e parcialmente a possibilidade do conhecimento absoluto, mas acredita que  possa ser alcançado.

Algumas das correntes que possuem ideias do ceticismo relativo são: pragmatismo, relativismo, probabilismo e subjetivismo, por exemplo.

Ceticismo antigo

Diferentemente da noção generalista de que o ceticismo considera que não existe uma verdade inquestionável, o chamado ceticismo antigo questionava se o ser humano conseguiria chegar a uma conclusão inquestionável.

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De acordo com os pensadores dessa corrente filosófica, o que não existe é um critério estabelecido para se chegar a qualquer conclusão sobre a verdade em si. Isso seria a motivação do ser humano evitar questionamentos, dado que a falta de uma verdade absoluta por geral um estado de caos social.

Mas é importante entender que o estado de dúvida não exclui a necessidade de continuar a investigar e estudar os fenômenos que nos rodeiam. Os céticos reconheciam que era necessário manter a busca pelo conhecimento sobre o mundo.

De acordo com o fundador da escola, a humanidade gasta muito tempo na busca por essas verdades absolutas, sendo que, no momento em que acreditamos tê-la encontrado, estamos apenas sob efeito de algum tipo de ilusão passageira. Portanto, essa era uma busca inatingível.

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Então, para Pirro, devemos separar a nossa vontade de conhecer e estudar as coisas, de uma vontade uma verdade definitiva. O estímulo pelo conhecimento deve ser baseado somente em entender as coisas como elas se apresentam no presente.

Apenas dessa forma, quando não emprenhamos em procurar uma verdade absoluta, que essa corrente filosófica acredita que é possível chegar algum estado de paz interior que nos levaria à felicidade.

Ceticismo na filosofia

O ceticismo filosófico foi desenvolvido no período helenístico, baseado nas concepções de Pirro de Elis e seu discípulo Tímon. De forma bem simples, essa corrente consistia em negar que houvesse validade fundamental em algumas ideias e credos filosóficos.

Essa corrente de pensamento, que tem como principal característica a desconfiança sobre os ensinamentos gerais, vai de encontro às ideias propagadas por Platão, Aristóteles, Epicuro e Zenão de Cítio, que baseavam seus pensamentos no pressuposto de haver uma verdade universal.

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Segundo a teoria cética, a verdade não existe. Mas ao refletir sobre essa premissa, podemos chegar a uma sensação de paradoxo com essa corrente filosófica. Por isso, os pensadores dessa corrente passaram a considerar mais apropriado considerar o levantamento de hipóteses sobre a verdade.

E para manter o estado de neutralidade, princípio importante do ceticismo, onde não declaramos que determinada ação, ideia, manifestação ou dogma é legítimo ou falso, para tal deve-se permanecer em estado de dúvida.

Devido a premissa da dúvida e do questionamento, a ceticismo filosófico desenvolvido por Pirro se expandiu no período da “Nova Academia”, no renascentismo, ampliando suas perspectivas teóricas e refutando verdades absolutas, para ser aplicada no processo científico.

Tendo como base o entendimento de que não é possível alcançar o conhecimento total, os seguidores dessa corrente filosófica adotaram métodos empíricos para confirmar seus conhecimentos.

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Ceticismo religioso

Depois de tudo o que vimos até aqui, parece um tanto contraditório dizer que haja um ceticismo religioso, dado que o ceticismo é tido como uma postura contrária à fé, dado que essa é dogmática e se baseia na noção de uma verdade absoluta e inquestionável.

Contudo, podemos considerar que o ceticismo religioso parte da premissa que questiona e duvida das tradições e cultura religiosa. Além disso, seus pensadores discutem as noções e ensinamentos passados pelas religiões.

Ceticismo científico

O ceticismo científico está naturalmente ligado com o ceticismo filosófico, no qual todas as outras ramificações do ceticismo se baseiam. Contudo, é importante saber que as duas não são idênticas e que praticantes do ceticismo científico não apoiam as proposições da corrente filosófica.

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As pessoas que se identificam com a corrente científica contemporânea do ceticismo costumam ser indivíduos que possuem um posicionamento questionador, na maior parte das vezes, baseado no pensamento crítico.

Elas consideram métodos científicos para comprovar a validade das coisas ou apresentar argumentos que as comprovem ou neguem. Nesse cenário, a evidência empírica ganha muita importância, mas isso não quer dizer que seja um recurso recorrente dos céticos.

Na verdade, a demanda por essas evidências é mais recorrente na área da saúde, na qual os experimentos implicam um risco de vida para as pessoas.

Dentro da corrente científico-cético, existem os chamados desenganadores. Esses se dedicam à combater o charlatanismo, por meio da exposição de práticas falsas, não científicas e incoerentes.

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Para além desses, existe o pseudo-ceticismo, que atravessa o estágio do estado da dúvida e questionamento partindo direto para o estado de negação. Nesse caso, o ceticismo pode desencadear um ciclo vicioso, tornando seu praticante um fanático tecnológico.

Dogmatismo e ceticismo

O filósofo Immanuel Kant declara que o ceticismo e o dogmatismo são duas correntes filosóficas opostas. Mas, por quê? Primeiro vamos entender do que se trata um pensamento e uma postura dogmática.

O dogmatismo é mais entendido como uma postura, mas também pode ser uma doutrina (ou conjunto de doutrinas). A postura dogmática argumenta que existem postulados (verdades) inquestionáveis.

Em outras palavras, o dogmático considera que alguns posicionamentos, sejam eles morais, epistemológicos ou religiosos, são eternos, imutáveis e rigorosamente inquestionáveis. Ou seja, eles simplesmente não cabem no espectro da crítica e do questionamento.

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Logo, enquanto o dogmatismo é fundado no não questionamento e crítica de suas verdades, o ceticismo compreende uma atitude natural de dúvida em relação a essas verdades ou a possibilidade de haver questões filosóficas que não possam ser concluídas de forma definitiva.

Podemos perceber a presença dos dogmas nas religiões, por exemplo, nas quais podem haver praticante que não questionam em hipótese algumas sobre os princípios que as regem, seguindo tudo o que foi estabelecido sem duvidar da verdade delas.

Para os dogmáticos o ser humano é capaz de obter a verdade absoluta e eterna sem questionamento, aceitando como verdadeiro tudo o que existe e pode ser percebido pelos sentidos.

Ao passo que os céticos duvidam de tudo o que lhes é apresentado como verdade e não reconhecem a existência de dogmas, fenômenos religiosos ou metafísicos. Para os pensadores do ceticismo o estado de dúvida é um indício de sabedoria, sendo a renúncia de qualquer certeza a condição para a felicidade.

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Vídeos sobre ceticismo

Pirro e o ceticismo

Você lembra do fundador da corrente filosófica do ceticismo? Então, nesse vídeo do canal Filosofia na Escola retomamos as origens dessa corrente de pensamento e ampliamos algumas noções conceituais como “epoché”, que fundamenta essa escola filosófica, por meio de exemplos e proposições. Dê uma conferida.

Ceticismo – Luiz Felipe Pondé

O professor e filósofo Pondé, além de retomar conceitos, faz um breve panorama histórico sobre o ceticismo, trazendo também provocações sobre como essa corrente filosófica pode ser percebida em alguns posicionamentos do nosso cotidiano.

Michel de Montaigne e o ceticismo / Filosofia Moderna / História da Filosofia

Nesse vídeo, o professor Vitor Lima faz um breve estudo sobre a vida e, sobretudo, a forma de pensamento do filósofo cético Michel de Montaigne. Esse filósofo possui uma grande influencia na história moderna graças a questionamentos que foram levantados por ele, como a questão da consistência do homem e suas ações, sobre a fluidez do Eu.

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